ANDES AO MEU REDOR
(Santiago diz: pareco triste e melancólico? Nao, é apenas o outono que chegou a mim. E os Andes, que nao o deixa fugir.)
Nos últimos minutos da minha década de 20, eu estava sentado num bar chicoso de hotel, tomando um "pisco sour" - bebida típica chilena, algo entre a margarita e a capirinha - ouvindo um pianinho ordinário e uma chilena cantando "Desafinado", em versao portugnol.
Uma boa entrada nos trinta, de fato, uma boa demonstracao de como a vida adulta pode ser ao mesmo tempo patética e glamurosa. Aliás, essa viagem tem me parecido assim, uma boa representacao da entrada definitiva na vida adulta.
A última grande viagem internacional que eu fiz, tinha 24 para 25 anos, fui no esquema de mochilao, procurando os albergues mais baratos em cada cidade, depois saindo de noite para conhecer os "nativos" e ser hospedado em ambientes mais aconchegantes. Funcionava.
Agora, nao que eu nao saia para conhecer os "nativos", mas está difícil eles me oferecerem um ambiente mais aconchegante do que o hotel em que estou hospedado. E, sinceramente, tambem será difícil encontrar alguém que faSSa (sorri, sem cecidilha aqui) jus aos lencóis que estou pagando. Haha
Entao, sentado num bar de hotel, tomando meu pisco sour, penso como é recompensador poder entrar aos trinta pagando um hotel desses. E como é triste imaginar que eu nao serei mais capaz de fazer uma viagem no estilo mochilao.
Oh, uma ruga a mais cresce em meu rosto.
Resenhando Santiago: a cidade é linda, impressionantemente linda, super européia, e faz um friozinho agradável. As pessoas nao sao especialmente bonitas, nem feias. Parecem bastante com os paulistanos médios. Se voce andar de walkman pelas ruas (como eu ando, sempre) e nao ouvir o idioma, pode achar que está no Brasil, pela cara das pessoas. A cidade em alguns pontos lembra também outras cidades sulistas, como Porto Alegre, Floripa, Curitiba. Talvez seja o fato de serem cidades latinas preparadas para o frio. Mas Santiago é mais bonita do que todas, claro, mais rica, mais bem preservada, com parques maravilhosos, todos verticais, subindo pelas montanhas.
Parques subindo pelas paredes.
A noite lembra um pouco a noite de Porto Alegre também, e um pouco a noite de outras cidades frias como Estocolmo ou Copenhague, todas concentradas mais em restaurantes e barzinhos do que em boates, pois mesmo as boates sao como bares com pistas de danca.
Existe um grande número de restaurantes charmosinhos, e tenho feito um tour gastronomico. Até num restaurante turístico panoramico que gira eu já fui. Os pratos típicos sao em geral á base de peixes e frutos do mar, mas há heresias absurdas, como uma espécie de caldeirada que mistura bisteca de porco, frango, peixe e frutos do mar. Nao o resultado nao eh bom, claro, provei ontem.
Os precos sao um pouco mais baixos do que em Sao Paulo, mas soh um pouco. Nao dah para se sentir colonizador, haha, mas nem colonizado.
Enfim, estou me divertindo, mas nao HORRORES. Tem sido um pouco melancólico. Talvez nao seja a melhor época e a melhor cidade para se curtir sozinho, mas eu bem sei que optei propositadamente por essa melancolia.
Daqui a pouco vou ver uma peca de teatro baseada na obra do Poe. Amanha vou para Vina del Mar e Valparaiso.
Feliz dia das maes. Aí estou eu e a minha, em foto de Iwi Onodera, para uma matéria da Globo.com
PS - Deus do Céu, aqui no hotel está tocando uma versao instrumental de "Why", da Annie Lennox, com flautas peruanas...