A literatura liberta, a literatura transforma, a literatura faz um mundo melhor...
Sempre combati esses chavões. Primeiro, porque acho que é esse o dever de um escritor. Segundo, porque sou malcriado. Cresci numa casa cheia de livros, e sei o quanto minha mãe abriu mão do conforto de seu berço por amor à arte. Eu também. Não pude escapar. E sempre me referi à literatura mais como uma maldição, uma maldição hereditária.
Costumo brincar que, se alguém tem toc e rinite, MORRE ao entrar no meu apartamento, por causa dos livros, da desordem, da "carga". E não é tão exagero. Quem não tem literatura desde o berço, não criou os anticorpos necessários, e muitos meninos frágeis sofreram ao dormir aqui... (Falava sobre isso na segunda-feira mesmo, numa entrevista para o Galeno Amorim.)
Ontem, minha mãe foi internada às pressas na UTI. Está com insuficiência pulmonar, não é covid, mas ainda não sabem o que é. Ela nunca fumou, nunca usou drogas, mora no meio do mato...
Comentei brincando no hospital que deveria ser os livros... O médico respondeu a sério que era possível. E listou as bactérias e fungos bibliófilos que poderiam provocar isso.
Saberemos depois da broncoscopia. Mas para mim já está decidido. São os livros, são os livros. É a maldição. Eu sempre digo.
(Dona Elisa passa bem, ainda está na UTI, mas não está entubada. Quer só ir embora logo pra casa, porque precisa entregar uma tradução...)