06/04/2024

ZIRALDO

Ziraldo em Búzios, 2015.


Acabei de saber do Ziraldo.

Falava esses dias, com meus alunos de Caminhos da Publicação, sobre os escritores lendários com que cruzei nesses vinte e pouquinhos anos de carreira – Millôr, Noll, Lygia, Scliar, Márcia Denser, Victor Heringer...

E teve também o Ziraldo.

Confesso que Ziraldo não foi um autor importante na minha infância. Minha mãe, livreira, achava suas lições de moral de uma pieguice só, então nunca tivemos os livros em casa. Fui ter contato bem mais tarde, cruzando pelo cena literária, em hotéis, festivais, e numa noite em que ele morreu, em Búzios.

Era um festival da Melhoramentos, eu tive uma mesa com o Tiago de Melo Andrade e o Raphael Montes; Ziraldo teve a sua logo em seguida. Depois saímos todos para jantar, Ziraldo, editoras, namorados; bebemos pouco, comemos sushi, testemunhamos o bom papo dele (e sua mão carinhosa passeando pelas pernas das jovens...). Voltei cedo para o hotel, com meu ex, e quase morremos naquela noite.

Tivemos algum tipo de infecção alimentar. E havíamos todos partilhado da mesma bandeja de sushi. Enquanto eu vomitava copiosamente no banheiro, só conseguia pensar: “Caralho, se a gente tá assim, o Ziraldo morreu...”

No dia seguinte, descobri que só eu e meu ex havíamos sido premiados; ninguém mais passou mal.

Isso foi em 2015, mas acho que nunca mais vi o Ziraldo. Há poucos anos, cheguei a traduzir alguns livros dele para o inglês – O Menino Marrom, O Menino de Júpiter –, foi um trabalho delicioso, complicado com as rimas, mas discutido todo com a Editora; nunca cheguei a saber o que ele achou (ou mesmo se chegou a ler). Pude então me debruçar e entender melhor a sua obra.

Ficam então boas lembranças, lembranças divertidas, lembranças controversas, mas sem dúvida o reconhecimento do privilégio de ter conhecido essa figura lendária da nossa cultura, dono de um traço inconfundível e de lições de moral questionáveis...

(na foto: a única imagem que tirei de Ziraldo naquela noite.)




NESTE SÁBADO!