11/06/2017

QUANTO GANHA UM ESCRITOR

Com Paulo Scott na Garopa Literária

Aqui em Maresias. Na casa que Murilo alugou. Cheguei nesta noite fria de sábado e fui fazer um churrasco. Num descuido a coelha fugiu para o enorme quintal. Já aprendi que não adianta correr atrás. É ficar quieto na sala que ela vem espiar onde estou. Quando some por uns bons cinco minutos e começo a entrar em pânico, ela entra correndo e se esconde atrás do sofá. Essa é a experiência mais próxima que tenho como pai.



Terminei a primeira série de viagens que estava fazendo com Ana Paula Maia pelo Rio. A última data foi em Nova Friburgo, cidade mais lindinha do roteiro. Tivemos a presença ilustre do Victor Heringer na plateia, que eu conhecia só de reputação, e que a superou, no melhor sentido. Saímos para comer e beber nessa última noite fria, repleta de calor literário.

Com Victor Heringer, Marcelo Reis de Mello e Ana Paula Maia

Sempre é bom encontrar os pares. O exercício solitário da profissão (da escrita) pode gerar uma série de paranoias, inseguranças e visões tortas. É bom ver cara a cara como estão os outros, como pensam os outros, como você é visto.

Com Daniel Galera e Morgana Kretzmann

Por isso também foi lindo voltar a Santa Catarina e encontrar Paulo Scott e Daniel Galera, dois dos escritores que eu sinceramente mais admiro, como autores e como pessoas. Fui convidado para a 1a Garopa Literária, evento organizado pela linda Morgana Kretzmann na IFSC, com palestras, debates e oficinas. No meio dessas viagens eu acabei não ficando quase nada, mas consegui conhecer um pouco a cidade com Scott de guia e jantei com o Galera, que eu não via há um bom tempo. Também consegui esticar um pouquinho antes e visitar minha amada ilha, Florianópolis, e a familhinha que formei por lá.

Com Ida, na Barra da Lagoa

Assim a vida é boa, claro, mas nem sempre é assim. Eu sou daqueles que nunca reclama de trabalho, viagens, movimento, talvez porque não seja muito ou talvez porque nunca seja o suficiente, mas sempre tenho a impressão de que morro mais de tédio do que de estresse. Pode ser uma vida mansa. Ou posso ser hiperativo. Eu apenas me sinto eternamente desperdiçado...

público de Garopaba

As traduções se interromperam de uma forma assustadora. Ainda não fiz NENHUMA este ano – e isso é algo se considerarmos que já tenho mais de 60 traduções no currículo (a grande maioria, é claro, de livros vagabundos para adolescentes). As editoras estão quebrando, hibernando e me devendo direitos autorais. Viver de eventos literários é bem mais fácil; eu acho. Você viaja, conhece lugares novos, conversa sobre literatura e ganha algo como 2 mil reais de um dia para outro. Na tradução é um mês inteiro na frente do computador, 6, 8 horas por dia, para ganhar 4, 5 mil reais. Pode parecer apetecível: GANHE 5 MIL REAIS SEM SAIR DE CASA, é possível, se você for um tradutor produtivo. E ainda que 6 horas trabalhando em casa pareça mais manso do que 8 horas no escritório, 6 horas em casa significam SEIS HORAS líquidas na frente da tela; no escritório as horas são sempre brutas, diluídas no cafezinho, no banheiro, no fumódromo e facebook. Quem tem a si mesmo como patrão tem como empregado um escravo – sempre é meu lema.

Com Ana Paula em Nova Friburgo. 

Isso tudo é muito ridículo quando a gente pensa no salário mínimo... mas é mais ridículo quando a gente pensa quanto uma blogueira teen pode ganhar por uma única foto no instagram...

Garopaba

Num desses debates alguém me perguntou: "Quanto ganha um escritor?" Impossível dizer. Se todos os meses tivessem eventos, traduções, roteiros, tudo junto, eu me mataria de trabalhar, mas estaria rico. Do jeito que é, tenho de me virar a cada mês com o que aparece. Algumas vezes dá para ser feliz. 


As viagens continuam no segundo semestre, felizmente. Tenho o “Viagem Literária” marcado em agosto, em que farei solito 5 cidades do interior paulista – o projeto existe há dez anos, eu sou autor total paulistano e nunca tinha sido convidado, por isso fico especialmente feliz. Também começarei a turnei de lançamento do Neve Negra, que deve ter a primeira data em Belo Horizonte, 3 de agosto, num debate com... Ana Paula Maia, pelo Sempre um Papo. O lançamento em SP já está marcado para 14 de agosto, na Blooks do Frei Caneca, que eu literalmente consigo ver da janela do meu apartamento.

E por enquanto é só, espero que a vida me traga mais porque tenho aluguel todos os meses, como todos os dias, e respiro a cada 5 segundos.


Moqueca de Lagosta na Barra.

NESTE SÁBADO!