Resenha do livro de Colm Tóibín, que assinei na Folha deste final de semana:
Narrativas de luto frequentemente pendem para o melodrama, como uma
necessidade de expurgo, tanto para o autor que as arquiteta quanto para o leitor
que as busca. O texto alcança um patamar superior quando consegue transmitir a
dor através de imagens sutis, aproximando-se do vazio da perda. Essa é uma
conquista inegável de Nora Webster, romance mais recente do irlandês, Colm
Tóibín, que estará no Brasil novamente na Flip, na próxima semana.
A protagonista-título é uma mulher de quarenta e poucos anos que
perdeu recentemente o marido, vítima de uma doença terminal que se prolongou
por meses. Enquanto situa-se na viuvez, Nora ainda tem de buscar meios de
sobreviver e criar os filhos, dois meninos em idade escolar e duas meninas que já
caminham para a independência. Letárgica, é guiada pela comunidade onde vive
no sudeste da Irlanda dos anos 1960, tendo sua vida e a criação dos filhos
decidida por todos que a cercam. Ela volta a trabalhar, estabelece novas relações
de amizade e redescobre o prazer pela música, porém sempre flutuando alheia
pelos acontecimentos.
O resultado pode ser visto como um romance muito delicado, mas que
resvala no insosso. A banalidade do cotidiano é justificada de maneira inteligente
pela apatia da personagem diante da vida, porém na prática o que se está
narrando é um cotidiano banal. E se por um lado a compreensão da alma
feminina por Tóibín impressiona, não deixa de ser um “livro de mulherzinha”.
“Nora pôs o disco para tocar e examinou a fotografia da capa, olhou os
homens com seu aspecto moreno e depois a jovem entre os dois, que parecia mais
feliz quanto mais ela a observava.” Passagens como essa pessoalmente me
fizeram gritar por mais sangue! Sabor! Testosterona! No final, me pareceu um
exemplo clássico de romance que seria mais legal se fosse pior. Ou concluo da
mesma forma dizendo: é bom, mas é chato.
Avaliação: regular