45 hoje, só no cafézinho. |
Não há muito o que comemorar, apenas agradecer pelo que resta...
Nos últimos anos, até que tive aniversários tranquilos - com pandemia e tudo, não me faltou trabalho, dinheiro, e aniversário passado até consegui ir pra praia. (Foi a última viagem que fiz, por sinal.)
Desde o segundo semestre as coisas ficaram bem complicadas por aqui, com pouco trabalho, pouco dinheiro, inflação galopante, e os gastos, as dívidas, os boletos que não param...
Uma amiga minha comentava esses dias: "Que inferno é ser adulto", de uma hora para a outra você precisa ter alguns milhares de reais sobrando para pagar um veterinário, daí precisa trocar o celular, daí sua geladeira quebra... E é tudo eu que tenho de arcar, sozinho. Não tem papai-mamãe, não tem marido, não tem renda. Cada jujuba que entra nessa casa vem de uma lauda que eu escrevi/traduzi/preparei...
A pegadinha deste mês é essa: como viver sem geladeira.
...ou sem jujubas.
Mas podia ser pior. Estava pior, há um mês. Na verdade, até pude contar com a bondade de estranhos, depois que desabafei nas redes sobre a falta de trabalho/dinheiro/perspectivas. Recebi todo tipo de conselho - de investimento em binários a trabalhos em TI e restaurante -; recebi também pix e até ovos de Páscoa!
Parece que todo mundo aceita que é impossível viver como escritor no Brasil...
Bem, eu tenho vivido, há vinte anos, alguns anos melhor, outros pior... Nunca esperei viver da venda de livros, mas meu nome como autor é o que me garantiu trabalhos como tradutor, palestrante, roteirista... Só que eu sinto é que esses trabalhos pagam cada vez menos... Talvez meu nome valha menos também...
Não me arrependo de nada, só lamento que nada deu muito certo...
O histórico de carreira não conta tanto; a literatura é mais um meio que se alimenta de novidades, da pauta do momento (que atualmente está mais com as mulheres e os negros). É prender a respiração e ver até onde posso cruzar...
Continuo tentando, continuo fazendo projetos pra cinema, TV, tem livro novo para o ano que vem... Mas a fé, o entusiasmo, são cada vez menores. A gente deve continuar tentando que uma hora dá certo? Ou é preciso saber a hora de desistir? Aos 45 (do segundo tempo)?
Eu só queria estabilidade... (Oh, such a taurus...)
Sempre acho meio constrangedor expor assim as fraquezas - queria eu só expor prêmios e reconhecimento - mas é o único jeito de as coisas acontecerem. Muita gente se solidariza - porque gosta de ver que o outro está na merda -, mas alguns de fato ajudam, percebem a emergência. E foi só assim que consegui engrenar de volta nos jobs.
Então, se a situação continua complicada, se não há motivos para comemorar, ao menos há muito trabalho (o que faz toda a diferença não só no bolso, mas principalmente na cabeça). Já é motivo para se agradecer. Estou inclusive traduzindo um dos MAIORES autores de literatura infantil do país para o inglês...
(Será que ele também está na merda?)
(Acho que este post na verdade está parecido com tantos outros que já postei nos últimos meses, no último ano... Por isso não tenho postado mais nada por aqui, não tenho muito mais a dizer.)