04/04/2010

"A PÁSCOA CHEGOU, TRAZENDO AMOR..."



Isso é o que acontece quando a gente fica sem Internet e TV a cabo...


- Meio afastado daqui do blog. A Oi tem o pior serviço do mundo, mas o único de banda larga aqui na Barra, e ainda estou sem Internet.

- E apesar dessa aparente vida mansa à beira-mar, estou com um volume intenso de trabalho. Traduzindo dois livros, fazendo o parecer de um outro, a orelha de um quarto e ainda meus dois livros...

- Neste domingo chuvoso de Páscoa fiz também o conto para uma revista. Ficou um pouco longo – na verdade o dobro de caracteres que a revista tinha pedido – se eles não aceitarem, coloco aqui. Começa assim: “Minha mãe morreu e eu ganhei um apartamento com vista para o mar.”

- Tenho acordado cedo – bem, nove horas para mim é cedo. Trabalho até as cinco depois caminho até a Lagoa, e faço academia. A academia tem sido praticamente uma desculpa para caminhar, porque levo uma hora e meia para chegar lá, malho meia hora e volto.

- E a praia é tão perto que na hora do almoço sempre dá para dar uma corridinha.

- Neste sábado de feriado fui até a Mole, que fica meia hora à pé daqui. Levei trabalho. Um livro pra parecer. Mas fiquei lendo na areia, comendo lula a dorê.

- De madrugada, nadei no mar aqui de casa. Não pude pensar num programa melhor de sábado. E não sei quando vou ter vontade de sair na noite do centro.

- Minhas poucas conversas aqui são em inglês. Impressionante como é cheio de estrangeiros. Sexta fui jantar bacalhau na pousada de minha “familinha verde”, e fiquei por lá bebendo e conversando com alemães, suiços, finlandeses...

- Mas no geral tem sido melancolicamente solitário, no bom sentido.

- Alguns amigos e leitores me escreverem convidando, propondo, mas vim antes de tudo para ficar sozinho, e aqui é tudo tão longe, eu não tenho carro, e não pretendo ficar circulando pela ilha. Só estou planejando fazer uma volta... inteira... a pé.

- A floresta fica aqui atrás. Além das vacas, tem corujas, gaviões, e já vi uma cobra coral – morta.

- A casa é muito grande e já estou tendo problemas para limpar. Tem areia para todo lado. Preciso arrumar uma faxineira.

- Dia desses eu escrevia de madrugada na varanda, olhando a rua, as pessoas passando, e pensava em como isso é falso, como eu não pertenço aqui, como eu sempre veria tudo de fora, mesmo na varanda, mesmo na minha casa, esta vila de pescadores não seria a minha...

- Mas na verdade é tudo besteira. Porque lembrei de mim mesmo olhando pela janela do meu apartamento em São Paulo. Aquele também não é meu mundo. As casas tocando pagode. Os vizinhos gritando por seus times, dançando o Rebolation.

- Eu poderia pensar que pertenço de fato ao jardins da minha infância, mas é só porque estou distante; na verdade seremos sempre forasteiros. Estaremos sempre ilhados, eu e você.

TIREM AS CRIANÇAS DA SALA

(Publicado na Ilustríssima da Folha deste domingo) Do que devemos proteger nossas crianças? Como não ofender quem acredita no pecado? Que ga...