Terminou hoje mais uma oficina, de cinco aulas, que dei por Zoom – “Como se Escreve o Romance Contemporâneo”, com participação da Andrea del Fuego, Raphael Montes e Alexandre Staut.
Adoro, mas detesto. É sempre bom conversar sobre literatura, saber o que os outros estão escrevendo, estão lendo, receber as dúvidas deles sobre escrita, sobre o meio, muita coisa que a gente, já avançado na carreira, toma como natural.
O saco é vender o curso em si, promover – e não só por ter de ficar enchendo o saco nas postagens, chamando aluno, patrocinando post, mas por “vender o sonho” em si, a promessa; tenho sério conflitos com isso.
Cada vez mais vejo gente aí vendendo curso, seja de literatura ou do que for, e sempre com essas promessas: Seja um autor de sucesso! Conquiste mais leitores! Você já pensou em viver de escrita? Acho uma picaretagem, me dá um mal-estar, que é difícil precisar...
Talvez seja um pouco por minhas frustrações pessoais com a literatura. Talvez seja muito por eu ter literalmente abandonado a publicidade para me tornar escritor (e agora o trabalho de escritor me obriga a voltar). Mas tem sido agonizante ver como a Internet tem cada vez mais obrigado TODOS a se tornarem publicitários, vendendo o tempo todo a si mesmos.
Instagram hoje só aparece conteúdo pago, “post patrocinado” e, além da venda de cursos, para mim o que mais aparece é rapazinhos sem camisa. O cara patrocina post dele na piscina. O cara paga pra você vê-lo sem camisa. É o povo pagando para ser famoso, ser amado, ser seguido.
Já tô velho demais para este mundo.
Nesses 20 anos de carreira (como escritor), me sinto cada vez mais perdido. Parece que no começo eu sabia mais o que fazer, como fazer e acontecer (e acontecia). Agora, a cada livro, encontro um terreno desconhecido (no anterior, foi a pandemia) em que tenho de repensar totalmente a maneira de promover um livro, de tentar chegar às pessoas.
Não tem chegado. (E não é nem o livro em si, é a “mensagem”, o número de seguidores que vai se tornando proporcionalmente cada vez menor, minha presença no meio literário, o alcance cada vez limitado...)
(Você já conhece a palavra de Santiago?)
Nunca dá pra confiar só na editora. Mesmo numa editora fodona, como a em que estou. O livro sempre depende do autor. A carreira é dele. É ele quem tem que fazer (escrever, divulgar, acontecer). Eu, em editora grande, tenho muito menos alcance do que muito autor da Patuá, da Nós, da Autêntica; gente mais bonita, malemolente e integrada. (O existencialismo bizarro é um projeto fracassado...)
Mas a gente segue, como sempre falo, porque antes de tudo (ainda) tenho muito prazer na prática, na escrita, na discussão sobre literatura. Um “coach literário” pode falar que estou fazendo errado. “O marketing não pode ser pensado só a posteriori, para vender o livro, Santiago. O marketing tem que estar na escrita em si, no texto vendedor...”
(Daí fodeu de vez. O existencialismo bizarro é, na verdade, literatura de autodestruição disfarçada.)
O que ferra é sempre o marketing. O que sempre ferrou e salvou minha vida foi mesmo a publicidade.
Por enquanto, não vai ter curso novo. Estou pensando em novos formatos, novas possibilidades, de repente presenciais, em outros lugares.. Vamos ver o que acontece.
Talvez estar em crise com a atualidade seja um sinal de que faço parte dela. Integrado ou não, estou pensando, agindo, e buscando alternativas para sobreviver nesse cenário. Talvez seja mais válido e consistente do que a bolha em que vivem os integrados, especialmente para quem quer criar algo consistente, que dure, que fique. A voz da literatura não deveria ser a voz dos outsiders?
Mas o que ficará daqui a cem anos, meus livros ou um canudo de plástico?