17/01/2014

NINFOMANÍACA

O cartaz mais pertinente.

Lars Von Trier ocupa relativamente o posto de meu diretor favorito. Suas obras nunca me deixam indiferente. E mesmo que a maior parte delas tenha me destruído, sempre é uma montanha-russa, uma roleta-russa, uma salada-russa de sensações (ele não é russo, é dinamarquês, só para lembrar).

Algumas delas como Anticristo eu vi uma vez, amei, e não quero ver nunca mais. Outras como Melancolia eu veria seguidamente. Adoro Os Idiotas, Dançando no Escuro, Dogville, O Grande Chefe. Acima de tudo, admiro esses poucos artistas que conseguem manter sua autoria, sua visão particular (ou negativa, no caso dele) de mundo e ainda assim terem um respeito universal.

Mas, como grande esnobe, já me preparava para desdenhar Lars Von Trier com a recepção de seu "filme pornô".

Ele já fez documentário (os filmes Dogma), musical (Dançando no Escuro), teatro (Dogville/Manderlay),
faroeste (Querida Wendy), comédia (O Grande Chefe), terror (Anticristo) e sci-fi (Melancolia) , sempre, claro, subvertendo e expandindo as regras do gênero. Se for para apostar num próximo, eu diria que ele vai fazer um filme infantil. E estava curioso, ainda que não ansioso para ver como ele subverteria as regras do pornô...

Digo não ansioso porque boa parte dos filmes de Von Trier me fazem tão mal, ainda que eu goste tanto, que eu poderia esperar mais um tempo por elas. Via os amigos baixando traillers, discutindo a trama, eu só pensava: "Porra, espero que esse filme não saia tão cedo."

Mas infelizmente tenho de encarnar o masoquista a dizer: "Infelizmente a porrada não veio."

Fui ver o filme só hoje, entrando na segunda semana. Tentei duas vezes antes e a sala estava lotada. Quando entrei hoje em plena quinta-feira no cinema (lotado), comecei a pensar em qual era esse fenômeno que aproximava Von Trier de Spielberg. Era o SEXO o efeito especial orgânico insuperável?

Quando o filme começou com trilha de Ramstein (uuuuh, Von Trier querendo ser mau) e pouco depois com Stepenwolf (uuuuuuh, querendo ser radical) pensei que a coisa iria de vez para um divertimento Multiplex. Mas nem isso.

 A história, para quem não sabe, é que a Charlotte Gainsbourg é encontrada fodida (literalmente) num beco pelo Stellan Skarsgard, que a leva para casa e pergunta sua história. Daí ela começa a provar como é bad girl.

Ninfomaníaca (Volume 1) é um filme brochante de sexo, pelas razões erradas. Eu já esperava que fosse ser cruel, pesado, agressivo, talvez nojento, mas não é nada disso. É um filme inócuo, chato, carregado de lugares comuns.

O cinema (Frei Caneca) estava lotado (numa quinta-feira) de gente comendo pipoca, falando alto, mandando mensagens no celular.

Talvez aqui seja pertinente fazer uma observação social e mandar de vez um bando de Gremlins fazer um rolezinho numa sessão em que esteja assistindo a Eliane Brum. Os oprimidos que sempre foram relegados a Homem de Ferro agora decidem invadir os espaços dos cultões e assistir Lars Von Trier falando alto e comendo pipoca. É o rolezinho chegando às cinematecas, para os excluídos que não querem só Mizuno. Ironias à parte, foi isso que eu vivi esta quinta-feira.

E Ninfomaníaca faz juz ao título de "Lars Von Trier for Dummies".

É chato, cansativo, brochante. Entendo e aprecio a ironia do diretor. O texto não pode ser lido literalmente, porque soa falso. Como em filmes anteriores, é uma grande fábula, alegoria... mas precisa usar imagens tão gastas? Compara-se o andar de um homem com um gato, flertar com pescar; em determinado a protagonista diz: "não se pode fazer um omelete sem quebrar os ovos." Porra, pode ser MAIS clichê?

Sei que já fico armado para desgostar de algo quando todo mundo comenta, é um traço esnobe inescapável. Mas meu bocejo não me engana. Assisti Ninfomaníaca ansioso pelo fim, agradecendo por ter sido dividido em duas partes, e isso de um diretor que tanto amo e TEMO.

Ninfomaníaca não me perturbou, não me trouxe nada novo, nem de longe me excitou. Se é pra dizer algo de positivo, gostei da cena com a Uma Thurman, que descamba de vez para o cinismo e a comédia... mas nem gostei tanto assim.

Claro, é só metade. Talvez ele tenha sido prejudicado por isso. A segunda metade do filme só estreia daqui a alguns meses, e eu certamente irei ver. Já espero que seja a "metade pesada", mas também não espero muito. Não tenho mais medo. Tenho certeza de que o cinema não estará mais tão cheio de gente desavisada. E isso já será ótimo.





MESA

Neste sábado, 15h, na Martins Fontes da Consolação, tenho uma mesa com o querido Ricardo Lisias . Debateremos (e relançaremos) os livros la...