02/12/2020

O ANO QUE NÃO ACONTECEU

Em fevereiro a gente ainda se aglomerava...


É pecado dizer que 2020 não foi tão ruim?

Em março, no RJ, com minha editora da Melhoramentos, recebendo prêmio da Unesco. 

Os últimos anos - 2016, 2017, 2018, 2019 - foram bem difíceis para mim. Teve falta de trabalho, falta de dinheiro, de reconhecimento, de amor, divórcio, depressão, obesidade, superação...

"O Diabo aos Olhos de Uma Criança", tatuagem que fiz no começo deste ano, de um desenho da minha sobrinha. 

Ano passado eu comecei a botar ordem na vida, recuperar a auto-estima, conseguir pagar as contas. Cheguei no começo de 2020 pronto para a batalha - aproveitei bem o carnaval, teve viagem no começo de março para o Rio, para receber um prêmio da Unesco (pelo meu livro infantil). Daí veio a pandemia...

A pandemia serviu para todo mundo experimentar minha vida. 

#foreveralone

Trancado em casa, minha vida não ficou muito diferente do que já havia sendo - há muito solitária - ao menos tive muito trabalho, belas traduções (como a autobiografia do Woody Allen) e o lançamento do meu novo romance, "Fé no Inferno". 

Uma dívida que eu tinha de contar a história do Genocídio Armênio. 

O livro me exigiu um trabalho pesado de pesquisa, de escrita, de 2015 até o começo deste. Quando estava prestes a sair, foi decretada quarentena e a editora congelou. Previsto para março, saiu em junho só em ebook, depois só por impressão por demanda, finalmente em outubro teve uma edição convencional para livrarias, com um preço pra lá de salgado.

No meu aniversário, sozinho, fazendo um coquetel de mim mesmo. 

Como não pude fazer noite de autógrafos, vendi eu mesmo autografado pelas minhas redes. Muita gente se entusiasmou, mas acho que não gente o suficiente. O saldo que faço no final do ano é de mais um lançamento morno, que não vai mudar nada em minha vida (quanto mais no mundo). 

A live com Joyce Pascowitch foi das mais legais. 

Ao menos foi uma experiência diferente, lançar na quarentena. Se muitos anos reclamo da falta de convites para eventos literários, neste não faltaram convites para "lives". (É o que eu digo, pra live é mais fácil convidar, porque geralmente não tem cachê, não paga passagem, hospedagem.) A aba "agenda" aqui do blog ficou repleta de eventos. Conversei muito sobre o livro, com gente bacana, mas não sei se isso serviu de muita coisa para promover/vender o livro. 

Treinando em casa, com elásticos. 

Em paralelo, permaneci malhando em casa, consegui manter a forma e certo grau de sanidade mental. Quando começou a flexibilização, voltei para academia, conheci gente legal que não quis saber de mim, e em novembro dei um fodasse e viajei uns dias de férias para Florianópolis. Foi a melhor coisa que eu fiz. 

Em novembro, na Barra da Lagoa. 

Lá vivi um amor de verão, que enfim subiu a serra. Eu tive de voltar para São Paulo, ele estava incerto se ficava em SC, se voltava para o RS, chamei para ficar aqui em casa. E esse foi o grande plost twist do meu 2020: um novo namorado morando comigo. (Me senti meio lésbica, porque a gente mal se conhece, mas acho que foi o efeito da quarentena, deu de ficar sozinho. Não sei até onde vai, estou deixando levar, e está delicinha.)

Leitor ideal. 


Não tenho grandes planos para 2021. Na verdade, não tenho plano nenhum. Ainda é incerto se conseguiremos virar o calendário, mas ao menos não morrerei sozinho.  

"Podia ser meu filho, mas não é..."


27/11/2020

OS MELHORES LIVROS DE 2020

 

(Se eu não ponho, ninguém põe..)


Tá, não é bem uma lista de melhores livros. 


Eu nunca faço essa lista, primeiro porque não acho muito justo - a gente não consegue ler milhares de coisas que são lançadas -, depois por causa do teto de vidro. Se você esquece de um amigo, de um colega, ou mesmo se não gostou / não leu, cria uma mágoa para a vida toda. Eu mesmo magoo... não pra vida toda... só até o próximo livro. 

Bem ou mal, as listas mais confiáveis de melhores do ano acabam sendo mesmo as listas de finalistas dos prêmios, no ano seguinte. Ao menos teve gente que foi PAGA e teve tempo de ler em peso. Muita gente só vai ler os livros quando aparecem nessas listas.  Mas nessas eu mesmo nunca entro, nunca sou bom o suficiente, ou ao menos nunca escrevo conteúdo "premiável". É seguir tentando fazer trabalho de formiguinha, levando o livro a quem posso, nesse trabalho de "escritor independente de editora grande", porque estou longe de ser o mais prestigiado-promovido da Companhia. Eles têm escolhas melhores...

Mas nas últimas semanas consegui tirar um atraso e li ótimos lançamentos de autores nacionais. Vamos lá.


SOLUÇÃO DE DOIS ESTADOS - MICHEL LAUB (Companhia das Letras)


Esse é do primeiro escalão da Companhia, e faz demais por merecer. Através dos depoimentos de dois irmãos "asquerosos" em conflito, dois extremos do Brasil atual (extrema-esquerda e extrema-direita), acompanhamos as últimas décadas de desenvolvimento (ou decadência) econômico-social do país.  Dos melhores dele. 


CÃO MAIOR - ALESSANDRO THOMÉ (Telucazu)

Um romance de formação focado em dois personagens - um garoto que teve de abandonar a vida no interior para se perder na cidade grande e uma prostituta mirim explorada pelo pai. O amor pelo rio, pelos peixes é o que une os dois e gera uma história de amor nada convencional ou suave. O universo que Thomé cria é originalíssimo e fascinante, e o lirismo da escrita (que às vezes resvala deliciosamente no kitsch) é poderoso. Dos melhores que li em muito tempo... apesar da capa medonha. 

A capa não dá, Thomé...


SEGURE MINHA MÃO - GUILLE THOMAZZI (Patuá)

Bela capa. 


Guillle é um catarinense que sabe criar histórias e universos como ninguém. Aqui ele foca um herói atípico, Olek, gago e epilético, em busca da esposa perdida num leste-europeu em guerra, no começo do século XX. Tem cenas lindíssimas, como a loba que é mantida para amamentar um bebê, e um flerte com fábulas e romances históricos.


BELHELL - EDYR AUGUSTO (Boitempo)

Uma passagem terna num livro violento. 

Acho que todos os livros de que mais gosto (este ano e sempre) têm o mérito principal de criar um universo próprio, e com Edyr Augusto não é diferente. Aqui ele retrata uma Belém dos Infernos (como aponta o título), de ladrões, prostitutas, anãs, mafiosos. A escrita telegráfica, veloz, dá um ritmo único e cinematográfico (e por vezes lembra o universo bruto de Ana Paula Maia). 


O SENTIDO E O FIM - MIKE SULLIVAN - (Reformatório)

Começa assim...

Um livro de contos sobre ódio, vingança, superação e morte, com um lirismo gay que vai fazer escola. Sullivan nunca decepciona, e precisa ser mais descoberto. 


O FANTASMA DA MÃE - GUSTAVO BERNARDO (Globo)

Narrado por uma psicanalista, descreve a vida de um solteirão que é assombrado pela mãe (primeiro com ela ainda em vida, depois ela se tornando de fato o fantasma). Essa escolha não poderia ser mais protocolar, e o livro tem mesmo um universo e uma estrutura bem mais convencionais do que os outros que citei. Mas se você quer ler um livro sobre "o fantasma da mãe" (e eu queria, comprei pelo título - porque não conheço o autor, e a capa também é medonha), esse é um livro sobre o "fantasma da mãe." Alguém precisava transformar esse complexo em narrativa, e Gustavo Bernardo não faz feio. 


Também já tinha colocado aqui no blog outras ótimas leituras que fiz este ano. Só os Diamantes São Eternos, do Taylor Diniz (Folhas de Relva), que narra um acerto de contas que vai da ditadura aos tempos atuais; "Nunca Mais Voltei" do Alexandre Willer (também da Folhas de Relva), com contos LGBTQ delicadíssimos e afetivos;  e "Aranhas", do Carlos Henrique Schroeder (Record), livro de contos envolventes como uma teia. 

Do Alexandre Willer. 


Com tudo isso, como posso esperar estar entre os melhores? 

17/11/2020

A NATUREZA ME MASTURBA

Galheta. 

 Sempre falo isso, quem não me conhece acha que sou o mais urbano dos animais - e na verdade sou; não fui criança de apartamento, porque sempre morei em casa, mas fui criança total paulistana trancada na frente da tv-videogame, brincando com bonequinhos (ou "action figures", as bonecas dos meninos), nunca tive isso de brincar na rua, nunca quis, na real, fui uma criança terrivelmente asfaltada...

Lagoa da Conceição. 

Talvez seja por isso que hoje tenho essa fascinação pela natureza, a vida em cidade pequena, o contato com o mato. A cidade já vive em mim. Para mim, de férias, praia, trilha, bicicleta, pé descalço é sempre muito mais interessante do que metrópole-museu-compras-cultura.

Um bicho mimoso que vi nesse domingo. 

E por isso que Florianópolis é meu lugar favorito no mundo.

Chegando à Barra da Lagoa. 

Dia desses via um amigo postando fotos nas Ilhas Maldivas, aquele "paraíso" de águas cristalinas, mar azulejado, um cenário absurdamente imaculado.  Achei lindo. Mas ao voltar a Florianópolis percebi bem a diferença, como me sinto muito mais em casa num cenário bruto... Acho que preciso colocar fotos para explicar: 

Isso é Maldivas (numa foto que achei no Google)


Isso é a Barra da Lagoa, onde já morei, numa foto que tirei agora. 



Olhando as duas, para mim não há dúvida em que lugar eu preferia morar-morrer, e eu tentei (viver, digo). Infelizmente não tinha como eu ser produtivo em Florianópolis, mas ainda sinto como minha segunda casa. E acho que muito disso de "lugar favorito no mundo" passa por aí, um lugar não só que você gosta muito, mas que se sente em casa, e para isso é preciso ser um lugar que dê para voltar sempre (que fale a mesma língua...), que te aceite...

No Canal da Barra. 



Eu morei na Barra da Lagoa há dez anos, durante um ano, mas já frequentava havia muito anos, e continuei muito depois. E se agora fiquei um bom tempo sem voltar por causa da pandemia-crise-casamento-separação, sempre é lindo voltar e ver que pouco mudou... pelo menos o que há de bom. 

Ida e sua filha Trishya. 


Ainda arrumei tempo para ficar de babá do Igor (neto da Ida), na piscina.

Formei uma família lá na Pousada Marujo, da Ida Andersen, mulher negra-dinamarquesa (isso existe), que renderia uma baita biografia, e sempre me recebe como (mais) um filho (desgarrado). Na verdade me recebe bem até demais - e sempre tenho de dar um jeito de fugir no almoço e jantar, para conseguir também comer da culinária local. O turismo gastronômico faz parte. Desta vez comi muito bem, bebi muito bem (fim de semana poooode); sou taurino, todos os prazeres são orais...

Ida me recebeu com um jantar manézinho-oriental de primeira. 

Moqueca de Lagosta. 

Comidinha de praia (lula). 


E a sequência de camarão foi de primeira.

Para queimar, muita trilha, longas pedaladas pelo Parque Florestal do Rio Vermelho, caminhadas pela praia, Barra, Mole, Galheta... que é uma praia de naturismo opcional. Não tenho mais pudor em nadar pelado, o problema é que não dá para deixar minha bunda pálida exposta ao sol, ou nunca mais consigo sentar...

Galheta

Mesmo com muito protetor deu para queimar. 

Não estou na mesma forma de quando morava na Ilha, é claro, mas estou bem melhor do que um ano atrás. Então foi ótimo ver que ainda aguento o tranco de atividade intensa sem problemas. Ainda tenho uns quilinhos para perder do final de quarentena, mas sem neuras. Tá dando bem para ser feliz...

E pensar que subia essa lomba todo dia quando morava aqui...

Foram só 4 dias, mas o suficiente para um belo respiro dessa vida enclausurada, deu até para viver um amor de (pré)verão. Espero poder voltar logo. Espero que voltemos todos a viver. Ainda não sei o que será da minha virada (de ano), ainda não sei se sobreviverei a 2020, mas já dá para morrer feliz..


Delicinha. 



31/10/2020

OS MELHORES FILMES DE TERROR DE 2020

Como já virou tradição, no Halloween faço minha lista pessoal dos melhores filmes de terror do ano - do final de 2019 até agora. 

Claro que a pandemia prejudicou muito os lançamentos - como no adiamento dos aguardados "Quiet Place 2" e "Halloween Kills". Mas é sempre nos lançamentos independentes que estão as maiores surpresas. E ainda consegui pegar um ou outro grande filme no cinema, no começo do ano. Então vamos lá: 


O FAROL


Esse vi ainda no final de 2019, depois de ter feito a lista dos melhores do ano passado. É um belo conto de marinheiros perdidos numa ilha, que vão enlouquecendo durante uma tempestade. Com direção de Robert Eggers (de "A Bruxa") e atuações brilhantes de Robert Pattinson e William Dafoe, além da belíssima fotografia em preto e branco, foi um crime ter sido ignorado no Oscar. 



WILKOLAK

Durante a Segunda Guerra, um grupo de crianças judias consegue escapar de um campo de concentração e se refugia numa casa abandonada. Lá são cercados por cães nazistas, que elas tomam como lobisomens, e vão vivendo num clima crescente de paranoia e competição. Está no limite entre terror e drama de guerra, mas é belíssimo filme polonês e já se tornou um dos favoritos da VIDA. 


MARIA E JOÃO

Dos grandes lançamentos do ano, que ainda deu para ver no cinema, é uma recriação do conto de fadas de Joãozinho e Maria (ou "Hansel e Gretel") aqui focando mais na Maria e no empoderamento feminino. Tem um final bem anticlimático, mas até lá tem uma atmosfera e uma direção de arte belíssimas. 


O HOMEM INVISÍVEL

Não dava nada para esse, mas foi uma bela surpresa. Mais do que um filme de monstro com efeitos espetaculares, trata mais da paranoia e do medo de uma mulher que consegue escapar de um relacionamento abusivo, mas acredita que o marido está sempre à espreita. Ótimo. 


O POÇO

Dos filmes mais discutidos do ano, está longe de ser perfeito, mas é bem pertinente e original. Trancafiados numa prisão vertical que é um "experimento", os prisioneiros se alimentam com as sobras dos andares superiores, e precisam encontrar maneiras de sobreviver e burlar o sistema. Uma alegoria meio óbvia do capitalismo, que não deixa de gerar questionamentos importantes. 


COME TO DADDY

O personagem de Elijah Wood vai visitar o pai ausente que ele nunca conheceu, mas o estranhamento e o desconforto vão se tornando crescentes. A primeira meia hora do filme é maravilhosa (e o tipo de coisa que eu gostaria de ter escrito), depois se torna um filme mais convencional de gangsteres e tortura. Mas ainda é BEM divertido. 


RELIC

O terror da terceira idade. Neta e filha vão cuidar de uma idosa que vive isolada, e que vai se tornando cada vez mais assustadora à medida que sua debilidade mental se agrava. Terror de primeira qualidade. 


AFTER MIDNIGHT

Após ser abandonado pela esposa, um homem recebe visitas noturnas diárias, "depois da meia noite", de uma criatura desconhecida. Terror minimalista de baixíssimo orçamento, é uma ótima surpresa. 


ALONE

Um novo "A Morte Perde Carona". Perseguida pelas estradas por um psicopata, uma mulher precisa encontrar maneiras de escapar. É inteligente, arrepiante e com um final excelente. 


KOKO-DI, KOKO-DA

A maior surpresa da lista: filme sueco que beira o surreal. Tentando superar a morte da filha, um casal vai acampar no mato, mas vive um pesadelo em espiral, que se repente infinitamente sempre com resultados trágicos. Foi considerado como uma mistura de Babadook com Feitiço do Tempo. 


E uma menção honrosa: 


SEM CONEXÃO:

Esse vi ontem. É outro polonês, meio trash, mas bem divertido. Adolescentes que são mandados para um acampamento "sem conexão", para se curarem do vício em celular, são atacados por uma dupla de psicopatas deformados. Tem boas ideias mal-desenvolvidas/aproveitadas. A própria ideia de os assassinos serem gêmeos - não é um spoiler, mas deveria ser. Poderiam ter feito a surpresa de acharmos que era um assassino só, mas serem dois iguais, mas eles revelam isso já quase no começo, sem clima algum. Ainda assim, é o slasher mais divertido do ano. 


(E saindo do horror. Meu filme favorito de 2020 é mesmo "1917".) 

17/10/2020

NOTAS SOBRE O APOCALIPSE



No Ibirapuera, num dia nublado. 


O apocalipse não acabou, mas a quarentena parece que sim. Cada vez mais vejo pessoas nas ruas, saindo, encontrando amigos, postando fotos juntinhos.

Do outro lado, ainda tem gente histérica, mandando ficar em casa, com uma síndrome de cabana ao contrário - seria agorafobia?

Assisti esta semana ao terrível documentário “Welcome to Chechnya” sobre a perseguição a homossexuais nessa república autônoma da Rússia. O filme foca uma organização que os ajuda a escapar para o exterior – mas eles vivem a vida toda como perseguidos políticos.

É da HBO.


Uma dessas vítimas, uma menina lésbica de 21 anos, tem de viver escondida sozinha num apartamento até conseguir um visto para deixar o país. Depois de 6 meses ela não aguenta mais ficar trancada. E os militantes LGBT descobrem que ela acabou saindo e desapareceu.

É um exemplo ilustrativo para aqueles que falam: “Na guerra os judeus-armênios-chechenos viviam meses-anos escondidos, e nós não conseguimos com todo o conforto da vida atual.” Mas a verdade é que a maioria não conseguia... ou não teríamos milhões de mortos.

Mas acho que já falei isso aqui...

Eu agora já flexibilizei bem. Já recebi gente em casa.  Já fui à casa de gente. Tenho ido todo dia à academia. Todos usam máscara e passam paninho com álcool nos aparelhos antes e depois de treinar (o que cada vez mais tem me parecido mais uma “simpatia” do que algo cientificamente necessário-eficaz.)

Na maromba. 

Ainda não tive coragem-clima para ir a restaurantes e bares, mas dou uma volta e corro pelas ruas quando não há sol... Quero ver como passaremos o verão com máscara – não só pelo calor, mas pelo bronzeado...

Na feira, com a Gaia. (E quem tirou a foto foi meu querido amigo-vizinho-cineasta, o Marco Dutra).

Nas andanças pela rua, está voltando aquele clima do começo do ano, de encontrar e cumprimentar vizinhos. Alguns eu não reconheço de máscara, alguns agora eu SÓ reconheço de máscara. Todo dia me apaixono por um novo menino na academia – um belo par de olhos. Mas quando ele abaixa brevemente a máscara para beber água é aquela decepção (como no meme da odalisca do Pica-pau...).




Transporte público não pego desde março, mas também é muito raro eu pegar, trabalhando em casa, morando do lado da Paulista e fazendo tudo a pé. Para mim uma, duas horas de caminhada é de boa... mesmo de máscara... se não tiver sol.

Correndo hoje na Paulista.

01/10/2020

INFERNO RENOVADO

Temos Fé. 



Saiu enfim uma edição regular do meu "Fé no Inferno" - até agora só estava sendo impresso sob demanda pela Companhia das Letras, era difícil achar em livrarias físicas, mas foi o que decidiram fazer durante a pandemia. 

Então recebi enfim minha cota de autor (30 livros), aproveitei para vender mais alguns e enviar alguns para pessoas-chave. (Agora parei de novo com as vendas.)

A má notícia é que agora o livro físico custa R$80, uma facada, mas não tenho muito o que fazer. É um livro grande, ao menos, com quase 400 páginas... Essa edição nova está idêntica à sob demanda, que é bem bonita. 

A recepção tem sido boa, muitos amigos e colegas escritores bastante impressionados - todos dizendo que é meu melhor livro, mas isso não quer dizer muita coisa, todo livro novo que lanço falam que é meu melhor, e talvez ainda não seja bom o suficiente...

O espaço na mídia está bem esquisito. Praticamente não há mais crítica - mas eu mesmo tenho falado bastante do livro em programas de TV (Metrópolis, Arte1, Canal Curta), rádio (CBN) e em todas as lives que têm me convidado. Em jornal, teve a bela crítica de duas páginas da Tatiana Salem Levy no Valor Econômico... e só. (Mas a Folha ao menos deu um capítulo inteiro, há alguns meses.) Também teve uma entrevista na revista Poder (Joyce Pascowitch sempre uma querida) e o Suplemento Pernambuco publicou um texto meu falando dos bastidores da escrita. 

Semana passada traduzi para o inglês alguns capítulos, para minha agente tentar vender lá fora - também não tenho grandes esperanças, nunca tenho sorte com isso, toda editora com que vendo/publico lá fora acaba falindo... É a maldição de Nazarian!

"Você tem que entender que é um autor underground", disse uma vez minha antiga agente. Eu diria mais "alternativo" do que underground. Mas meus temas, minha estética acabam sempre se encaixando num Lado B, que limita a visibilidade, a aceitação e o respeito. 

Ao menos esse agora tem um "tema sério" (o Genocídio Armênio e a perseguição de minorias), o que faz instantaneamente que meu livro seja considerado "mais maduro". 

Acho isso meio besteira, acho a maturidade superestimada, ainda mais na literatura. A literatura é dominada pelos tiozões - então quem precisa de MAIS UM autor maduro? Sempre me interessa mais o entusiasmo, o fresco e a irreverência da juventude...

Mas jovem não mais sou. 

Voltando à tradução para o inglês, é bem mais complicado do que do inglês para o português, mas comecei a fazer há uns três anos, para mim mesmo, minha agente gostou e começou a pedir para outros autores. Prefiro fazer quando é uma "sample", ou seja, para vender o livro lá fora, porque daí não é um produto final. Ou então quando são textos pequenos. O problema é que levo o dobro do tempo do que uma tradução para o português, e não consigo cobrar o dobro, então se estou com muito trabalho acaba não compensando. 


Uma amostra. 


(A sample.)



Para encerrar, para quem quiser OUTRO livro meu autografado, a Companhia está com uma promoção do "Neve Negra", meu livro de (pós)terror que lancei em 2017. Está bem mais baratinho, R$34, e vai autografado (não vai com o nome do comprador, porque autografei 100 livros e entreguei pra editora - não tenho nenhum para vender pessoalmente - mas coloquei em cada um uma frase de efeito diferente ;)

Meu livro mais Trevoso. 


Dá para comprar direto pelo site deles, aqui: 


NESTE SÁBADO!