30/07/2024

20 ANOS DE BLOG

 

Meu blog está fazendo... VINTE ANOS. É o blog de literatura mais antigo do país, ainda em atividade.

Começou depois de eu publicar meu segundo livro, como uma maneira de meus leitores me encontrarem, saberem o que eu estava fazendo, numa época em que não havia tantas redes sociais.

Nunca ganhei UM CENTAVO com ele, nunca nem tentei monetizar. Sempre foi um espaço independente para eu publicar meu ponto de vista, minha visão do meio literário, minhas leituras, filmes, discos, tretas e várias questões pessoais, porque um blog é para isso. Registrei em palavras e em fotos dezenas de festivais literários, lançamentos, debates, reproduzi matérias que escrevi pra Folha...

No começo, tinha espaço para comentários, mas quando o blog começou a bombar, com minhas idas ao Programa do Jô, houve uma invasão de haters, muita gente doída do jovem escritor que fazia sucesso, e acabei tirando a interação.

Muito do sentido original do blog hoje se diluiu em outras redes – Facebook, Instagram, os vídeos. Já não posto cada filme, cada livro, cada encontro, deixo o blog para reflexões menos passageiras ou registros mais importantes. Mas ainda faço questão de atualizar, umas duas vezes por mês, exatamente para manter esse registro longevo. Vira e mexe eu mesmo consulto o blog quando quero me lembrar em que ano fiz tal viagem, fui a tal festival, resgatar fotos antigas...

Nos posts mais recentes mesmo eu discorro sobre a Feira do Pacaembu, tem uma entrevista que dei pro Estadão, minha viagem de aniversário para a Serra da Mantiqueira, uma lista com os 40 livros gays mais importantes para mim...

Muita gente que eu encontro diz que ADORAVA meu blog, que achava inspirador, pergunta se ainda está ativo. Fui checar quantos acessos tem, porque não fazia ideia, há anos não verificava – e tem lá, atualmente uns 150, 200 acessos por dia, melhor do que eu pensava. Nas abas secundárias também fica o serviço da minha bio, uma agenda e as obras que publiquei, mais confiável e completo do que no Wikipedia.

Todo o conteúdo continua disponível. Tenho certo medo de ver o que tem lá, das besteiras que escrevi no passado, mas não serei revisionista, tá tudo lá. Nesses 20 anos eu só fui mudando o layout e o título do blog, mas o endereço é o mesmo (serei o último sobrevivente do blogspot?)

 

25/07/2024

DIA DO ESCRITOR





Neste sábado terei o prazer de conversar pela primeira vez com o queridíssimo Alexandre Vidal Porto, que lançou um dos grandes livros do ano passado - "Sodomita", pela Companhia das Letras. Será também minha PRIMEIRA mesa sobre "Veado Assassino", veja só. Tenho feito muito pouco debate, então é uma chance de me encontrar, me bulinar, levar livros para autografar e tudo mais. Será na Livraria Na Nuvem, dentro do Café Colombiano, em Campos Elíseos, mediados pela querida Rita Couto. 

SEMANA QUE VEM começa minha Oficina do Personagem - um curso novo que vou dar focado em construção de personagem, para tirar esse ranço da autoficção. É um curso mais interativo, com os alunos trazendo seus temas para criarmos personagens que carregarão as tramas. Nem tinha divulgado ainda aqui, porque já se formou uma turma boa, quase fechada. Mas se um ou outro ainda quiser, dá para se inscrever. Aqui: 




E HOJE, que é Dia do Escritor (mais um? Parece que é todo dia...) o Estadão fez uma matéria sobre a situação atual do escritor no Brasil, entrevistando grandes nomes... além de mim. Deixo o link aqui e minhas respostas na íntegra, que acho que a discussão rende: 


1. Como é ser escritor no Brasil hoje? É uma profissão romantizada?

Ser escritor no Brasil hoje é uma gama de possibilidades muito maior do que era no século passado. Como toda a cultura pós internet, o mercado se fragmentou. Há escritores de autopublicação na Amazon que têm milhares de leitores e nem conhecemos. Tem os autorzões de respeito do Jabuti. Os bestsellers voltados a um público jovem. Autores do Tik Tok... Então existem romantismos de vários tipos. Você pode romantizar ser Itamar Vieira, ou romantizar ser Raphael Montes, Tati Bernardi,  Theago Neiva ou Arlene Diniz... Isso não quer dizer que ficou mais fácil. Há espaço para todos... ou quase todos, mas o número de leitores não se ampliou, apenas se fragmentou. 


2. É possível viver da escrita e da venda de livros no Brasil? Ou é necessário ampliar o leque de atividades para completar a renda e pagar os boletos?

Sim. Viver da escrita é uma realidade para muitos escritores nas últimas décadas, exatamente por essa fragmentação. O escritor pode dar aulas, escrever para jornal, fazer tradução, roteiros (que é um mercado que cresceu muito, primeiro com a retomada do cinema nacional, depois com a TV a cabo e depois com os streamings). Tudo isso É viver da escrita, são atividades que agregam ao escritor e, ao meu ver, fortalecem sua literatura. Agora, viver da venda de livros é outra coisa. Fora os bestsellers, geralmente conseguem aqueles que trabalham com literatura infantojuvenil, pelo simples fato de que conseguem escrever e publicar com mais frequência, têm mais livros, porque têm menos texto. Um autor de literatura infantil consegue publicar vários livros num ano, ganhando por cada um o mesmo que um romancista que ficou cinco anos escrevendo uma obra. 


3. Quais são os principais obstáculos que você enfrenta para publicar e distribuir suas obras no mercado editorial brasileiro?

Aqui é uma percepção muito pessoal minha. O obstáculo para mim é que não me encaixo exatamente em nenhum desses fragmentos - eu não me encaixo no perfil autorzão de respeito, mas também não sou um autor comercial; lanço mais provocações do que bandeiras; sou um autor alternativo que publica por editoras grandes, então fico meio isolado, as próprias editoras não sabem direito como me vender. E tenho notado cada vez mais dificuldade nisso, meus temas, meus próprios títulos são barrados hoje pelos filtros que desmonetizam conteúdos... Quem vai colocar "Veado Assassino" numa programação oficial ou mesmo num título de Youtube? Mas a provocação é a marca da minha literatura, é isso que vim fazer aqui, e para isso há cada vez menos espaço, cada vez menos espaço para o controverso. 


4. Quais foram as principais mudanças no fazer literário, especialmente depois do movimento que ampliou a publicação de obras que atendem a pautas sociais e identitárias?

Não acho que o fortalecimento das pautas identitárias tenha alterado o fazer literário. Sempre há ondas de pautas na literatura, e os autores identificam-se ou não, tentam fazer parte ou remar ao contrário. E ainda que a literatura dita de respeito (ou as "editoras ditas de respeito") tenha adotado essas pautas nos últimos anos, há também diversas outras correntes em paralelo - se o feminismo vem com força na literatura premiável, por exemplo, há também todo um submundo de livros de mulheres submissas, que encontram o grande amor num homem poderoso, autoritário, que se transforma em lobisomem. 

09/07/2024

TODA A VERDADE SOBRE A FEIRA DO LIVRO!


Del Fuego, Tracy, eu e meu mestre Furtado na Feira do Livro do Pacaembu.


Tá tipo a Flip, só que do lado de casa.


Eu dei só uma passada, nos dois domingos, para encontrar amigos, colegas, fazer a social e tentar ser finalmente feliz. Bate um pouco aquele clima “Malévola", né? De uma feira paulistana, muito da panelinha Quatro-Cinco-Um-Companhia-Todavia, da qual eu não faço muito parte. (Meu livro tava lá, o Veado, no estande da Companhia, meio escondidinho, mas tava.) Vejo muito autores se queixando disso, da panelinha, os mesmos debates/convidados de sempre. Mas acabam convidando quem está vendendo. Para discutir as pautas (exaustivas) do momento. E quem se alinha com a linha editorial da organização... O que eu acho meio limitante.

Isso porque esses debates parecem ser sempre mais de auto-exaltação, buscar mais um consenso entre os participantes do que uma discussão. Eu entro numa discussão quando acho que tenho algo diferente a acrescentar (como no caso sobre a Censura aos Livros), mas o meio editorial brasileiro é um meio pequeno e frágil, que tenta sobreviver e não está interessado na contestação. (Pelo menos essa fama de “sincerão” tem me rendido muito job de leitura crítica – em privado, ainda querem saber o que tenho a dizer...)

Mas a feira também serve para essas discussões privadas. Encontrei muita, muita gente legal, editores, agentes, autores, amigos, leitores gatinhos e até minha sobrinha tava saracoteando por lá (e tive de puxá-la para uma foto, porque criança e cachorro sempre aumentam engajamento, e cachorro eu não tenho). E a gente pôde discutir coisas como essas nos bastidores, nos estandes. Sempre falo isso: acho imprescindível o autor participar desses eventos, trocar ideias com os pares, afastar (ou confirmar) paranoias, ver que não somos tão especiais ou desprezados assim. Não dá para esperar sempre (ou nunca) estar na programação oficial; dá para ir ouvir os colegas da vez, e continuar a discussão nos bastidores.


Danilo, Valentina e o Biajoni, na social louca de domingo. 

E claro que faz toda a diferença eu estar numa região central, em São Paulo, ser só uma caminhada para ver a Tatiana Salem Levy e a Tati Bernardi falarem na Megafauna, ou o Marçal e o Bonassi na Livraria na Nuvem. À Feira do Pacaembu eu chego em 40 minutos, caminhando tranquilo, ouvindo um suedezinho, com meu GALAXY BUDS PRO 2 – que garante até três horas de música com redução de ruídos (Use o cupom: NAZA20 e peça o seu com descon... Mentira).

Essa diferença da FLIP faz toda a diferença: dá pra eu ir, passar duas horinhas e voltar. Porque para passar dias naquele circo de vaidades, com todo mundo tentando se vender, como na FLIP, eu acho que não tenho mais energia... (Todo ano eu penso ano em ir, todo ano eu desisto, todo ano me arrependo, mas penso que se tivesse ido me arrependeria mais.)

Aproveitando, este ano quem primeiro me puxou para a feira foi a querida Tracy Mann, autora norte-americana que escreveu um livro FODÁSTICO, que eu traduzi: “O Mundo Todo É Bahia.” É um livro de memórias dela nos anos 70, quando veio fazer um intercâmbio aqui em São Paulo e se apaixonou pelo país. Acabou fugindo para a Bahia (naquele sonho de viver na praia, tão arquetípico de meninas no final da adolescência) e conheceu Gil, Caetano, Wagner Tiso, Milton Nascimento, Tom Jobim e mais uma porrada. Virou uma espécie de Forrest Gump da MPB. O livro acaba sendo tanto um romance de formação quanto um registro da cena musical da MPB, em plena ditadura. Eu traduzi direto de encomenda para ela – tem algumas editoras lendo, mas parece que ela ainda não fechou a publicação no Brasil (fica a dica).

Tracy e eu.


(Anedota real da Feira: Encontrei a Tatiana com a filhinha. Ela me apresentou: "Filha, ele tem um coelho!" A menina foi direto pra minha BARRIGA! "Cadê?!" Não sei se ela me achou gordo, se achou que eu era mágico, que ia tirar um coelho de dentro da camisa...)

Del Fuego, Tatiana e sua filha procurando meu coelho...

VAMOS AO CINEMA?