27/06/2017

OS MELHORES LIVROS DE TERROR DE TODOS OS TEMPOS



Dia desses rolava aquelas listas de “melhores filmes de terror” no FB. Já coloquei meus 20 aqui e poderia facilmente listar 30, 50... Então joguei o desafio dos dez LIVROS de TERROR - pouca gente conseguiu listar meia dúzia,. Muitos colocaram coisas como “A Metamorfose” do Kafka, “A Crônica da Casa Assassinada” do Lúcio Cardoso, e outros títulos discutíveis no gênero, indiscutíveis na qualidade...

Entendo bem. Embora eu seja fã de terror, principalmente no cinema, concordo que na literatura é difícil encontrar obras que tratem do gênero com consistência, ou com a profundidade que um bom livro pede – por isso essa confusão, de querer forçar para dentro do gênero obras que pendem mais para o surrealismo ou o thriller. Ainda assim, puxando pela memória, percebi que poderia facilmente listar 20, talvez 30 grandes livros de terror de todos os tempos.

O título de MELHORES LIVROS DE TERROR DE TODOS OS TEMPOS é certo clickbait. Não li de tudo, e obviamente é uma seleção pessoal. Talvez faltem obrigatórios como “O Bebê de Rosemary” do Ira Levin, ou “Tubarão”, mas só vi mesmo os filmes. De outros autores até que li bastante, mas não consegui gostar – então NADA de Lovecraft, Anne Rice e Dean Koontz. (Ok, do Koontz eu até gostava na adolescência, mas é trasheira, vai?). Também não coloquei esse horror mais juvenil – no qual o Brasil tem bons autores - mas coloquei bons autores brasileiros com um terror mais alternativo – e estou sempre atrás de novos/bons nomes. Tem aí vários que traduzi – mas muitos de terror que traduzi deixei de fora (não gosto de tudo o que traduzo nem traduzo tudo do que gosto). Há na lista alguns que podem não ser considerados terror no sentido clássico, mas entram pela perversidade e o efeito que provocam. Acho que o terror é mais potente quando associado à sexualidade – ou às perversões sexuais.

Mas chega de justificativas. Essa é apenas uma lista possível, em ordem mais ou menos aleatória, com pequenas sinopses ou observações:

"Die, monster!"

Drácula - Bram Stoker:
Clássico obrigatório, é dos meus favoritos pessoais – li pela primeira vez ainda na pré-adolescência. Apesar de tantas adaptações cinematográficas, para mim nenhuma supera o romance, principalmente a primeira parte no castelo. Dispensa qualquer sinopse, né?


O Retrato de Dorian Gray – Oscar Wilde: Novela sobre as armadilhas da beleza – um rapaz que vende a alma pela juventude eterna. Daquelas histórias que faz muito mais sentido em livro, porque cada um tem sua visão de beleza idealizada, cada um deve imaginar seu próprio Dorian Gray. E o humor dândi sarcástico de Wilde é imbatível. "Beauty is a kind of genius" ou "youth is the only thing worth having". Foi a obra que me fez querer ser escritor na adolescência.



O Exorcista – William Peter Blatty:
Uma alegoria de despertar sexual, através de uma menina à beira da puberdade, que é possuída pelo demônio. Também funciona bem melhor em livro, apesar da caracterização assustadora do filme.

Frisk – Dennis Cooper: Um dos meus autores prediletos, herdeiro direto dos beats e de Sade. O universo de Cooper é habitado por garotos pré-pós-púberes drogados, estuprados e assassinados. Difícil escolher um livro dele, mas esse é das coisas mais hardcores que se pode ler: pedofilia necrófila gay. Infelizmente, nunca foi traduzido no Brasil. (Eu bem que tentei com “God Jr., que é dos melhores e mais “leves”, pelo menos em termos de violência gráfica – mas é um que não daria mesmo para ser qualificado como “terror”.)

A edição da Zahar com tradução minha saiu em abril.

Frankenstein – Mary Shelley: outro clássico obrigatório, que eu li na adolescência, e que traduzi recentemente para a coleção de clássicos da Zahar; também fiz um texto de apresentação e as notas de rodapé. Fica entre um precursor da ficção científica e o terror gótico. Obrigatório.

Os cenobitas de Barker. 

Books of Blood – Clive Barker: Esse é um autor que acerta e erra feio. Criou um universo incrível, que mistura o terror metafísico de Lovecraft (de que não gosto) com uma sexualidade sadomasoquista (que acho mais bacana). “The Hellbound Heart”, uma de suas novelas mais famosas, é vergonhosa de mal escrita, mas gerou toda a franquia Hellraiser, incluindo os quadrinhos, que são melhores do que o livro. Porém a melhor amostra de sua potência está em Books of Blood, coletânea de contos publicados originalmente em seis volumes, que hoje podem ser encontrados reunidos.

It – Stephen King: Difícil escolher uma obra de King, mas It – A Coisa é uma ótima amostra. Romanção de mais de mil páginas, fascina não só pelo terror do palhaço Pennywise, como pela nostalgia da amizade entre os sete protagonistas mirins – que remete a “Conta Comigo”, filme que também é derivado de um texto de King. (E sim, meu “O Prédio, o Tédio e o Menino Cego” também bebe muito daí.)

Obras Completas – Edgar Allan Poe: Sei que colocar “obras completas” é meio roubar no jogo, mas é o volume que tenho aqui em casa, então não saberia identificar as obras separadamente. Gosto especialmente dos contos minimalistas como “O Poço e o Pêndulo” e “O Barril de Amontilado”. Porém não seria exagero dizer que a obra completa é uma aula sobre literatura noir.

A Volta do Parafuso – Henry James: Uma novela gótica de fantasmas, que também inspirou inúmeras adaptações – incluindo o filme “Os Outros” de Amenabar, que pega muito de seu clima: um casal de crianças isoladas numa propriedade rural, visitada por assombrações. Elegante, profundo, é a melhor amostra desse tipo de coisa.

Os 120 Dias de Sodoma – Marquês de Sade: Escrito na prisão, narra as torturas cometidas por quatro nobres a crianças, velhos, bebês, grávidas... É mais um manual de perversão do que um romance, com a última parte inacabada e publicada como uma espécie de “escaleta”. É tão absurdo que toma certo humor – não é a toa que o substantivo “sadismo” nasceu com o autor. Dele também li "Justine" em francês, na biblioteca da minha faculdade, que funciona melhor como história, mas se for para ler só um, certamente 120 Dias é o mais emblemático.

A edição da Leya com tradução minha (mas não é grosso assim, não, é fininho)

A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça – Washington Irving: Novela passada na Nova York do século XVIII, baseada em lendas locais de assombração. O Cavaleiro sem Cabeça da história é uma espécie de Mula sem Cabeça do folclore americano. O livro rendeu não apenas o (fraco) filme de Tim Burton, mas um desenho da Disney dos anos 50, narrado por Bing Crosby, que é bem mais divertido e fiel ao livro. A bela edição ilustrada publicada no Brasil pela Leya em 2011 tem tradução minha.

Carmilla – Sheridan le Fannu: Uma das primeiras novelas de vampiro – no caso, de uma vampira – tem um lesbianismo latente e foi uma grande inspiração para o Drácula de Stoker. Na trama, uma jovem abriga em seu castelo uma desconhecida vítima de um acidente e as duas desenvolvem uma estranha relação... O texto pode ser encontrado em português em algumas antologias, como a “13 dos Melhores Contos de Vampiros”, publicada pela Ediouro.

Obras Completas – Saki: Filhote de Oscar Wilde, Saki é pseudônimo de Hector Hugh Munro, escritor dândi do final do século XIX. Sua obra não se limita ao horror, mas tem belos contos do gênero, especialmente de lobisomens, com uma (homo)sexualidade latente. Coloquei as obras completas aqui porque também é o volume que tenho e não seria capaz de isolar os contos. Ainda que esteja em domínio público, e eu sempre proponha a editoras, infelizmente tem poucos textos traduzidos ao português, presentes apenas em antologias – incluindo dois na ótima “Homens, Lobos e Lobisomens” publicada pela Marco Zero em 2003. Foi por lá que comecei a conhecer a obra dele.

O Senhor das Moscas - William Golding: Romance do britânico vencedor de prêmio nobel, "O Senhor das Moscas" é um estudo sobre a teoria do bom selvagem. Sobreviventes da queda de um avião, um grupo de pré-adolescentes isolados numa ilha tenta organizar uma democracia, que acaba revelando seu lado perverso da dominação pelo mais forte. A edição comemorativa da Nova Fronteira, de 2006, tem texto de apresentação meu.
Com o verdadeiro JT LeRoy, a querida Laura Albert.

Maldito Coração – JT LeRoy:
Outra das minhas traduções. Pretensa coletânea de memórias de um garoto de rua, que passou por todo tipo de abuso na infância, acabou se descobrindo tratar-se inteiramente de ficção, escrita por uma americana de meia-idade. Para mim não importa, o universo de sexo, drogas e androginia criado por Laura Albert (a verdadeira autora) é assustador e fascinante.

O Estranho Misterioso – Mark Twain:
Recebi recentemente de presente de um leitor querido. No romance, uma aldeia da idade média acolhe um jovem “gracioso e sedutor”, que conquista a todos, mas se revela um anjo amoral, de nome “Satã”, causando desgraça por onde passa. Um divertido conto de fadas de terror.

Tripé do Tripúdio e Outros Contos Hediondos – Glauco Mattoso: Poeta cego, vítima de glaucoma, Glauco tem um olhar afiado para perversões, podolatria e fetiches em geral. Podemos considerá-lo pai da literatura snuff brasileira ou torture porn. Difícil escolher uma obra, e eu tenho uma dúzia aqui, que orgulhosamente recebi de presente do próprio autor. Mas esse volume de contos publicado numa bela edição pela Tordesilhas é uma ótima amostra. 

Hugo tá no título, na foto e na autoria. 

O Estranho Mundo de Hugo Guimarães – Hugo Guimarães:
Herdeiro de Glauco Mattoso e de Dennis Cooper, Hugo Guimarães é um jovem narcisista que pratica uma literatura extrema, ou “snuff”, de sequestro, tortura, morte. Onde mais se poderia ver o estupro de Bento Ribeiro? Apenas num livro. “Algumas coisas só podem ser feitas por escrito”, está na orelha, que não à toa foi escrita por mim. Foi publicado pela Edith.
A bela edição da Suma de Letras, selo da Companhia. 

O Vilarejo – Raphael Montes: Ele já se consagrou como o grande nome do policial brasileiro atual, mas esse seu romance de terror – ou uma coleção de contos interligados – é, ao meu ver, o mais divertido que ele já escreveu. No começo do século XX, os habitantes de um vila anônima, isolada pela guerra, pela fome e pela neve, sofrem a influência direta de demônios – ou seria apenas a natureza humana se revelando em extremos?

Com Samanta, na casa dela em Buenos Aires. 

Distância de Resgate – Samanta Schweblin:
Essa jovem escritora argentina conquistou o mérito raro de ser sucesso mundial de crítica, fazendo alta literatura, com uma novela que flerta com o terror e com o sobrenatural. Cavalos mortos, crianças do mal e um clima permanente de incerteza permeia a história de uma mãe e sua filha pequena, de férias numa casa de campo. Foi publicado em português pela Record.
Darkside sempre arrasa na parte gráfica. 

Onde Cantam os Pássaros – Evie Wyld: Tem certo parentesco com o livro de Schweblin, pela tensão, a trama fragmentada, a feminilidade e a ambientação rural. Nesse romance de uma jovem autora anglo-australiana, a protagonista vive sozinha numa ilha com seu cão, e se depara com mortes misteriosas de suas ovelhas, que remetem a traumas de seu passado. Foi publicado por aqui pela Darkside. 

Bela estreia.

A Forma da Sombra – Fernando de Abreu Barreto: Romance de estreia de um autor carioca, foi uma bela surpresa que chegou aqui em casa, e acabei resenhando para a Folha. O protagonista é um antissocial condutor de trens de metrô no Rio, que passa os dias sem ver a luz do sol, e questiona sua humanidade. Uma história moderna e brasileira de vampiro, inteligente e bem escrita.


Eu Estou Pensando em Acabar com Tudo – Iain Reid:
Uma jovem viaja com o namorado para conhecer os pais dele, que moram numa fazenda. Durante todo o percurso de carro ela pensa em “acabar com tudo”, com o relacionamento, mas há um clima permanente de tensão e incerteza no ar, que deixam o leitor em dúvida se o texto se trata de um drama existencialista ou uma história de terror, até o esquizofrênico desfecho. Publicado pela Rocco, é outro com tradução minha.

Os Cantos de Maldoror – Conde de Lautreamont: Prosa poética do romântico maldito franco-uruguaio, que a escreveu aos vinte e dois anos e morreu aos vinte e quatro. Maldoror é um ser amoral e niilisa, que conduz cenas que flertam com o fantástico e o surrealista. Difícil de se compreender, mas ainda fascinante de se ler. 

American Psycho – Bret Easton Ellis: um slasher irônico sobre a geração yuppie novaiorquina. Hoje parece um pouco datado, mas parte de seu charme está aí, se tornando um romance de época recente. E a ambiguidade da trama ao meu ver funciona melhor no livro do que no filme.

Hater – David Moody:
Ótimo romance de zumbis – ou quase isso; um surto mundial que faz com que algumas pessoas criem um ódio mortal de quem vêem pela frente; uma espécie de alegoria da histeria urbana de hoje. Primeiro de uma trilogia, funciona sozinho (ainda que com final aberto). Foi publicado no Brasil pela Saraiva, e a tradução também é minha.

Assombro – Chuck Palahniuk: Traduzi alguns do autor, mas não esse, de que gosto mais. É um romance sobre dezessete escritores que são reunidos numa casa para escrever, num estranho retiro, cada um trazendo histórias escabrosas do passado. Palahniuk consegue ser trash, imoral e insano. E, quando acerta, acerta bonito (ou acerta feio?).
Minha bela edição do "Ringu".

Ring – Koji Suzuki: o romance que deu origem a Samara! (Ou Sadako). Começa arrepiante, como o filme, mas segue para uma loucura que mistura ondas televisivas e hermafroditismo, mais próximas de uma ficção científica metafísica. Não deixa de ser uma mitologia interessante... (Que eu saiba, não tem edição em português - Fica a dica para a Darkside.)

As Perguntas – Antonio Xerxenesky: Aqui um romance ainda inédito, mas por pouco tempo. O novo título do jovem autor gaúcho é um terror assumido, com momentos arrepiantes, centrado na investigação de uma paulistana sobre uma seita satânica. Foi fruto de uma encomenda da RT Features, assim como o meu, ambos com os direitos já vendidos para o cinema, com a publicação pela Companhia das Letras. O dele sai em setembro. Já li e já adorei.

Neve Negra – Santiago Nazarian: Ai, me deixa? Só unzinho? Por último? Na noite mais fria do ano, na cidade mais fria do Brasil, um renomado artista plástico enfrenta dúvidas sobre a identidade de seu filho de sete anos. É um romance sobre as paranóias da paternidade, um raro registro ficcional da neve no Brasil e é terror – sim, dessa vez fiz um terror pra valer.

Sai daqui a um mês exatinho - já em pré-venda.

ENTÂO VOCÊ SE CONSIDERA ESCRITOR?

Então você se considera escritor? (Trago questões, não trago respostas...) Eu sempre vejo com certo cinismo, quando alguém coloca: fulan...