A banda Sasha Grey as Wife acaba de lançar disco
novo, com o pomposo nome de “Ashtar Sherran I: Terra”. A banda é projeto de um
homem só, Júlio Victor, de Volta Redonda, com participação de mais de trinta músicos
e artistas, eu entre eles.
Júlio. |
Não conhecia o som dele, mas ano passado ele aparece na minha caixa de mensagens do Facebook me pedindo uns versos e uma locução para uma das faixas do disco a ser lançado, baseada em BIOFOBIA. Me mandou uma demo, gostei bem do que ouvi e sofri para escrever e gravar algo com minha voz sofrida.
Das cinzas ao pó
Do pó se brota
Sementes irrompendo da terra
Cogumelo rompendo da bosta
Se a natureza é mãe, é má
A natureza é madrasta
Para se adestrar a mata
É preciso poder, é preciso podar
Derramar sangue, suor e ter fé
Fé no Inferno
“Biofobia –
Freak Fiction” é apenas uma das onze faixas que fazem parte desse novo
trabalho, que mistura pós-punk, shoegazer e metal com spoken Word. E o álbum é
ÓTIMO.
Além de grande guitarrista e compositor, Júlio Victor é um
poeta. Se pouco se pode compreender do que ele canta em inglês, as declamações
em português são incríveis, como em “Iphone Simulator 97” em que ele despeja
rajadas sobre uma ex-pretendente ou em "Trans Crux" em que ele faz uma crítica mordaz à religião em crônicas cotidianas.
Fiquei orgulhoso de fazer parte do disco. Mais do
que ser reconhecido pelos consagrados, é lindo ver que estou ecoando em novos
talentos. Significa que a coisa permanece e pode ir além...
O disco pode ser ouvido na íntegra aqui: Sasha Grey
Não é a primeira vez que participo de uma dessas. Minhas
parcerias com amigos queridos da MPB (Arthur Nogueira, Thiago Pethit, Filipe
Catto), nunca saíram do papel, mas já tive boas experiências no meio
alternativo, como letra e locução no disco da extinta banda de metal Last Pain (“Drama
Queen”) e, claro, a letra de “Mastigando Humanos”, para o primeiro disco solo
do pós-emo Daniel Peixoto, que acabou sendo batizado por mim.
Engolindo o
underground
de Artur
Alvim a Ana Rosa
se a morte é
inevitável
que então
seja saborosa
Lipídios,
glicídios, suicídios na minha janta
Mendigos,
meninos, bem-vindos à garganta.
Mastigando
Humanos
Mastigando,
hermanos
Mastigando,
manos
Mastigando
Se o crime é
arriscado,
mesmo pra
forrar despensa
Abra a boca
e feche os olhos
no fim, o
creme compensa
Já dizia
titio Freud,
tudo é sexo,
tudo é oral
Para um
réptil como eu
rastejar não
é tão mal
Lipídios,
glicídios, suicídios na lancheira
Carpaccio,
cachaça, canudos na carreira.
Mastigando
Humanos
Mastigando,
hermanos
Mastigando,
manos
Mastigando
Minha relação com a música é mais profunda do que
meu talento musical, infelizmente. Estudei piano na adolescência, e cheguei a tocar teclado
numa banda de glam rock no final dos 90, entre os 19 e os 21 anos. Lá eu só
compunha melodias – mas a banda estava longe de ser boa, é claro. Depois segui
num projeto solo, uma espécie de proto-Tetine, que era pior ainda. Mas me
orgulho das gambiarras que fazia na época. Com um teclado Yamaha, vários cabos
e um gravador analógico em K7, eu conseguia gravar músicas com vários canais
vocais... bem, se é que se podia chamar aquilo de “músicas”.
Eu, pianinho. |
Minha experiência mais profissional na música foi
como compositor de jingles. Ao menos, fui pago por isso e as músicas foram ao
ar nas maiores rádios do Rio Grande do Sul. Quando trabalhava como redator
publicitário em Porto Alegre (entre 2000 e 2002) criei algumas dezenas de
letras de jingles para Zero Hora, Telefônica Celular, Leite Elegê. Era o que me
dava mais prazer naquele trabalho, apesar de todas as limitações do formato. Ainda
tenho os jingles em MP3. Eles entram
como merchans no shuffle do meu iPod.
O mundo não
para quando você está de férias
Cultura, economia,
diversão e coisas sérias
No carro, na
praia ou na beira da piscina
No litoral
gaúcho ou de Santa Catarina
O mundo gira,
não dá pra ficar de fora
O mundo
viaja com a sua Zero Hora
O mundo gira,
não dá pra ficar de fora
O mundo
viaja coma sua Zero Hora
Locução: Neste verão, receba Zero Hora também no
Litoral.
Ligue XXXXXXXX e assine.
Ou
Não se sinta
só se está sozinho
Se estou
longe estou a caminho
Perto, estou
bem acompanhado
Sempre
caminhando ao seu lado
Nunca é
tarde se há um segundo
Temos todo o
tempo e todo o mundo
Conversando
mesmo sem assunto
Divertindo
ou trabalhando juntos
Olha pra
mim, se não me vê
Estou a um
alô de estar com você
Olha pra
mim, se não me vê
Estou a um
alô de estar com você
Locução: Telefônica Celular, a sua melhor
companhia.
E tem o melhor de todos... que acho que encerrou
minha carreira:
O bezerro
pasta, mas é o pardal que voa triste
Por não
poder mamar e viver comendo alpiste
O caranguejo
tem desejo de viver como um cão
Pra tomar
leite contente mas não é cachorro não
O peixinho
dourado não quer ser só enfeite
Quer ser
livre como um gato e poder tomar seu leite
Quem não
chora não mama, quem não mama quer beber
Um copo,
dois copos, três copos de leite Elegê.
Locução: Leite Elegê, até quem não é mamífero
gosta.
Tenho vontade de trabalhar mais com música. Comprar um teclado novo só para brincar. Escrever algumas letras. Mas nos tempos atuais a gente se concentra mais no que vai pagar o almoço de amanhã...
Sim, isso é real. Sim, isso foi publicado. |