20/09/2019

BEIJO GAY

So young.


A censura do prefeito Crivella ao beijo gay ilustrado dos Vingadores me fez lembrar da foto acima. Porto Alegre, 2001, 23 anos. O menino era só um menino com quem fiquei algumas vezes, e a foto não tem nenhuma grande história, nenhuma grande paixão por trás - provavelmente foi encenada para eu colocar no meu álbum (porque eu fazia álbuns analógicos e mostrava para os amigos bem antes do fotolog, e quando o fotolog surgiu eu já não estava mais nessa.) Muitos lembraram que parecia a foto da capa do primeiro álbum do Suede - realmente. Não lembro se foi essa a intenção (mas sendo o disco que mais escutei na vida, ao menos algo inconsciente veio daí).

Beijo gay? Beijo hétero? Beijo lésbico?

Achei bacana postar, porque muita gente "simpática" tem essa visão "recreativa" dos gays. São engraçados, fofos, não tenho nada contra, mas precisam ser assexualizados para serem aceitos. Não podem "demonstrar afeto em público." Lancei um desafio, para os amigos (gays) postarem fotos beijando em suas redes. Bem, não sou Felipe Neto, estou longe de ser influenciador, e ninguém postou. A foto bombou nos likes (para os meus padrões), muito apoio, nenhum ataque, mas ninguém postou. Acho que muita gente teve medo de assustar as tias, perder o emprego, afastar o crush. Muita gente que assume que é gay, mas não tem coragem de postar um beijo.

#fail

(É preciso admitir também que foto de beijo não é a coisa mais fácil de se tirar. A minha imagino que tenha sido feita com disparador automático, com certeza numa máquina analógica, que depois mandei revelar. Ter saído assim foi mais fruto de sorte. [A não ser que tivesse um TERCEIRO menino fotografando, o que eu não considero totalmente impossível... Mas realmente não lembro.])



O beijo dos Vingadores veio quinze anos depois. 

Dia desses um amigo postou pedindo para parar com essa de "beijo gay", "beijo hétero", que era tudo beijo, não havia diferença. Discordo. Lembro bem do meu primeiro beijo (gay). Eu já beijava meninas desde o primário, mas só aos 18 fui beijar um menino (mais precisamente no reveillon de 1995 para 96, numa boate da Bebete Indarte na Consolação- que eu tinha ido com uma "namorada" com quem eu tinha uma relação bem moderninha). A diferença foi brutal - a rigidez do corpo masculino contra a maciez do corpo feminino, ao que eu já estava acostumado. Na hora eu percebi do que eu realmente gostava (mas ainda segui alguns anos como "bissexual", porque embora as mulheres fossem um interesse bem menor, nunca foram um interesse nulo.)

Seguindo na minha frutífera vida afetiva, nunca fui de grandes demonstrações afetivas em público. Mas acho que ninguém é. A gente só beija apaixonadamente em público quando está se conhecendo (e os meninos a gente acaba conhecendo em lugares gays). Atualmente, na vida loka de solteiro, me encontro no dilema se devo beijar num café, num boteco de esquina, na catraca do metrô me despedindo do rapaz. É um novo tempo de resistência que encontro na terceira idade...

(Tá, meia idade...)

Tenho medo de uma nova epidemia de sapinhos.

Confesso que acho meio nojento dois barbudos se beijando; sim, assim como um barbudo com uma gorda; uma negra com um careca; duas sapas anoréxicas. Pro beijo ficar cênico, ficar bonito, é muito difícil, é preciso ser profissional. Então não sou contra, eu não mandaria a polícia descer o cacete, mas é melhor desviar o olhar e não ver...

E que não respingue saliva na minha coxinha!

(Se forem dois rapazes cênicos, tão mais pior...)


Minha sobrinha não sabe que sou gay. Aos 7 anos de idade, ela está começando a dar nome para isso. Mas me lembro de uns dois anos atrás, ela com 5, eu perguntei à minha irmã se ela não estranhava meu relacionamento com o falecido - com quem eu estava desde quando ela era bebê, frequentava sua casa, recebia ela nas férias, na nossa casa de praia.


Traumatizando uma criança. 


Minha irmã disse que ela não estranhava porque ela nasceu numa realidade em que isso era normal. Ela convivia com casais de homens, casais de mulheres, e casais héteros, como os pais dela. Para ela não havia nada de estranho ou diferente, cada um apenas vivia com quem gostava.



Mas pensar assim, viver nessa realidade, é uma grande ameaça, é uma grande safadeza...


Atualizado: (Este post foi censurado pelo Facebook, não consigo mais postar o link por lá - diz que viola os padrões da comunidade - talvez por ter dois homens beijando...)

 A foto original que gerou a capa do Suede: duas mulheres, uma delas cadeirante. 

NESTE SÁBADO!