42, corpinho de 46, espírito de 64. |
A sensação que eu tenho é que estou voltando de uma
longa viagem, de uma terra estrangeira, de volta a São Paulo, cenários tão
familiares, mas seis anos mais tarde.
Acabo de completar 42 anos – corpinho de 46, espírito
de 64. Há anos que sinto que vivi mais do que o suficiente, mas insisto. Sem
grandes vontades, é verdade; passei o último ano basicamente trancado em casa, só
trabalhando para pagar as contas, deixando o tempo passar, os planetas se
realinharem... Daí quando me dei conta estava tudo fora do lugar.
Estou solteiro de novo, depois de seis anos – a sensação
que eu tenho é que estou voltando de uma longa viagem... O ex-cozinheiro soltou
a mão e fugiu para o outro lado. Não era mais um relacionamento confiável; uma pessoa que só me colocava para baixo...
Daí, estou tendo de me esforçar a sair mais de casa,
voltar à academia, ver os amigos, conhecer pessoas. “Aproveite para se dedicar ao trabalho”, me
disse uma. Eu só me dedico a isso - eu não saio, eu não transo, não vejo a
família. Mas é uma fidelidade não-correspondida. O que eu tenho a oferecer as
pessoas não valorizam... “A vida é muito maior do que a escrita”, dizem outros
casados e com filhos. A minha vida
não é maior do que nada.
É só a coelha que me faz levantar da cama todos
os dias.
A sensação de retorno não é só pelo fim do relacionamento. O trabalho mais estável nos últimos meses me possibilitou ir colocando as coisas no lugar. O sofá destruído (pela coelha): vamos arrumar o sofá; as cuecas velhas de casado: troquei por novas da Calvin Klein; o celular... Passei um ano sem celular – e antes disso, pouco usava. Então com iPhone novo comecei a usar mais o Instagram, baixei Tinder, e Grindr, e Hornett, e Uber, e Whatsappp... nunca tive Whatsapp... Os aplicativos de pegação eu até já tive, 6 anos atrás, conheci o falecido assim, mas agora é um mundo novo, ou um mundo a que retorno, depois de uma longa viagem, ou de um coma, seis anos mais velho...
E que preguiça, meu deus...
Descamisado, bem padrãozinho, aos 33. |
Ao menos afastei a preguiça da academia. Quem me
acompanha há tempos sabe como já fui rato, rato de tanquinho. O tempo passou e
eu deixei passar. Já não sentia necessidade alguma de exercício físico. Tão bom poder ficar dias e dias sem ver ninguém, nem sair de casa... daí ir ao mercado e voltar. Mas o
corpo cobra o preço. Voltei a malhar e fazer funcional há pouco mais de um mês, o peso vai
diminuindo, e já consegui restaurar a vontade de malhar TODOS os dias – porque para
mim as coisas só funcionam assim: se for para fazer, tem de ser para valer. Sou
da escola da androginia, e sei que nunca mais serei um rapaz lânguido e esguio – até porque,
nunca mais serei rapaz – mas com toda a MASSA que tenho, estou aprendendo a me
aceitar como homão.
A foto atual padrãozinho na academia... |
(Se eu posso dizer que há UMA coisa que eu gosto
em mim hoje, uma ÚNICA coisa, deve ser exatamente o que você sugere que eu deva
cortar: meu cabelo. Mesmo cada vez mais branco, é tudo o que me resta.)
Então nesse
aniversário de 42, resolvi chamar os amigos. Pensei primeiro nas amigas, as
meninas – buscar um pouco de colo; passei Natal, reveillon e Páscoa sozinho, afinal. Agora, o dia das mães dificultou. “Aniversário não
é importante”, “problemas todo mundo tem”, foi meio o que escutei ; “relacionamentos
vêm e vão”, me disse uma quarentona que nunca teve um relacionamento estável. Lembrei
porque nunca comemoro aniversário – parece um estorvo, que estou pedindo favor.
Não é importante para mais ninguém -
mais ou menos como lançar livro. Nossa vida não é importante para ninguém. A
gente morre e o pessoal corre para não perder o pilates.
Mas então os amigos, os meninos – que não tinham
pilates – não me decepcionaram. Os meninos mais próximos toparam. Obrigado aos queridos que estiveram comigo
nesse domingo.
No Badauê, o melhor restaurante de Maresias, agora em São Paulo. |
E que venham mais... 42? Não, 4.2 está de bom
tamanho... Julho de 2023 já está mais do que bom.