25/07/2024

DIA DO ESCRITOR





Neste sábado terei o prazer de conversar pela primeira vez com o queridíssimo Alexandre Vidal Porto, que lançou um dos grandes livros do ano passado - "Sodomita", pela Companhia das Letras. Será também minha PRIMEIRA mesa sobre "Veado Assassino", veja só. Tenho feito muito pouco debate, então é uma chance de me encontrar, me bulinar, levar livros para autografar e tudo mais. Será na Livraria Na Nuvem, dentro do Café Colombiano, em Campos Elíseos, mediados pela querida Rita Couto. 

SEMANA QUE VEM começa minha Oficina do Personagem - um curso novo que vou dar focado em construção de personagem, para tirar esse ranço da autoficção. É um curso mais interativo, com os alunos trazendo seus temas para criarmos personagens que carregarão as tramas. Nem tinha divulgado ainda aqui, porque já se formou uma turma boa, quase fechada. Mas se um ou outro ainda quiser, dá para se inscrever. Aqui: 




E HOJE, que é Dia do Escritor (mais um? Parece que é todo dia...) o Estadão fez uma matéria sobre a situação atual do escritor no Brasil, entrevistando grandes nomes... além de mim. Deixo o link aqui e minhas respostas na íntegra, que acho que a discussão rende: 


1. Como é ser escritor no Brasil hoje? É uma profissão romantizada?

Ser escritor no Brasil hoje é uma gama de possibilidades muito maior do que era no século passado. Como toda a cultura pós internet, o mercado se fragmentou. Há escritores de autopublicação na Amazon que têm milhares de leitores e nem conhecemos. Tem os autorzões de respeito do Jabuti. Os bestsellers voltados a um público jovem. Autores do Tik Tok... Então existem romantismos de vários tipos. Você pode romantizar ser Itamar Vieira, ou romantizar ser Raphael Montes, Tati Bernardi,  Theago Neiva ou Arlene Diniz... Isso não quer dizer que ficou mais fácil. Há espaço para todos... ou quase todos, mas o número de leitores não se ampliou, apenas se fragmentou. 


2. É possível viver da escrita e da venda de livros no Brasil? Ou é necessário ampliar o leque de atividades para completar a renda e pagar os boletos?

Sim. Viver da escrita é uma realidade para muitos escritores nas últimas décadas, exatamente por essa fragmentação. O escritor pode dar aulas, escrever para jornal, fazer tradução, roteiros (que é um mercado que cresceu muito, primeiro com a retomada do cinema nacional, depois com a TV a cabo e depois com os streamings). Tudo isso É viver da escrita, são atividades que agregam ao escritor e, ao meu ver, fortalecem sua literatura. Agora, viver da venda de livros é outra coisa. Fora os bestsellers, geralmente conseguem aqueles que trabalham com literatura infantojuvenil, pelo simples fato de que conseguem escrever e publicar com mais frequência, têm mais livros, porque têm menos texto. Um autor de literatura infantil consegue publicar vários livros num ano, ganhando por cada um o mesmo que um romancista que ficou cinco anos escrevendo uma obra. 


3. Quais são os principais obstáculos que você enfrenta para publicar e distribuir suas obras no mercado editorial brasileiro?

Aqui é uma percepção muito pessoal minha. O obstáculo para mim é que não me encaixo exatamente em nenhum desses fragmentos - eu não me encaixo no perfil autorzão de respeito, mas também não sou um autor comercial; lanço mais provocações do que bandeiras; sou um autor alternativo que publica por editoras grandes, então fico meio isolado, as próprias editoras não sabem direito como me vender. E tenho notado cada vez mais dificuldade nisso, meus temas, meus próprios títulos são barrados hoje pelos filtros que desmonetizam conteúdos... Quem vai colocar "Veado Assassino" numa programação oficial ou mesmo num título de Youtube? Mas a provocação é a marca da minha literatura, é isso que vim fazer aqui, e para isso há cada vez menos espaço, cada vez menos espaço para o controverso. 


4. Quais foram as principais mudanças no fazer literário, especialmente depois do movimento que ampliou a publicação de obras que atendem a pautas sociais e identitárias?

Não acho que o fortalecimento das pautas identitárias tenha alterado o fazer literário. Sempre há ondas de pautas na literatura, e os autores identificam-se ou não, tentam fazer parte ou remar ao contrário. E ainda que a literatura dita de respeito (ou as "editoras ditas de respeito") tenha adotado essas pautas nos últimos anos, há também diversas outras correntes em paralelo - se o feminismo vem com força na literatura premiável, por exemplo, há também todo um submundo de livros de mulheres submissas, que encontram o grande amor num homem poderoso, autoritário, que se transforma em lobisomem. 

VAMOS AO CINEMA?