14/02/2005

TROQUE SEU BESTSELLER POR UMA CRIANÇA POBRE

Vou começar essa campanha. Isso porque cada vez mais vejo "O Código da Vinci" à minha volta, e sua fórmula se repete e propaga em novos bestsellers que surgem por aí. Eu não li, mas não gostei. Heheh, brincadeira, nada contra, até tenho curiosidade, mas acho que o Dan Brown não precisa mais da nossa grana, né? Existem muitos autores bons por aí. Por que ao invés de alguém comprar o livro que "todo mundo está lendo", essa pessoa não procura seu herói particular? Tipo, Santiago Nazarian.

Ok, ok, agradeço a vocês, fiéis escudeiros.

Bem, claro que eu também queria vender pencas e ficar rico, mas o Dan Brown já conseguiu isso, agora ele podia ficar satisfeito. Quem sabe não se podia criar uma lei que a partir da quarta edição o autor tinha de doar seus direitos autorais a autores iniciantes e/ou desconhecidos? Haha, pensando bem, é mais ou menos isso que acontece nas editoras, né? Eles precisam dos Browns para continuar editando os Nazarians. Hum, então acho que estou aproveitando os royalties das "Vidas de Chico Xavier"...

Falando em autores iniciantes, recebi há algumas semanas outro livro da coleção Rocinante, "O Habitante das Falhas Subterrâneas". Esse de cara já se diferencia dos outros por ser mais encorpadinho, ser um romance e ser escrito por uma menina, Ana Paula Maia.

Como eu estou lotado de coisas para ler - ganhei muitos livros e comprei outro tanto - ia dar só uma espiadinha no livro dela para depois colocar no fim da fila. Mas acabei lendo inteiro. O livro é uma delícia. Uma coisa bem adolescente, sim, mas tem um grande mérito. É narrado em primeira pessoa por um carinha de dezessete anos. Quer dizer, uma menina de vinte e poucos escrevendo como um moleque. Enfim uma mulher que não é umbiguista! Porque mulher adora escrever sobre a "condição feminina", não? Nada contra também, mas acho que é preciso surgir aquelas com personagens masculinos, histórias pra contar, coisa e tal.

Ana Paula Maia é bem convincente. Eu fiquei tentando encontrar o "olhar feminino" na coisa, pegar a autora no personagem, mas não consegui. É um moleque mesmo, meio tosco, mas queridinho. A mina sabe o que faz. Tem parágrafos longos, um capítulo só. Tem fôlego, essa Ana.

A história é o de menos, um carinha de São Paulo que vai pro Rio de Janeiro e fica zanzando por lá. Isso também é bem convincente, porque Ana Paula é carioca, mas mostra bem a visão de um paulista sobre o Rio. O livro é meio que um diário dessa viagem, cheio de erros de revisão e pontuação, todos desculpáveis, afinal, é um moleque de dezessete anos que está escrevendo, e um moleque que "não gosta de ler e aprendeu a escrever nos chats da internet".

Claro que eu poderia comparar com "O Apanhador no Campo de Centeio", tem muito do Salinger. Mas todo livro que é narrado por um adolescente o povo acaba comparando com Salinger, e não sei bem se é por aí.

Só quero deixar claro que não conheço a Ana Paula Maia, nunca a vi pessoalmente, nem sei se ela é gatinha, haha. Coloco o livro dela aqui porque a mina se puxou mesmo e o mundo (literário) está precisando disso. Parece que ela me mandou o livro por indicação do Francisco Slade, que eu só conheço de vista, e que também escreveu um belo romance pela coleção Rocinante, "Domingo".

Está tendo uma avalanche de autores jovens por aí, né? A 7 Letras tem a coleção Rocinante. A Rocco criou no ano passado a "Safra 21". Todo mundo investindo na petizada. Acho isso legal. E acredito que a Planeta é bastante responsável por esse processo, por ter criado aquele auê com o livro "Parati Para Mim", escrito por mim, Chico Mattoso e João Paulo Cuenca, na 1a Flip. Na época, saiu em tudo quanto é lugar, a gente deu entrevista até pro Jornal Hoje, Jornal Nacional, veja só.

Pode-se perguntar, quem é bom dessa nova safra? O Loyola (no Itaú Cultural) disse que "os bons são aqueles que ficarão, só o tempo dirá", mas eu acho isso um clichê mentiroso, e eu o questionei naquele momento mesmo, durante o debate. Afinal, será que todos os bons ficarão? Será que não haverá vários autores bons que não terão o destaque merecido, que se perderão no meio dessa avalanche? Ou que até terão destaque mas, por um motivo ou por outro – não necessariamente falta de talento - serão esquecidos com o tempo?

Como disse a Beatriz Bracher, no artigo que escreveu sobre "A Morte Sem Nome" na Bravo, a única forma de saber quem são os autores bons é lendo-os. Então... TROQUE SEU BESTSELLER POR UMA CRIANÇA POBRE.

NESTE SÁBADO!