27/10/2023

OS MELHORES FILMES DE TERROR DE 2023





Chegamos à minha tradicional lista de dez melhores filmes de terror do ano, lançados a tempo do Halloween.

Uma nova tendência deste ano foi propostas absurdas/trash, com Ursinho Pooh assassino, bicho-preguiça assassino, homem que se veste de cachorro, urso cheirado de cocaína... Mas poucos desses foram além da piada. Também teve uma leva de filmes que misturaram a viagem das drogas com terror. 

Das franquias clássicas, tivemos poucas novidades e a única que se destacou mesmo foi a continuação de Evil Dead. Muita gente tá colocando no seu top o Cuando Acecha la Maldad, terror argentino de possessão - mas, apesar de ter gostado muito de várias cenas, de impacto, achei o filme como um todo bem truncado, mais pra piloto de uma série do que um filme. 

Mas vamos à lista: 


SKINAMARINK

Daqueles que vi ainda no final do ano passado, depois da minha lista de Halloween. É altamente experimental, baixo orçamento, mas gerou bastante repercussão e incômodo. É basicamente um longo pesadelo de duas crianças isoladas numa casa de madrugada. Remete àqueles pesadelos da infância, não é incrível, mas é diferente, inovador e merece estar na lista.

 

O MENU

Também vi no final do ano. É um thriller gastronômico com grandes estrelas (incluindo a delicinha do Nicholas Hoult) sobre um restaurante exclusivo, remoto numa ilha, que oferece uma experiência... diferente aos seus clientes. Gosto muito de toda a ambientação, o universo culinário, a tensão, embora a conclusão seja meio “meh”.

 

MEGAN

Dos grandes hits do ano, achei bem bacana. É um terror meio juvenil (tentei levar para minha sobrinha de onze anos ver, mas ela não teve coragem – onde foi que eu errei na criação dessa menina?), estabelece uma nova franquia, com uma boneca-robô-cibernética que enlouquece e passa a matar geral. Bem divertido.

 

O URSO DO PÓ BRANCO

Um carregamento de cocaína cai de um avião, um urso encontra, cheira, fica doidão e toca o terror num parque florestal. Daquelas propostas sem noção, que surpreendeu pelo gore e pelo humor ousado (incluindo crianças e drogas). Melhor do que eu esperava.

 

SWALLOWED

Sequência do curta metragem “Bug Crush”, que eu amoooo. Aqui, dois amigos se sujeitam a ser mulas, transportando uma estranha droga pela fronteira EUA-Canadá, mas as coisas começam a dar bem errado quando a droga começa a fazer efeito. Body horror BEM gay, com direito a nu frontal delicinha. Não é perfeito, o terceiro ato é bem arrastado (talvez funcionasse melhor como outro curta), mas não tinha como eu não gostar...

 

EVIL DEAD RISE

Um novo Evil Dead, dessa vez ambientado num prédio de apartamentos, com uma mãe possuída perseguindo seus filhos. Violento, insano, faz jus ao legado da franquia.

 

INFLUENCER

Das melhores surpresas do ano. Uma psicopata stalkeia influenciadoras digitais, para lhes roubar tudo – namorado, seguidores, a VIDA – com ajuda das novas tecnologias, como deep fake. Bem divertido, surpreendente, cheio de reviravoltas. Adorei.

 

FALE COMIGO

Usando uma estranha mão embalsamada, jovens fazem contatos com espíritos e usam a possessão como uma droga em festinhas - e claro que as coisas fogem do controle. Adorei esse terror australiano, mas fiquei meio triste. Essa premissa de possessão como uma droga era algo que eu tinha como um argumento, há anos, que nunca consegui desenvolver. Agora foi pro saco de vez. (Mas também, terror no Brasil tinha muito menos chance de vingar, fosse em livro, fosse em filme).

 

A WOUNDED FAWN

Outro filme experimental, meio giallo, que mistura o desconforto de um começo de namoro com um terror surrealista, a lá Zé do Caixão. Começa ótimo, depois se arrasta um pouco, mas é ousado, diferente e com um final ótimo.

 

GOOD BOY

E para fechar, mais um com uma proposta bizarra – filme norueguês. Uma jovem começa um namoro pelo Tinder. O cara é lindo, rico e fofo, mas tem uma excentricidade: mantém como animal de estimação um cara vestido de cachorro. É menos despirocado do que parece – podia enlouquecer mais no final. Mas é inusitado, divertido (e é outro com protagonista delicinha).


26/10/2023

O AUTOR NADA SABE



Ontem fui jantar com amigos professores, acadêmicos, aniversário de um amigo querido que fez mestrado na minha obra.

Depois das azeitonas, começaram a conversar sobre um conto meu. Havia sido trabalhado em sala de aula. Me falaram da reação dos alunos, das discussões, da indignação...

Uma das professoras não conhecia o conto, e o mestre em Nazarian foi narrando suas impressões, fez sua análise.

"Não sou capaz de opinar", fiz a Glória Pires. Não só porque eu era o autor, incapaz de enxergar minha própria obra, a meleca debaixo do meu nariz, mas porque eu mal me lembrava dos detalhes do conto. Lembro pouco do que eu mesmo escrevi (menos ainda do que eu já li); quando tenho de dar uma entrevista sobre um livro antigo, me lembro mais do que eu já falei sobre o livro do que de fato o que eu escrevi.

Mas a conversa, a discussão, me demonstrou como nós (autores) não temos noção aonde chegam nossos textos. Sempre falo isso: livro não tem aplauso. A gente não sabe como o livro ecoa nos leitores, onde eles riem, o que eles acham uma merda.

A experiência mais próxima que tive disso foi uma vez que lemos BIOFOBIA inteiro em voz alta - eu, Beto Brant, Marçal Aquino e Renato Ciasca, na época em que estávamos trabalhando na adaptação para cinema (que nunca foi filmada). Lá eu tive a experiência única de ver um público rindo de determinada frase no livro, às vezes apontando: "isso é ótimo", às vezes deixando de apontar inconsistências...

Aconteceu de forma parecida quando o Evandro Affonso Ferreira, que tinha um sebo, me presentou com meu próprio primeiro livro - Olívio - numa cópia que tinha sido lida pelo Bernardo Carvalho - toda anotada por ele. Tinha passagens marcadas com "lindo" outras com "péssimo" (e não sei por que o Bernardo acabou se desfazendo do livro, parece que ele faz isso sempre; de todo modo, ele fez uma bela resenha na Trip).

Então é essa sensação que eu procuro dar ao autor quando faço uma leitura crítica. Sublinho frases e coloco o "péssimo", o "cafona", mas também o "adorei". Sei bem como a gente, como autor, carece de público...

Voltando à mesa de ontem, me admirei em saber da repercussão do conto. Pra mim, não havia tido repercussão nenhuma... e era um conto pesado... sobre pedofilia... publicado no excelente jornal literário Cândido, há uns bons anos. (Será que seria publicado hoje em dia? Sempre lamento o quanto retrocedemos, o quanto encaretamos, o quanto os tabus se reimpuseram.) Fiquei surpreso quando o jornal decidiu publicar. Achei que podia dar merda. Achei que não tinha dado nada. Sempre acho que não deu em nada. O autor nada sabe.

(Reli o conto hoje e me lembrei. Ainda gosto. Pode ser lido na íntegra aqui: https://www.bpp.pr.gov.br/Candido/Pagina/Conto-Santiago-Nazarian )

14/10/2023

VISÃO CRÍTICA



Mais uma leitura crítica/parecer entregue.

Livro ÓTIMO.

Quando o livro é bom, é sempre mais difícil. Não tenho tanto o que dizer, não sei se estou à altura (mas a leitura crítica também é sobre isso, como o livro pode ser percebido por um leitor médio).

Paradoxalmente, este foi dos anos que mais li na vida. Só como jurado do Prêmio Sesc e Prêmio Oceanos, foram mais de DUZENTOS livros! (Claro, tem alguns que você lê as primeiras páginas e percebe que não tem a menor condição de indicar para a próxima fase. 
Mas, quando a leitura é parte do seu trabalho, você está recebendo para isso, você consegue dedicar muito mais tempo, porque não fica restrito aos momentos de lazer. Seu dia inteiro de trabalho é para isso.) Também fiz muita leitura crítica e teve vários, vários lançamento de amigos (que eu li "de graça", ou quase, na esperança de também ser lido...).

(Assim, acabei lendo praticamente só literatura brasileira contemporânea. Preciso voltar a ler mais em inglês, francês, espanhol...)

E digo "paradoxalmente" porque, no ano em que mais li, minha vista tá cada vez pior. AINDA estou adiando os óculos, nunca usei. Na tela do computador, os docs e pdfs, consigo ler/escrever perfeitamente. Em livro, já tá bem mais difícil. (Tenho aproveitado a luminosidade do Parque Augusta, assim já me brozeio, biscoiteio, contraio um câncer de pele. Com luz do sol consigo ler tranquilamente sem óculos - já de noite, na cama....)

(Mas é a ausência de óculos que me faz acreditar que ainda sou belo!)

De todas essas leituras, arrisco dar algumas tendências da literatura brasileira contemporânea:

- Volta forte do regionalismo
- Influência "torto-aradense"
- Flerte com o teatro
- Pauta identitária homossexual

(Acho que só vou ceder de vez aos óculos quando resolver ressuscitar meu Nintendo DS.)

NESTE SÁBADO!