28/06/2015

NORA WEBSTER

Resenha do livro de Colm Tóibín, que assinei na Folha deste final de semana:


Narrativas de luto frequentemente pendem para o melodrama, como uma

necessidade de expurgo, tanto para o autor que as arquiteta quanto para o leitor

que as busca. O texto alcança um patamar superior quando consegue transmitir a

dor através de imagens sutis, aproximando-se do vazio da perda. Essa é uma

conquista inegável de Nora Webster, romance mais recente do irlandês, Colm

Tóibín, que estará no Brasil novamente na Flip, na próxima semana.


A protagonista-título é uma mulher de quarenta e poucos anos que

perdeu recentemente o marido, vítima de uma doença terminal que se prolongou

por meses. Enquanto situa-se na viuvez, Nora ainda tem de buscar meios de

sobreviver e criar os filhos, dois meninos em idade escolar e duas meninas que já

caminham para a independência. Letárgica, é guiada pela comunidade onde vive

no sudeste da Irlanda dos anos 1960, tendo sua vida e a criação dos filhos

decidida por todos que a cercam. Ela volta a trabalhar, estabelece novas relações

de amizade e redescobre o prazer pela música, porém sempre flutuando alheia

pelos acontecimentos.


O resultado pode ser visto como um romance muito delicado, mas que

resvala no insosso. A banalidade do cotidiano é justificada de maneira inteligente

pela apatia da personagem diante da vida, porém na prática o que se está

narrando é um cotidiano banal. E se por um lado a compreensão da alma

feminina por Tóibín impressiona, não deixa de ser um “livro de mulherzinha”.


“Nora pôs o disco para tocar e examinou a fotografia da capa, olhou os

homens com seu aspecto moreno e depois a jovem entre os dois, que parecia mais

feliz quanto mais ela a observava.” Passagens como essa pessoalmente me

fizeram gritar por mais sangue! Sabor! Testosterona!  No final, me pareceu um

exemplo clássico de romance que seria mais legal se fosse pior. Ou concluo da

mesma forma dizendo: é bom, mas é chato.

Avaliação: regular

NESTE SÁBADO!