Resenha minha publicada na Folha desse final de semana.
Linda, loira, influente e premiada, Jennifer Egan parece ser a encarnação perfeita da escritora norte-americana contemporânea de sucesso. Suas obras refletem isso, invariavelmente trazendo uma visão crítica do mundo dos ricos e famosos, como em "A Visita Cruel do Tempo", ganhador do Pulitzer.
"Olhe para Mim" é um romance anterior, de 2001, mas que já habitava esse universo e trazia uma estrutura semelhante, alternando o foco narrativo entre diversos personagens.
O foco principal (e mais interessante) desse está em Charlotte, uma modelo decadente que sofre um acidente de carro e tem seu rosto reconstituído. Ainda bela, mas irreconhecível, tem de recomeçar na carreira aos 35 anos de idade, passando por toda uma sordidez que ela já não suporta mais.
A premissa é apetitosa e gera momentos cruéis, que carregam a maior bandeira do livro, de crítica ao mundo das aparências.
A outra metade do livro é dividida entre uma série de personagens relacionados ao passado de Charlotte, que nem sempre se desenvolvem e só pretendem cumprir a função de trazer "pessoas comuns" ao leitor, formando uma prosa virtuosa e esquizofrênica. Liberta dessa tendência macro-narrativa, Egan poderia gerar uma série de contos e novelas de impacto mais certeiro.
A escolha do que se critica já revela ao que se dá importância. E Egan parece estar se firmando como uma crítica do banal. Habilidosa, inteligente e eficiente, segue uma sólida tradição americana, com um texto estruturado com a maestria de quem fez o dever de casa, mas que pessoalmente não tem muito o que dizer.
Uma espécie de Brett Easton Ellis sem lasers, seu olhar é antenado e por vezes visionário —o livro é de 2001 e já antecipava várias correntes atuais dos reality shows. Ela vê o que está aparente, mas não traz um universo novo.
Se a intenção é ter uma ótima previsão crítica sobre os tempos atuais, ponto para ela. Se a intenção é mergulhar no universo próprio de um autor, olhe para outro lado. "Olhe para Mim" é alta literatura artificial a serviço da superficialidade.
Avaliação: Ruim.