Em 2002, logo após assistir ao primeiro “O Chamado”
no cinema, fui pesquisar mais pela internet. Os tempos eram outros, e muitas
das informações sobre o filme vinham de blogs falsos, que diziam que a trama
era baseada numa história real (ou numa lenda urbana). Um dos blogs dizia ter
as imagens originais da fita que inspirou o filme – e alertava para o risco de
assistir.
Eu naturalmente assisti. Era um vídeo parecido,
mas diferente do que tinha visto no cinema, mais curto, com uma pegada mais
oriental. E quando o vídeo acabou, o telefone tocou.
Eram três horas da madrugada.
Eu estava na casa da minha mãe, ela atendeu no
quarto dela. No dia seguinte, perguntei se o telefone tinha mesmo tocado. Ela
confirmou, e disse que ninguém falou nada do outro lado.
Mais do que uma crença na maldição, na época fiquei
me perguntando se haveria possibilidade de o próprio site fazer uma coisa dessas,
hackear o número de quem havia dado play. Por via das dúvidas, passei o
vídeo para frente, claro.
Sete dias depois, ninguém morreu.
Não só por isso, “O Chamado” permaneceu para
sempre como um dos meus filmes de terror favoritos. Cheguei a comprar a versão
original japonesa, mas, talvez por ter assistido depois, não teve o mesmo impacto (ao
menos descobri que dela é que havia sido tirado o estranho vídeo que assisti
naquela madrugada). A versão americana tem suas falhas, claro; acho a maior
delas mostrar o rosto infantil da Samara, que deveria ter sido guardado apenas
para a cena demoníaca final. Mas o clima, a fotografia, a fita e a investigação
são imbatíveis.
Comprei também o romance que deu origem a tudo (traduzido para o inglês), de Koji Suzuki. É mais uma ficção científica metafísica do que terror; tem toda uma explicação sobre as ondas de vídeo, os males que causam. Além disso Sadako (a Samara japonesa) é uma ADOLESCENTE HERMAFRODITA, não uma criança demoníaca. É ler para crer.
Minha edição americana de "Ring", de Koji Suzuki. |
A continuação de 2005 não me empolgou em nada.
Detestei que abandonaram a premissa da fita e a ideia de que “Samara só precisa
de uma mãe”. As sequências orientais eu nunca assisti.
Agora chegamos ao terceiro filme
americano, que está sendo adiado há quase dois anos. “Rings” (que foi anunciado
aqui como “Chamados” e depois virou “O Chamado 3”) é uma bagunça. Faz jus ao
seu título brasileiro final, porque parece três filmes em um. Começa com uma
espécie de culto cyber de seguidores de Samara (que vão passando a maldição de
um para o outro) – uma ideia interessante, que derivou de um curta lançado
entre o primeiro e o segundo filme, chamado justamente de “Rings”. (Ele pode ser encontrado com o nome “Círculos” no box em DVD
com os dois primeiros filmes, lançado no Brasil.)
Entretanto essa seita é apenas um ponto inicial; dela o filme migra para mais uma investigação sobre o passado de Samara, com um
casalzinho totalmente sem carisma, que não descobre nada de interessante, com um roteiro tosco de doer. No
terceiro ato, o filme desanda de vez com um novo vilão. Sem dar muitos spoilers,
parece cópia de outro filme de terror recente e perde totalmente o rumo.
Enfim, só não é uma grande decepção porque eu já
esperava algo assim... Mas acho que esse consegue ser pior do que o segundo.
Alguns até eu me recuso... |
Falta agora uma nova grande franquia para o terror
americano. Nunca consegui me entusiasmar por “Atividade Paranormal” e menos
ainda por “The Conjuring” e seus derivados. “A Entidade” era um que prometia,
mas que também desandou na sequência. Quanto à Samara, parece que as sucessivas
cópias desgastaram de vez sua imagem.
Volta pro fundo do poço, menina... |