08/09/2019

LITERATURA PARANDO O TRÂNSITO


Pela estrada afora...


Está acabando uma das Bienais mais intensas dos últimos tempos. 

Para os amigos (paulistanos) que eu disse que estava indo ao Rio no fim de semana, todos mandaram eu tomar cuidado, "não vai ficar circulando muito", como se São Paulo estivesse uma maravilha...

... ainda assim, parece estar bem menos pior. 

Não circulei. O esquema em que fiquei nessas últimas Bienais (nesta e de 2017), com um bom hotel literalmente colado no evento, favorece que eu fique só no evento, e acabei esticando só mesmo pelos bares-restaurantes-piscina do hotel. 

Mas o mínimo que tive de desbravar a cidade, não foi nada fácil...

Cheguei na tarde de sábado, num vôo com João Silvério Trevisan, e fui com ele num translado para o hotel. Depois de duas horas no trânsito, o Waze dava mais 1:30 para chegar de carro, e 40 minutos a pé. Como a mesa dele estava em cima, descemos do carro e andamos. 

Com Trevisan, on the road. (Foto de Marcelo Ferroni.)

O trânsito absurdo foi devido não só a falta de um programa eficaz da prefeitura para a Bienal, mas também do fluxo anormal que seguiu para o evento, depois de o "prefeito" mandar agentes recolherem obras com "conteúdo impróprio" (ou demonstrações de afetos entre personagens do mesmo sexo). 


A imagem "imprópria para menores" que gerou todo o "escândalo", em pleno 2019. 

Tiro no pé do prefeito. O youtuber Felipe Neto contra-atacou comprando mais de dez mil livros de temática LGBT, de diversas editoras, e distribuindo gratuitamente na Bienal. Fez bonito. Nunca gostei dos vídeos do Felipe, mas é preciso reconhecer que ele sempre foi crítico e político - recentemente fez uma declaração que "o mundo só melhora quando aqueles que detém o poder econômico abrem mão de alguns lucros em prol do planeta", e parece que ele tem aplicado isso lindamente. Podem chamar de oportunismo, jogada de marketing, mas precisamos (todos) de mais jogadas como essa. 

Ainda na estrada, com Trevisan. 

Voltando à minha jornada pessoal, esse caos na cidade do Rio, na Bienal de sábado (que teve protesto, beijaço, agentes indo recolher obras), fez com que chegássemos atrasados pra mesa do Trevisan (e no caminho eu ainda escorreguei e caí no meio de um MANGUE...), mas ele teve tempo de falar linda e oportunamente sobre esse clima em que estamos vivendo.  

A mesa de Trevisan, com Tobias Carvalho e Jaqueline Gomes de Jesus. 
Depois, a noite se estendeu pelo bar do hotel, em que encontrei tantos autores queridos, jovens, novos, e velhos amigos. 

Os jovens escritores com o tio Naza. 

Neste domingo tive minha mesa, no setor infantil, com o querido Tiago de Melo Andrade. O espaço era uma floresta, em que as pessoas ficavam circulando - e achei que não ia dar nada certo. Deu mais ou menos, tinha público - o pessoal foi chegando, se amontoando, fazendo perguntas, e acabamos tendo uma conversa divertida e meio caótica. 

O espaço...

Se Tiago falava da importância de ter a leitura "como um bicho de estimação", os livros como uma companhia, eu acrescentava: "E mesmo para quem não gosta de ler, os livros amontoados trazem bichos de estimação: as traças!"


Foi bonitinho ver as perguntas da plateia - depois pais que foram comprar os livros para os filhos. É um público novo para mim, que não estou acostumado a encontrar. Mas senti que comecei a encontrar formas de comunicação.

Novos leitores. 


De resto, ainda deu para pegar piscina, e tive ótimos papos de bastidores (o melhor da Bienal sempre é o networking). Pessoal da Melhoramentos foi muito querido, cuidou de tudo direitinho, e o Tiago é sempre uma ótima companhia. 


Com a querida Carol, do marketing da Melhoramentos. 

Posto agora do hotel, depois de ver a última mesa do evento, sobre literatura trans - com Luisa Marilac, Amara Moira, Pepita e mais; com discursos tão importantes, surpreendentes, articulados. Um tapa na cara do prefeitinho de merda.


Literatura trans com Luisa Marilac, Nana Queiroz, Natalia Travassos, Tarso Brant, Amara Moira e Mulher Pepita. 


Falando no prefeito,  dei minha opinião para uma matéria no Terra, que ecoou em vários veículos por aí. Abaixo:





Então seguimos escrevendo. Essa é nossa voz. E não vão calar tão facilmente.


Gente, tenho 1,80m, juro! (Quer dizer, quase, 1,80m com essa bota). O Tiago é que é mesmo gigaaante. 

ENTÂO VOCÊ SE CONSIDERA ESCRITOR?

Então você se considera escritor? (Trago questões, não trago respostas...) Eu sempre vejo com certo cinismo, quando alguém coloca: fulan...