07/09/2020

NOTAS SOBRE O APOCALIPSE

Sol ainda só na sala. 


Nesse momento de “flexibilização”, tenho visto muita gente perdida. Gente que acha que liberou geral. Gente que precisa de rigor para poder respeitar. Gente ainda trancada em pânico, com medo de ter de voltar ao “velho normal”, ao transporte lotado, escritório insalubre...

 

Eu flexibilizei. Voltei para a academia. Visitei uma pessoa ou outra – minha sobrinha que eu não via há meses; tenho dado algumas voltas de máscara. Mas ainda não tive coragem/clima para sentar num bar, num restaurante (também se tornou tão cômodo ter delivery de praticamente TUDO), não tive vontade de receber amigos...  (Bom, nunca fui de receber amigos), menos ainda de viajar para a praia, Florianópolis, que é/foi minha segunda casa...

 

Minha mãe eu não vejo desde janeiro.

 

Vejo também amigos indignados, sem entender como gente que pregou tanto a quarentena hoje está saindo, visitando amigos, depois de 100 mil mortes...

 

Bem, é que depois de 100 mil mortes, seis meses depois, as mortes estão caindo, mas acho que isso não é o principal para as pessoas estarem saindo. A questão é que (1) as pessoas são sem noção mesmo; (2) as pessoas estão cansadas; (3) já se sabe mais sobre o vírus, como se contamina e como se protege; (4) ficou claro que a solução da vacina não virá tão cedo, SE VIER; (5) muita gente acredita-quer-acreditar que já pegou e pode estar imune.

 

Eu mesmo não tenho certeza, sabe? Lá no começo da quarentena, tive uma gripe, uma tosse esquisita e persistente por uns dez dias. Na época recomendavam não procurar ajuda médica se não se sentisse falta de ar. Não tive nada mais grave, não tive febre (continuei trabalhando e malhando em casa, por exemplo) e passou.

 

Tenho histórico de atleta.

 

(Mas também tenho histórico de obeso, nunca me esqueço. Qual será que conta mais?)

 

Preciso dizer que apoio essa flexibilização, por vários motivos que já falei: já sabemos mais sobre o vírus, como nos precavermos; os números estão caindo; é preciso também preservar a saúde mental... e a economia, claro. E, porra, se já são mais de QUATRO MILHÕES de casos confirmados, com todas as subnotificações e tanta gente que nunca fez o teste (como eu), quantos mais ainda podem se contaminar?

 

OK, ok, sei que pode ser “wishful thinking” (que em português pode ser traduzido como “pensamento mágico”, mas não tem a mesma força).

 

O problema é que o povo não sabe “flexibilizar”, para muitos é tudo ou nada.

 

Mas ainda não entendo algumas medidas para controle, como o horário de funcionamento do comércio. Horário reduzido não promove aglomeração, concentrando todo o público ao mesmo tempo? Não é como a redução da circulação do transporte público? Horário de fechamento de bares às 22h é para quê? Para o Corona dormir mais cedo? É algo mais simbólico? Ou é puro moralismo? Pergunto porque não entendo mesmo...

TIREM AS CRIANÇAS DA SALA

(Publicado na Ilustríssima da Folha deste domingo) Do que devemos proteger nossas crianças? Como não ofender quem acredita no pecado? Que ga...