Crítica que assinei na Folha em 03/12
Connel é o atleta popular. Marianne é a garota
esquisita. Durante o ensino médio eles engatam um romance secreto – e seguem
com idas e vindas durante o espaço de quatro anos em que se passa a história, de
2011 a 2015, até o término da universidade. Por vezes Connel se torna o recluso
esquisito; Marianne vira estrela da faculdade; então o contexto muda, mas a
relação entre os dois permanece, num misto de amizade colorida e amor livre.
“Pessoais Normais” é a
segunda obra da jovem irlandesa Sally Rooney, de vinte e oito anos, que estreou
com “Conversas Entre Amigos” (lançado no Brasil em 2017, pela Alfaguara) e se
tornou um fenômeno literário, publicada em mais de uma dezena de países e
finalista do Booker Prize. É compreensível: sua escrita é sofisticada,
fluida e, acima de tudo, eficiente. Ela
inicia capítulos com saltos no tempo, para então recapitular e mostrar como as
coisas chegaram até o momento presente. Os diálogos diretos são inseridos no
texto sem separação de aspas (ou travessões, por aqui), como se toda sua
escrita tivesse essa falsa despretensão coloquial. E esse o traço que mais
salta no romance: falsamente despretensioso.
Rooney tem mestrado em
literatura americana, e isso é flagrante não só na estrutura do texto, como no
universo que retrata. Apesar de o livro se passar na Irlanda, não poderia ter
um tom mais de high school americano,
com as divisões entre os alunos, o bullying,
o bailinho de formatura em que o menino precisa convidar a menina. Com frequência surge um estranhamento quando
o livro cita Dublin ou as viagens dos dois protagonistas pela Europa, nos
lembrando que o livro não se passa nos EUA. Isso não é um problema em si, mas é
um dos sintomas de a autora querer retratar “pessoas normais”, fazer uma
“escrita normal”, eficiente, reconhecível e premiável. Ela não se arrisca, joga
seguro – não há estranhamento, não há loucura, falta personalidade.
Longe de ser um livro ruim,
“Pessoas Normais” é, no final das contas, um livro de menininha - um bom livro
de menininha. Mas espero que não crie escola – não precisamos de mais escritoras escrevendo normalzinho
assim.
Avaliação: bonzinho.