Lia hoje sobre a atual polêmica do Boticário, boicotado pelos evangélicos por apresentar um casal gay em sua campanha de dia
dos namorados. Voltou também a discussão do conceito de “família”, sendo
formado apenas por homem e mulher. Nesses temas, sempre chovem comentários da
crentaiada toda, um povo que nunca teve acesso à educação, mas que agora tem
internet e poder de consumo (e de boicotar).
“É por isso que o Brasil está assim, sem valores”,
pregam alguns que vêem a aceitação da homossexualidade como um sintoma de
decadência moral do país. Gente certamente que não viajou muito, não parou para
pensar que a aceitação da homossexualidade é coisa de país rico, de primeiro
mundo.
Um amigo gay militante falou em “emburrecimento”
da população. Não acho que a população esteja mais burra – é só que os
ignorantes agora têm mais meios para se expressar. “Deus criou Adão e Eva, não
Adão e Ivo”, é um clichê repetido à exaustão. O clichê mais óbvio nunca é
cogitado: “Deus não existe.”
Sou ateu, sem convicção. Não acredito em Deus, mas
não tenho certeza de que Deus não exista – como poderia ter? Acima de tudo,
acho muita soberba do ser humano tentar entender o seu “criador”, se é que há
um criador. Se Deus existe, está muito bem escondido - talvez prefira ficar
assim. Se o ser humano foi “criado” por alguém, como pode procurar entender
esse ser? Pode ser uma criação de laboratório, alienígenas, forças
desconhecidas – o que me parece óbvio é que se algo foi capaz de criar a vida,
não pode ser explicado por ela.
Venho de família católica, mas nunca fui batizado.
Meus pais nunca acreditaram, e sabiamente se abstiveram de batizar os filhos,
já que não iriam hipocritamente seguir os rituais (ao contrário de tantas
famílias que batizaram apenas para seguir a tradição de batizar). Estudei em
boas escolas. Li bons livros. Pude entender um pouco que a ideia de religião,
Deus, Jesus e tantos outros muda conforme a época, conforme o interesse. A
Bíblia pode ser interpretada de diversas maneiras.
Sei que é certo preconceito – há grandes
pensadores com crença religiosa – mas, para mim, de antemão, se o cara acredita
em Jesus-Deus-Bíblia, eu já fico com pé atrás. Já acho que é um coitadinho
suburbano que cresceu sem uma boa escola, que teve a educação e o lazer
centralizados na igrejinha da rua. É como um adulto que ainda acredita em Papai
Noel. Aliás, se o cara acredita em Jesus, tem de acreditar em Inferno, não?
Então o cara acredita num diabo chifrudo queimando pessoas... Acredita em
possessão, exorcismo? Acredita também em lobisomens? Bem, certamente acredita
em fantasmas, não? Acreditar em Jesus não obriga que se acredite em fantasmas,
zumbis? Enfim, é um adulto que acredita em contos de fadas.
Os que acreditam cegamente... tapam os olhos para
os próprios pecados. Tanto moleque comentando por aí que gay vai queimar no
inferno, que ser gay é errado. Deve ser tudo virgem, né? Claro. Porque transar
antes do casamento é pecado... Por sinal
sexo oral também, não? Já que não reproduz... Isso sem mencionar tantos e
tantos outros pecados citados na Bíblia e cometidos diariamente por todos, tipo
usar roupas com tecidos diferentes, cortar a barba, etc, etc. Enfim, é uma
condenação seletiva. Sinceramente, a Bíblia é só uma desculpa que esse povo usa para outros problemas que tem com a
homossexualidade.
Não tenho certeza nenhuma. Não tenho certeza de
que Deus, Jesus, nem coelho da Páscoa não existam. Só acho que que cobrar uma fé cega, irracional, é burrice. Devemos cada um fazer o
melhor, seguindo o puro bom senso, educação. Acreditar é o de menos. Se Deus
existe, ele não precisa que acreditemos nele.