(O que é que faz na quarentena?)
Nas últimas semanas tivemos lançamentos de
discos do Rufus, Kylie, Irrepressibles, Pretenders, Adriana Calcanhotto; alguns dos meus artistas
favoritos.
Não tenho ideia de como é lançar um disco na
pandemia. Como leigo, eu diria que hoje não faz diferença, que talvez seja até
melhor, porque as pessoas estão mais em casa, mais em busca de “distração”,
divertimento...
(o do Rufus)
Mas é uma visão total de leigo... E talvez TODOS
sejamos leigos nesse novo contexto. Porque mesmo na literatura... eu achava que
poderia ser bom lançar livro nesses tempos... Agora não sei...
(Assim com o meio literário) a indústria
fonográfica está há muito ameaçada. Foram os MP3, o pirateamento, depois o
streaming. Mas se a indústria despenca, a arte não acaba porque a necessidade de expressão é imortal.
Não morre no final.
A verdade é que os artistas estão sempre dispostos
a fazer, mesmo de graça.
Eu entrei na adolescência nos anos 90, com a
consagração do CD, então nunca vivi realmente a era do LP, nunca nutri esse fetiche.
(De fato, os poucos vinis que eu tinha se foram todos na separação). Os CDs permanecem todos. E são alguns
milhares.
Dos primeiríssimos CDs que comprei, estão aqui:
Dangerous do Michael Jackson
Erotica da Madonna
Eurythmics Greatest Hits
Us do Peter Gabriel
Off the Ground do Paul McCartney
Best of Santa Esmeralda
(Criança viada, né? Todos que ainda adoro. Madonna
talvez menos.)
Logo peguei uma época em que o dólar era um pra um
(plano real), em que CDs importados custavam o mesmo (ou menos) do que os
nacionais, e era-a-era do Britpop, e eu fiz intercâmbio, depois trabalhei numa
livraria que vendia CDS, numa agência de publicidade que pagava bem... Assim fui
montando meu acervo.
Viajei para a Europa algumas vezes no final dos 90
e começo dos 2000 e trouxe tantos CDS, singles, aqueles formatos que não fazem
mais (CD-Single parte 1, parte 2; depois até DVD-Single), tudo uma mega
exploração da indústria fonográfica da época, colocando só duas ou três faixas
(inéditas) a mais, para abusar dos fãs. Eu caía. Do Suede tenho praticamente
todos os singles – na época não tinha outro jeito de ter/escutar as faixas; a
internet engatinhava, era discada e não tinha como baixar.
(Can't Get Enough, de fato. Cada um tinha só duas faixas inéditas.) |
Tinha a rádio também, claro. Eu passei brevemente
por isso, mas deixou boas lembranças. A Brasil 2000, com o Kid Vinil, o
programa dele tocava esses B-sides, esses alternativos (assim como o programa
Lado B, com o Fábio Massari, na MTV). Foi no programa do Kid que ouvi (e gravei
em cassete, perdendo o começo) pela primeira “My Dark Star” do Suede (B-side do
single “Stay Together”). Um amigo meu também ligou lá e pediu para ele tocar para
mim “Common People”, o novíssimo single do Pulp. Eu mesmo liguei uma vez e pedi
Golden Palominos...
(das melhores músicas deles; e ter ouvido primeiro na rádio deixa tudo mais bonito.)
Essas eram as formas de escutar, porque para se atualizar, havia os amigos, os primeiros foruns de internet, fanzines (como o "Esquizofrenia", do Gilberto Custódio, onde li pela primeira vez sobre o Pulp) e mesmo as publicações britânicas impressas. Na época do dólar sob controle comprava regularmente revistas como Vox, Select, Q (que este mês encerrou atividades...).
Ainda tenho essa (o cassete que veio junto não sei...) |
Como nunca tive compromisso em me atualizar nas
tecnologias, resisti de migrar dos CDS. Teve uma época em que eu ainda andava
pelas ruas com um discman enorme no bolso, enquanto o povo ouvia iPod. Hoje o
povo está no streaming... eu ainda tenho iPod.
Ainda tenho um iPod Classic, de 160G, 30 mil
músicas, que me acompanha diariamente. Já deu vários paus – já tive de revirar
a Santa Ifigênia para encontrar quem arrumasse, já troquei placa, mas ele segue
firme..
Ainda acho a melhor coisa, porque você ouve música
offline, baixa de todos os meios possíveis – tenho tanta coisa que não se pode
encontrar nas plataformas de streaming. Mas agora tenho me rendido ao streaming
também...
Só recentemente, como sempre, vencido pelo
cansaço, Spotify me ofereceu uma oferta (porque a versão gratuita com anúncios
é impossível) e eu aceitei. Comecei a ver a praticidade de encontrar os novos
álbuns, ou pesquisar artistas antigos. (Para você ver como sou tiozinho, esta
manhã malhei deixando meu Spotify num shuffle de Tom Jones e Shirley Bassey.)
Também tem a praticidade de compartilhar as
descobertas e playlists com amigos. Tenho feito regularmente playlists e
postado nas minhas redes (bem, tenho postado apenas no Facebook, porque, como
eu disse, sou velho e apegado).
Mas ainda não desapeguei totalmente do CD (muito
menos do iPod), se não resgatei o fetiche pelo vinil, vira e mexe ainda compro
os álbuns de que mais gosto. A cópia física ainda me parece a única segurança
de permanência, sobrevivência, de que estaremos sempre com aqueles que amamos...