02/12/2004

PEQUENAS HISTÓRIAS DE OLHO GRANDE

Semana passada dois sites me pediram contos. Mandei "O Pequeno Conto que Sorri" para o Patife e "Quasímodo" para o Portal Literal. Assim que estiverem no ar eu coloco os links aqui.

Não tenho muitos contos circulando, também é raro me pedirem. Estava fazendo um inventário do que foi espalhado.

Em livro, tenho o "Pó de Vidro e Veneno de Cobra", que saiu na Ficções-12, um conto sobre "o efeito da cocaína na fosseta loreal das serpentes", ou algo assim. Tem "A Mulher Barbada", escrito em Parati para o "Parati Para Mim", que teve uma divulgação maciça na época e sobre o qual a Beatriz Resende escreveu no JB: "Nazarian faz uma experiência radical de escrita literária. (...) Terminado o conto me ficou um conto travado, mas muito forte, de ter saboreado esse fruto incomum, que é o literário em estado puro."

Tem também o "microconto" dos "Cem Menores Contos do Século". É assim: "Só tiro o dedo da boca para furar seus olhos". Só isso. Pra falar a verdade, eu não gosto muito. Eu tinha mandado outros dois para o Marcelino, mas por alguma razão ele escolheu esse. Os outros eram:

"Esqueça a poesia. Ela vai me matar. Chame a polícia."

E

"Em poucas palavras, o poeta vira publicitário."

Ahaha, ok, esse último eu confesso que escrevi de sacanagem.

Fora isso, parece que o Bruno Saito (Folha) colocou um conto meu, "Garotos Podres", numa revista da USP há milênios, mas eu nunca vi. É um conto quase da minha "pré-história constitucional", 1998, na verdade, mas eu ainda adoro, então ACABEI DE COLOCAR LÁ NO LINK "FORMIGAS NO AÇÚCAR".

Tenho também o "594 Formigas no meu Açúcar", que estava num site gótico (e talvez ainda esteja), que também é bem antigo... e não tão bom.

Mas o estoque de contos aqui de casa é imenso. 46, na verdade. Daria um livro com mais de duzentas páginas. Eu estou juntando, e quando der um livro com mais de 300, eu publico. : ) Vira e mexe eu os reuno e os registro.

Aliás, uma das perguntas que fizeram no "Encontros de Interrogação" do Itaú foi sobre isso, o espaço do conto e do romance na cena contemporânea brasileira. Eu continuo achando que romance tem mais mercado. É tanto escritor novo lançando coletâneas de contos, que acabam passando despercebidos. Romance tem mais impacto. Fora que escrever romance é muito mais gostoso, você carrega a história, os personagens com você por muito mais tempo...

Mas já li vários livros de contos maravilhosos. "Os Famintos", do Thomas Mann, é uma antologia com coisas que ele produziu durante toda a vida. Tem contos que ele escreveu ainda bem jovem, como "O Pequeno Sr. Friedmann", "O Caminho do Cemitério" e "O Menino Prodígio". Todos eles têm aqueles valores Mannianos, que podem ser encontrados nos romances mais famosos dele, como "A Montanha Mágica" e "Morte em Veneza". E ainda têm um clima mais romântico e ingênuo que ele foi perdendo com a idade (ou talvez com o Nobel, haha).

Outro que gosto bastante é o Saki (pseudônimo de Hector Hugh Munro). Não sei se ele tem alguma coisa em português. Eu tenho as obras completas em inglês. São contos curtíssimos, sátiras da sociedade inglesa no começo do século vinte, com um humor "dandy" bem wildeano. Ele também tem algumas coisas de terror/fantasia, mas sempre com esse olhar "glam".

Dos nacionais, (o livro de contos) "Morangos Mofados" do Caio Fernando Abreu já é um clássico. Outro dia estava conversando com o Ismael sobre isso. Não dá para ignorar "Pela Passagem de Uma Grande Dor", "Aqueles Dois" e mesmo "Sargento Garcia". Mas eu não sou fã incondicional do Caio, não. Nesse mesmo livro tem o conto "Diálogo", que eu acho uma idiotice. E o romance "Onde Andará Dulce Veiga", cá entre nós, eu também não agüento...

Recentemente comecei a me aprofundar na obra da Clarice. Descobri "Felicidade Clandestina", "A Quinta História", "O Crime do Professor de Matemática" e outros contos delicados e importantes. Mas é por causa de coisas como "Aniversário" (que eu coloquei aqui no site) ou de "O Primeiro Beijo", que a imagem dela nunca será imaculada para mim. Clarice tambem pisa na bola e deixa pra história. No cômputo total da obra, prefiro a Lygia, "As Formigas", "Verde Lagarto Amarelo", "Seminário dos Ratos"...

Tem também o "Noite na Taverna", do Álvares de Azevedo, que nenhum gótico pode desprezar; "Contos Novos" do Mário de Andrade; alguns contos do Moacyr Scliar. Mas talvez o meu livro de contos nacionais favorito seja "O Cego e a Dançarina" do João Gilberto Noll, especialmente "Alguma Coisa Urgentemente", "Miguel, Miguel, Não Tens Abelhas e Vendes Mel" e "O Meu Amigo", esse último talvez seja MEU CONTO FAVORITO DE TODOS OS TEMPOS.

Bem, o livro está esgotado há tempos, mas pode ser encontrado dentro do volume "Romances e Contos Reunidos" do Noll, lançado pela Cia das Letras, e quem estiver muito curioso consegue ler numa livraria, porque esse conto é curto. "O Meu Amigo".

Outro dos meus favoritos é o conto do Paulo Henriques Britto – "O Companheiro de Quarto", que pode ser lido no site da Editora 7 Letras.

Dos mais atuais, o Marcelino Freire, com seus "Balé Ralé" e "Angu de Sangue" faz a diferença. Eu prefiro o "Angu", mas os dois livros tem uma linguagem bem interessante, sonora, um ritmo dinâmico. Parecem mesmo contos para se ler em voz alta.

Que mais de novo? Teve a revista "Ácaro", do Paulo Werneck e do Chico Mattoso, que trouxe contos ótimos da "minha geração", contos para ser lido em revista mesmo, mas só durou dois números. De qualquer forma, elas ainda podem ser encontradas pelas FNACS por aí. A primeira tem um conto que eu adoro do Antônio Prata, chamado "Flexibilidade".

Hum, muitos outros. Sempre chegam livros aqui em casa. E eu comento quando é oportuno. O último que ganhei foi o "Pequeno Dicionário de Percevejos" das mãos (e da autoria) do Nelson de Oliveira, mas não li ainda. Estou lendo o romance "Boquinhas Pintadas", do Manuel Puig, que ganhei do Donizete Galvão, além de me aprofundar nos estudos de herpetologia e finlandês.

Ah, e ainda quero encontrar as páginas para ser feliz...


NESTE SÁBADO!