07/02/2017

MINHA MÚSICA






A banda Sasha Grey as Wife acaba de lançar disco novo, com o pomposo nome de “Ashtar Sherran I: Terra”. A banda é projeto de um homem só, Júlio Victor, de Volta Redonda, com participação de mais de trinta músicos e artistas, eu entre eles.

Júlio. 

Não conhecia o som dele, mas ano passado ele aparece na minha caixa de mensagens do Facebook me pedindo uns versos e uma locução para uma das faixas do disco a ser lançado, baseada em BIOFOBIA. Me mandou uma demo, gostei bem do que ouvi e sofri para escrever e gravar algo com minha voz sofrida.

Das cinzas ao pó
Do pó se brota
Sementes irrompendo da terra
Cogumelo rompendo da bosta
Se a natureza é mãe, é má
A natureza é madrasta
Para se adestrar a mata
É preciso poder, é preciso podar
Derramar sangue, suor e ter fé
Fé no Inferno

 “Biofobia – Freak Fiction” é apenas uma das onze faixas que fazem parte desse novo trabalho, que mistura pós-punk, shoegazer e metal com spoken Word. E o álbum é ÓTIMO.

Além de grande guitarrista e compositor, Júlio Victor é um poeta. Se pouco se pode compreender do que ele canta em inglês, as declamações em português são incríveis, como em “Iphone Simulator 97” em que ele despeja rajadas sobre uma ex-pretendente ou em "Trans Crux" em que ele faz uma crítica mordaz à religião em crônicas cotidianas. 

Fiquei orgulhoso de fazer parte do disco. Mais do que ser reconhecido pelos consagrados, é lindo ver que estou ecoando em novos talentos. Significa que a coisa permanece e pode ir além...

O disco pode ser ouvido na íntegra aqui: Sasha Grey


Não é a primeira vez que participo de uma dessas. Minhas parcerias com amigos queridos da MPB (Arthur Nogueira, Thiago Pethit, Filipe Catto), nunca saíram do papel, mas já tive boas experiências no meio alternativo, como letra e locução no disco da extinta banda de metal Last Pain (“Drama Queen”) e, claro, a letra de “Mastigando Humanos”, para o primeiro disco solo do pós-emo Daniel Peixoto, que acabou sendo batizado por mim.

Engolindo o underground
de Artur Alvim a Ana Rosa
se a morte é inevitável
que então seja saborosa

Lipídios, glicídios, suicídios na minha janta
Mendigos, meninos, bem-vindos à garganta.

Mastigando Humanos
Mastigando, hermanos
Mastigando, manos
Mastigando

Se o crime é arriscado,
mesmo pra forrar despensa
Abra a boca e feche os olhos
no fim, o creme compensa

Já dizia titio Freud,
tudo é sexo, tudo é oral
Para um réptil como eu
rastejar não é tão mal

Lipídios, glicídios, suicídios na lancheira
Carpaccio, cachaça, canudos na carreira.

Mastigando Humanos
Mastigando, hermanos
Mastigando, manos
Mastigando




Minha relação com a música é mais profunda do que meu talento musical, infelizmente. Estudei piano na adolescência, e cheguei a tocar teclado numa banda de glam rock no final dos 90, entre os 19 e os 21 anos. Lá eu só compunha melodias – mas a banda estava longe de ser boa, é claro. Depois segui num projeto solo, uma espécie de proto-Tetine, que era pior ainda. Mas me orgulho das gambiarras que fazia na época. Com um teclado Yamaha, vários cabos e um gravador analógico em K7, eu conseguia gravar músicas com vários canais vocais... bem, se é que se podia chamar aquilo de “músicas”.

Eu, pianinho. 

Minha experiência mais profissional na música foi como compositor de jingles. Ao menos, fui pago por isso e as músicas foram ao ar nas maiores rádios do Rio Grande do Sul. Quando trabalhava como redator publicitário em Porto Alegre (entre 2000 e 2002) criei algumas dezenas de letras de jingles para Zero Hora, Telefônica Celular, Leite Elegê. Era o que me dava mais prazer naquele trabalho, apesar de todas as limitações do formato. Ainda tenho os jingles em MP3.  Eles entram como merchans no shuffle do meu iPod.

O mundo não para quando você está de férias
Cultura, economia, diversão e coisas sérias
No carro, na praia ou na beira da piscina
No litoral gaúcho ou de Santa Catarina

O mundo gira, não dá pra ficar de fora
O mundo viaja com a sua Zero Hora
O mundo gira, não dá pra ficar de fora
O mundo viaja coma sua Zero Hora

Locução: Neste verão, receba Zero Hora também no Litoral.
Ligue XXXXXXXX e assine.

Ou

Não se sinta só se está sozinho
Se estou longe estou a caminho
Perto, estou bem acompanhado
Sempre caminhando ao seu lado

Nunca é tarde se há um segundo
Temos todo o tempo e todo o mundo
Conversando mesmo sem assunto
Divertindo ou trabalhando juntos

Olha pra mim, se não me vê
Estou a um alô de estar com você
Olha pra mim, se não me vê
Estou a um alô de estar com você

Locução: Telefônica Celular, a sua melhor companhia.

E tem o melhor de todos... que acho que encerrou minha carreira:

O bezerro pasta, mas é o pardal que voa triste
Por não poder mamar e viver comendo alpiste
O caranguejo tem desejo de viver como um cão
Pra tomar leite contente mas não é cachorro não

O peixinho dourado não quer ser só enfeite
Quer ser livre como um gato e poder tomar seu leite
Quem não chora não mama, quem não mama quer beber
Um copo, dois copos, três copos de leite Elegê.


Locução: Leite Elegê, até quem não é mamífero gosta. 


Tenho vontade de trabalhar mais com música. Comprar um teclado novo só para brincar. Escrever algumas letras. Mas nos tempos atuais a gente se concentra mais no que vai pagar o almoço de amanhã...

Sim, isso é real. Sim, isso foi publicado. 

NESTE SÁBADO!