28/08/2007

PECHUGAS EMBARAZADAS

Pra lá de Bogotá.


E lá se foi nossa linda experiência em Bogotá...

Cheguei agora, nesta terça, do “Bogotá 39”, festival de literatura organizado pelo Hay Festival (do País de Gales) que reuniu “39 dos melhores escritores latino americanos com menos de 39 anos” (segundo eleição promovida por eles), na capital colombiana.

Não sei exatamente onde eu me encaixava na seleção, já que não tenho nada de chachachá (hohoho), mas o evento não poderia ter sido melhor, com certeza o melhor evento literário que já vi, que já fui, de que já soube. Tudo deu certo, todos se deram bem, e as pessoas estavam interessadas, e a divulgação foi incrível e todas as mesas estavam cheias.


Luz Mary Giraldo (moderadora), Nazarian, um leitor colombiano, Santiago Rongagliolo (Perú), Álvaro Bisama (Chile) e Ricardo Silva (Colômbia), antes de uma mesa no colégio americano Abraham Lincoln.


Foi uma maratona. Acordávamos cedinho de manhã e voltávamos tarde da noite. Passávamos o dia em debates em escolas, universidades, bibliotecas, livrarias. Entre os debates, dávamos entrevistas, tínhamos encontros com editores, com a Secretária de Cultura e passávamos horas nas vans que nos transportavam por todos os cantos da ciudad.


As ninfetas de Abraham Lincoln.

Havia cartazes do festival por toda Bogotá. E o evento teve cobertura intensa da imprensa, jornal, televisão. Depois das mesas, éramos cercados por crianças e adolescentes que queriam pegar autógrafos e tirar fotos. Nos tornamos algo como celebridades internacionais em Bogotá, no final eu até já estava sendo reconhecido pelas ruas.


Os jovens leitores bogotenhos.


O encerramento do evento foi num grande parque, num domingo chuvoso, mas não por isso menos lotado de um público bem-humorado e participativo. Cada escritor teve de dar sua mensagem final num enorme palco, sob holofotes, e deixar sua pequena marca. Eu recitei um poema em portugnol, com 39 palavras que aprendi por lá. Ficou assim:

Una pechuga embarazada
és demasiado escalofriante
Esso me hay dito Calamar,
nuestro hermoso presidente.
Aburrido, me recorde
de los consejos de mi grillo parlante:
Qui a tiburones, caimanes y perros calientes
non se de deve nunca mirar a los dientes.


Eu, pagando mico em alto estilo.


Da cidade de Bogotá, conheci mais as escolas e locais do evento. Não tivemos muito tempo para turismo, mas segunda-feira consegui ver o Museu Botero e uma exposição psicodelíssima do argentino Julio Le Parc, que faz esculturas de luz em movimento.



Balas perdidas colombianas.


Também dei minha esticadinha para a noite, claro. Além dos jantares organizados para o festival, conheci o Theatron, uma balada enoooooooooooooooorme num antigo teatro, com várias pistas diferentes, bebida barata e gente lindíssima.


Prato típico: Ajiaco (sopa com frango, batata, abacate, creme de leite, arroz, alcaparras e milho)


Aliás, devo falar que me apaixonei pelos colombianos. Além de bonitos, lá é moda os meninos usarem cabelo comprido. Hum...

Voltei para casa com uma pilha de livros de vários dos escritores de lá. Só o festival em si já rendeu 3 textos meus publicados em revistas colombianas e numa antologia que reuniu os 39 escritores (e que está na vitrine de todas as livrarias por lá).


A linda cubana Karla Suaréz.



Também sairá ainda este ano um livro com fotos e entrevistas dos escritores do festival, flagrados pelo prestigiado fotógrafo Daniel Mordzinski. Será um belo retrato desta geração literária.

O que mais? Tanto que nem sei mais o que colocar aqui... Volto com mais consciência do meu lugar na América Latina, com uma visão mais próxima de todos os seus países e com saudades de amigos e colegas que espero ainda rever várias vezes, pelo mundo a fora.


Álvaro Enrigue (México), Nazarian, a lindíssima Cláudia Amengual (Uruguay) e Antonio Ungar (Colômbia).


Pelo menos aqui do meu lado ficará Veronica Stigger, que se tornou amiga, irmã gêmea, a melhor companhia que eu poderia ter tido pelos vôos e indiadas da viagem.

Eu, de mono-mickey, e Veronica.
Amanhã já sigo para Passo Fundo, para a Jornada Literária. Quando voltar, conto tudo com novas fotos. Antes, coloco aqui o conto que foi publicado na antologia de Bogotá, (lá traduzido para espanhol, aqui em português). Ele foi publicado no Brasil há alguns meses na revista Discutindo Literatura.

Assim você fica por aqui até eu voltar, não?


Trabalhando na zona gay de la ciudad.
Piranhitas. – Santiago Nazarian

Dois primos paravam à margem do rio. Quatorze e treze anos. Deviam ter nomes tolos de meninos - Ricardo, Gustavo - para se chamarem de Cadú e Guto. Garotos. Diminuíam um ao outro. Mas esticavam braços e pernas para dentro d’água. Para ver se estava fria. Se estava quente.

Não entravam, indecisos. Brincavam, precavidos, agitando a água, sentindo a temperatura, fingindo se preparar para mergulhar. Mergulharam tantas vezes, tantas outras, tantas antes, sem nem mesmo colocar um dedo, sem nem mesmo se importar com os graus. O calor já estava neles. E sempre havia um bom motivo para afundar, refrescar, fugir do arrepio dos mosquitos.
Agora não, aos catorze, treze... Aos catorze e treze, tinham consciência do perigo. Talvez fossem os braços e pernas, que se esticavam para dentro d’água. Talvez fosse o ensino, a escola, Ciências, talvez fosse a tênia solitária. E o rio em que mergulharam tantas vezes ganhava novos riscos, doenças, novos tipos de correntezas.

O mais novo sabia do que tinha medo: piranhas. Dentinhos afiados trabalhando em conjunto, consumindo tudo o que ele insistisse em afundar. Ele era mais novo, mas tinha mais carne. Era mais branco, serviria de isca. Como boi de piranha, seria devorado por elas, enquanto seu primo... seu primo cruzaria à salvo. Bastava um ferimento aberto. Bastava um sangramento mínimo. Um corte quase imperceptível, elas perceberiam. Devorariam o garoto no rio em que já nadara menino.

O mais velho tinha medo de outra coisa: doenças. Nadara entre piranhas - e as pescara - na ponta de sua vara, sabia que elas não lhe fariam mal. Ele era magro. Era moreno. Elas se assustariam com suas braços e pernadas. O perigo permaneceria imperceptível. Caramujos, platelmintos. Animais minúsculos que se alimentariam da sua puberdade, avançariam antes dele completar quinze. Comeriam suas entranhas, não deixariam nada para as piranhas.
Aos poucos, a água foi se agitando, o sol se pondo, e eles se apressavam para ver quem mergulharia. Não apenas molhavam os pés, brigavam para ver quem ia primeiro. Quem funcionaria como isca, quem serviria de cobaia? A coragem não era posta em questão, pois mergulharam tantas vezes antes – tantas vezes outras - ainda crianças. Agora vestiam-na de gentileza, “você primeiro”, “não, você.” Não era o caso de ver quem entrava em segundo, apenas se o primeiro sobreviveria. Quando um mergulhasse, e morresse, o outro apenas suspiraria “Ainda bem que não fui eu.”
“Então por que não entramos juntos?” Sugeriu o maior. Não era o caso, não queriam fazer um pacto de suicídio. Ficaram em silêncio, concordando. Não queriam mais morrer juntos.
A água já estava vermelha do ocaso. Logo seria noite e impossível. Voltariam para casa e depois para a cidade. Mais nenhuma oportunidade. O rio, a natureza chamando, e apenas os pés molhados. Metidos dentro de tênis, sentiriam os dedos enrugando. O tempo havia mesmo passado, as oportunidades, e eles nem aproveitaram.
Voltariam a ser crianças, num impulso, num mergulho, antes que fosse tarde. Ricardo, Gustavo, se derramaram. Entraram na água até a cintura, deixando de pensar. Tomaram coragem, foram de ímpeto, estavam na água para se molhar. O calor era mais forte do que os platelmintos, a água era mais limpa do que os mosquitos. Cansaram de abanar os insetos, limpar o suor, olhar para o horizonte e imaginar o que estava lá. A correnteza não poderia levá-los. Já eram grandes demais. Braços, pernas, uns mergulhados, outros ao alcance da margem. Só um pouquinho, só um pouquinho, só um pouquinho não fará mal.
Mas a impaciência não é só virtude dos meninos. A ansiedade também faz chorar crocodilos. Jacarés. Eu. Já estava no final do meu dia e cansado de esperar. Que eles viessem até mim. Que me fossem trazidos pela correnteza. Que nadassem para meus braços, meu abraço, minha boca. Trabalho sozinho, mas sou mais esperto do que piranhitas. Tenho apetite para os dois, para comer a carne e palitar os dentes. A doçura do mais novo e a crocância do maior. Carne vermelha, frango de leite. Enquanto os meninos não vêm até nós, nós vamos até eles. Posso alcançá-los à margem. Haverá um dia em que os répteis voltarão a dominar a Terra.

20/08/2007

RUMINANDO UNS MANOS


Hora de fazer as malas novamente...



Acabou hoje meu estágio/laboratório. Vou sentir falta da petizada, conheci uns personagens incríveis. Um amigo meu disse ontem que acha a ordem toda errada, que a gente devia ir para a escola agora, que pode aproveitar realmente as aulas de História, de Geografia... Não sei se concordo com ele – acho que seria um caos se eu tivesse de obedecer novamente o sistema de ensino - mas fiquei pensando em como eu odiava a escola, como tudo o que eu queria era sair de lá. E agora que eu voltei, parece muito mais divertido. Claro, eu estou vendo de fora, não tenho função lá, nem como professor nem como aluno. Talvez se eu tivesse de realmente dar aulas todo os dias, os alunos não me parecessem tão engraçadinhos. Certamente não pareciam engraçadinhos quando eram meus colegas...

Também me faz pensar em como nossa vida é restrita. Só temos uma oportunidade de sermos adolescentes, uma oportunidade de sermos adultos, uma vida de cada vez. Talvez seja um pouco por isso que eu escrevo, para poder ampliar minhas experiências. E talvez seja por isso também que eu viva intensamente, que eu tenha tido tantos empregos diferentes, que eu me jogue tanto no mundo. Há tanta coisa acontecendo, tanta coisa que eu poderia ser neste exato momento, e temos de nos limitar, focar, esperar...

Enfim, esse é papo pra botequim.

De qualquer forma, ainda voltarei às aulas para dar palestras sobre “O Senhor das Moscas”, para sétimas séries. E semana que vem encontro alunos de Passo Fundo...

Isso, agora volto para a estrada. Começo a viajar esta semana. Não sei se é o melhor momento, eu ando tão fechado, tão centrado e tão focado no meu próximo romance.
Recentemente conquistei um equilíbrio tão bom aqui em casa. Claro, um equilíbrio frágil. Eu imagino que se você soprasse aí na rua, eu despencaria da minha poltrona, mas por enquanto estava tudo bem, e eu nem sentia necessidade de te encontrar. De qualquer maneira, é impossível manter a ordem sem mudá-la de lugar... ela empoeira, enferruja, descarrega... E se não fosse um puxão externo a me motivar, eu teria de me lançar, de qualquer maneira...

Então sigo para a Colômbia, para participar do “Bogotá 39”, com jovens escritores de toda América Latina. Não sei muito o que esperar do evento, ninguém me conhece por lá, ninguém nunca me leu, quem vai querer ouvir o que eu tenho a dizer? Também nem sei em que língua, se falo em português, em inglês ou espanhol (que não domino tanto quanto as outras duas).

Só sei que já mandei alguns contos, trechos de livros, e tenho dado várias entrevistas por email a jornalistas de lá. Esses dias me escreveu Gaston Garciam, um jornalista da Espanha, que provavelmente nunca leu livro algum meu, mas conseguiu fazer as melhores perguntas sobre meu trabalho.

Mando algumas (traduzidas):

- Que pergunta prefere responder, “quem é Santiago Nazarian” ou “quem é Thomas Schimidt”?

- De onde vêm suas cicatrizes (além da adolescência gótica)?

- Para onde você levaria Oscar Wilde em São Paulo?

- Como enfrenta seu próprio futuro?

E algumas das minhas respostas (para outras perguntas):

“Autores de literatura são covardes. Eles querem ser respeitados, aceitos como “elite”, então têm medo de usar elementos que pertencem à literatura pop ou que não sejam exatamente de bom gosto. Os autores jovens, por exemplo, cresceram com cultura pop, mas negam isso em seus textos porque querem escrever como “velhos autores”, querem ser aceitos por eles, não se arriscam a trazer algo novo. Eu mesmo tinha esse preconceitos; meus três primeiros romances são bem trevosos e depressivos, e eu achava que literatura de respeito deveria ser assim. Mas comecei a mudar meu ponto de vista quando escrevi “Mastigando Humanos”, comecei a ver que eu poderia fazer mais como “autor jovem”, podia trazer algo novo, não devia negar meu repertório pop. Então coloquei Godzila ao mesmo tempo em que coloquei o corvo do Poe no meu texto, por exemplo. Acho tolo um autor jovem querer escrever como um “senhor autor”. Eu vou ser velho num minuto, neste instante, eu devo tentar outras coisas.”

“Quando você é um adolescente gay, você não se encaixa realmente. Você não se identifica sexualmente com comerciais, novelas, quadrinhos, seus amigos, com nada. Você nem mesmo se identifica com os poucos personagens e personalidades conhecidos como gays, porque geralmente eles estão lá só para serem gays, não são pessoas normais que por acaso gostam de alguém do mesmo sexo. É sempre uma questão. Então acho que é difícil para o adolescente se ver e se aceitar como gay.”

“Eu vejo a literatura mais como uma maneira de mostrar a beleza das minhas feridas do que curá-las. Já vi também como uma maneira de tentar ferir o mundo, como uma agressão. Não mais. Acho que essa revolta adolescente já passou.”


Logo em seguida de Bogotá, tem a Jornada Literária de Passo Fundo. Tenho dois eventos lá, um na Jornada em si, dia 30/08, às 14h30 na parte de Conversas Paralelas, um bate-papo entre leitor e escritor. E no dia 31/08, às 14h participo da Jornadinha, com alunos do Ensino Médio que leram “Mastigando Humanos”. Já aviso que vou fazer chamada oral (ops!).

Depois disso tudo dou uma esticadinha rápida em Porto Alegre. Mas antes disso eu apareço aqui, pra contar da Colômbia.

16/08/2007

MEDINDO OS BICHOS COM AS PRÓPRIAS PATAS


Bozo says: "E aí, amiguinho, quer a cobrinha verde, a amarela ou a malhada?"




Na minha atual busca pela santidade, comecei cortando a carne (inclusive branca), depois o sexo, o álcool, as drogas, as baladas, e agora resolvi acordar às... SEIS DA MANHÃ!!!


Mas isso está difícil.


É que estou num estágio/laboratório com sétimas e oitavas séries (13 e 14 anos) da minha antiga escola, para meu livro novo. Assisto as aulas com eles, converso, faço entrevistas, e basicamente observo a vida selvagem como as lentes do National Geographic Channel.



(Aliás, outro dia estava revendo um documentário de um cara que procurava os maiores crocodilos do mundo. E ele tinha a melhor técnica para medi-los: fotografava, esperava o bicho sair do lugar, depois ia até o local, se deitava na mesma posição que os bichos e tirava outra foto. Assim, comparando seu comprimento com os dos bichos, podia ter o tamanho exato sem tocar no animal. Esse sim é um método saudável de medição, sem estresse para o bichol. Acho tão hipócrita os pesquisadores que fazem questão de manusear para mostrar o tamanho, o comportamento... De qualquer forma, no final do documentário o cara faz uma JAULA para tentar capturar um crocodilo, daí fode tudo).

Mas voltando aos mamíferos...


Acho bem babaca essas pesquisas e análises de "vamos ver o que a juventude de hoje pensa", como se fossem seres de outro planeta. Na verdade, minha intenção com o laboratório nem é tanto me ATUALIZAR sobre a adolescência/puberdade, é mais rever velhos conceitos, perceber o que permanece, identificar os tipos...


E é tão claro. Ao se entrar na classe você já nota quem é o fodão, quem é o deslocado, quem são as patricinhas, quem é a CDF... Depois eu converso com eles e peço para que façam uma auto-avaliação, como se vêem dentro do grupo, como vêem os colegas, etc. Eles são divertidíssimos e queridos. Mas eu não agüentaria essa rotina muito tempo....

No meu tempo, eu detestava a escola. Não era um aluno popular, não tinha ótimas notas, era dos vagais freaks, góticos, mas não era perseguido, e conseguia passar com uns 7... 8. Lembro que eu fui o primeiro aluno a usar piercing naquela escola. Hoje em dia, até as professoras têm.

Também tem sido legal observar os professores, me colocar um pouco mais do lado deles, estudar como se dá essa passagem, de antigos alunos para atuais professores. É uma vida selvagem, de fato.


Ainda não sei como isso vai entrar objetivamente no meu livro novo (que já está bem avançado), é só uma maneira de ter novas idéias, de aprofundar um pouco mais os personagens que já criei etc. E a experiência talvez renda também um texto para alguma revista, ainda estou pensando...


O mais divertido até agora foi participar com eles de uma "oficina de contos de suspense". Aliás, foi minha primeira aula. Eles têm idéias ÓOOOOOOOOOOOOOTIMAS, eu diria que são mais criativos do que quase todos os "jovens escritores" que estão publicando por aí (isso para nem mencionar os velhos...). Oh, o que estraga é quando queremos passar por "escritores de respeito", não?

Outra aula divertida foi hoje, quando abriram um peixe em Ciências (inclusive com minha antiga professora; é a mesma). Veja só, toda minha poesia derramada em sala de aula...


E acredita que na primeira mesa em que sentei, encontrei a edição de "O Senhor das Moscas" para a qual fiz a apresentação, com meu nome na capa? Eles estão lendo para a escola. E tem tudo a ver. Tudo a ver com eles, tudo a ver com meu livro novo (inclusive faço uma citação ao "Senhor" no meu romance, sim). Então reli minha apresentação, porque tinha certas dúvidas quanto a ela... Mas até que gostei. Coloco o texto mais abaixo.

E nesse clima de "volta à infância perdida", fui também ao Instituto Butantã, gravar uma entrevista. Ahhhh, as cobras continuam tão bonitinhas. Estavam excepcionalmente ativas naquele dia, tinha até uma cascavel que ficou me paquerando. "O chocalho chocante de Charonne chacoalha."


Vai aí o "Senhor das Moscas".


A Força, a Inteligência e o Carisma

O paraíso perdido, a volta às origens, o fim da civilização. Histórias de náufragos sempre trazem temas como esses e mexem com imagens do inconsciente coletivo. Parece que a idéia de se encontrar perdido numa ilha deserta já está dentro de nós, muito antes de tomarmos conhecimento de Robinson Crusoé ou pegarmos “A Lagoa Azul” numa sessão da tarde (bem, agora as novas gerações têm ainda a série “Lost”, não é?). Quando William Golding pisou nesse terreno, em 1953, já não era algo novo na ficção, ainda assim, ele conseguiu lidar com todo o simbolismo da trama de naufrágio e levá-la a uma dimensão psicológica a que poucos chegaram.
Não estamos sozinhos. Essa seria a grande mensagem por trás de “O Senhor das Moscas”, com todas suas implicações. Através do isolamento numa ilha, um grupo de meninos tem a dura tarefa de aceitar que, de fato, eles são um grupo. De que existe sim o outro e que esse também pode ser visto como o invasor, o “bicho”, aquele que vem de fora para limitar suas liberdades e testar suas selvagerias. Por tudo isso, “O Senhor das Moscas” é afinal um romance interno, um thriller psicológico, onde o cenário é apenas um palco, convidando a natureza humana a se manifestar plenamente. No atual momento em que vivemos - do isolamento do indivíduo na metrópole, de rompimento das relações tradicionais entre as pessoas – é especialmente interessante ver a questão do individualismo levada de volta às origens. Parece que tudo mudou e, ainda assim, nada é diferente. Nos faz pensar como a natureza humana pode se manifestar de forma semelhante, em situações tão diversas.
Em “O Senhor das Moscas”, essa natureza é dividida em três conceitos- a força, o carisma e a inteligência - representados respectivamente por três personagens - Jack, Ralph e Porquinho. Existe ainda um quarto personagem que seria a junção desses três aspectos anteriores, e que poderíamos chamar de “o gênio”, e é exatamente esse que pôde trazer o título do romance. Na dramatização da natureza humana, esses personagens-conceito se alternam e medem seus poderes. Caminham para a destruição mútua ou a harmonia? Conseguem viver isolados, precisam de cooperação ou um acaba se sobrepondo aos demais? São essas as perguntas propostas ao decorrer de “O Senhor das Moscas”. E a pergunta pessoal que eu, durante a leitura, muitas vezes me fiz é “com quem está a minha concha”? Qual desses três personagens tem a voz ativa em minhas próprias ações, qual deles eu estou disposto a ouvir?
Cá entre nós, confesso que ao ler o livro a maior vontade que tive foi quebrar os óculos de Porquinho e tirar de vez ele do páreo (Hahá). Será essa uma demonstração da minha grande falha de caráter? Será que o autor, como artista, realmente não favoreceu o personagem da beleza/carisma? Ou será que parte da beleza da obra está aí, em dar o leitor a possibilidade de escolher seu próprio herói?
Isso é você quem vai descobrir, ao fazer sua escolha. Cada um poderá decidir se o melhor é se isolar por proteção, curtir a natureza ou colocar fogo na floresta. Uma coisa eu tenho certeza, você vai adorar se perder com esses personagens. Vai querer passar mais tempo com eles, assim como eu quis. E é isso o que uma boa leitura pode proporcionar de mais gostoso - ainda que, provavelmente, “O Senhor das Moscas” será o último livro que você vai querer levar para uma ilha deserta.




O que estou ouvindo?




"An animaaaaaaal, oh-oh-oh..."


O de sempre.

12/08/2007

LAST NIGHT I DREAMT THAT SOMEBODY LOVED ME




O Pequeno Príncipe says: "Ainda serei pai de gravata e mostrarei ao mundo minha desaprovação!"



Dia desses cheguei em casa faceiro e serelepe quando encontro um vaso com flores e cartão endereçado para mim. “Para mim?”

Qual não foi minha enorme decepção ao verificar que o cartão – e conseqüentemente as flores – vinha da... Rádio Eldorado. E era um cartão padrão agradecendo o debate que fiz na Livraria da Vila, organizado por eles.

Porra, pessoas jurídicas não mandam flores, pessoas jurídicas não DEVIAM mandar flores. Flores se manda para quem se ama. Que mandassem só o cartão então, ou um presente de verdade, bombons que fosse. Mas flores NÃO!

Que decepção...

E outro dia, quando estava saindo de casa, encontrei um garotinho de uns sete anos aqui na minha porta com um “ex” tatuado na mão esquerda. “Mamãe me mandou para passar o dia dos pais com você” disse ele, e me entregou uma carta. Felizmente a carta era de... outra rádio. Era uma pegadinha.

Por isso que não saio mais de casa.

(Tudo bem, a segunda história é mentira.)

Falando em dias dos pais, dia desses estava assistindo ao Ronnie Von...

ok, falando em dias dos pais, dia desses estava assistindo ao Ronnie Von, que sempre foi um príncipe muito elegante, metrossexual e boa praça. Ele estava discutindo sobre paternidade, etc, como bom pai de gravata que é, lendo cartas dos telespectadores, quando surgiu algo do tipo: “Ronnie, descobri que meu filho é gay. O que eu faço?”

Ronnie conseguiu soltar duas pérolas. A primeira: “Não existe homossexualismo feminino. Mulher quando gosta de mulher é porque é bissexual.” A segunda, dirigida ao telespectador: “Você tem de mostrar sua desaprovação ao seu filho, igual se ele estivesse usando drogas.”

Ronnie, darling, precisamos conversar.

Desde quando um pai tem de “aprovar” a orientação sexual do filho? Que imbecilidade é essa? Os pais podem não gostar, mas não têm nada a fazer a não ser aceitar, já que não é uma escolha. Ou então se preparem para se afastar dos filhos.

A frase hipócrita mais ouvida nessas discussões é: “não tenho nada contra, mas ficaria triste por meu filho, porque sei que ele sofreria muito.” Pois bem, eu gostaria de ouvir essa mesma frase quando a discussão fosse sobre o filho ser GORDO. É, dependendo do meio em que ele vive, é capaz que seu filho sofra mais sendo gordo do que sendo gay. E isso vale também (talvez ainda mais) para as meninas.

(E se a questão é AIDS, saiba que a obesidade mata mais.)

Óbvio que o preconceito existe, como tio Ronnie deixa claro. Óbvio que em várias regiões do Brasil, meios sociais e profissionais, o homossexualismo ainda é um tabu. Mas não é de forma alguma uma condenação ao sofrimento.

Conversava sobre isso há algum tempo, com um amigo meu. Ele vem de uma família humilde do Pará, disse que todos os irmãos ficaram lá, em vidinhas simples, restritas. Ele, por ser gay, saiu cedo de casa, veio morar em São Paulo, aprendeu a se virar sozinho, e hoje está milhas e milhas mais avançado do que o resto da família.

Outro exemplo mais tolo eu tive com a família de um ex-namorado. Num reveillon que passamos juntos, com toda a parentada. Os primos dele da nossa idade - casados, cansados, com filhos, todos tiozinhos barrigudos e desatualizados - pareciam que tinham dez anos a mais do que nós.

Eu não os invejo.

Ainda mais porque muitos desses saem de noite para catar michê...

No meu caso, venho de uma família privilegiada (ou amaldiçoada?), meu pai, minha mãe e meus irmãos são artistas, o preconceito deles sempre foi mais com publicitários... Eu só posso dizer que, graças a minha sexualidade, já economizei muita diária de hotel.

Muito bem, feliz dia dos pais. Seu filho é gay, que eu sei.

Mudando de assunto (mas não muito), me perguntam sobre o “Le Kitsch C´Est Chic”. Sim, o programa acabou (há meses) e não vai voltar. No último programa, entrevistei o André Fischer (diretor do Mix) que disse que era meu "último programa da primeira temporada”. Foi uma forma delicada de se despedir. A verdade é que o programa estava indo bem, eu gostava, as pessoas gostavam, não tive nenhum problema no Mix, mas era muito trabalho e eu tive de me concentrar em trabalhos mais rentáveis. O “Le Kitsch” exigia que corresse toda semana atrás do entrevistado, pesquisasse sobre ele, fizesse a busca e seleção das músicas, gravasse, editasse, eu fazia TUDO sem suporte. Eles não podiam me dar a estrutura que eu precisava. Não dava mais.

Além disso, desde que terminei o programa, me afastei um pouco (mas não muito) desse som kitsch. E hoje não gostaria de fazer um programa daqueles novamente, teria de ser outra coisa.

Por outro lado, tenho feito bastante matérias para várias revistas. E tem outras coisinhas vindo aí, aguarde.

Este mês saiu uma crônica minha na revista da Joyce. Crônica de encomenda sobre a... Barra Funda, com fotos lindas do João Bittar. Trecho do meu texto:

Foi aqui que tudo começou, quando eu, nós, ainda éramos crianças. Nossa primeira viagem, num final de semana. Chegar ao bairro era melhor do que ir à praia. Eu andava à cavalo - carrossel - mas olhava para o topo da montanha - russa. Na Barra Funda estava o paraíso, e minha mãe é quem trazia a maçã – do amor.
Assim o bairro se abriu para o conhecimento. E adolescente, fui, fomos, ainda mais longe, por toda a América Latina, em nossas memórias e memoriais. Ponte-aérea direto para Brasília, de formas parecidas e destinos tão desiguais.
Mas a viagem apenas começava, de mochila nas costas. Quando o verão chegava e eu voltava àquela velha estação. Minha tia me esperava do outro lado. Meu amor me buscava no fim da linha. Eu voltava para nunca mais encontrá-lo. Desembarcava. E achava que aquele seria meu, nosso, primeiro e último. Único. Terminal.

Tem bem mais na revista.



Esta semana troquei o "Serial Mom" por "My Own Private Idaho" ("Garotos de Programa"), do Gus Van Sant. Tenho visto todo dia um pouquinho, e antes de chegar ao final eu volto ao começo. Pena que não posso contar aqui a verdadeira história sobre a morte do River...

(Nem adianta me perguntar, só conto bêbado, entre quatro paredes)

Do Gus Van Sant vi esses dias também o "Last Days", baseados nos últimos dias da vida do Kurt Cobain. O filme tem bem a ver com "Elefante", mas ainda é mais extremo na abertura do roteiro e na falta de um enredo definido. É bonito, rico, mas um pouco cansativo. Ainda prefiro "Elefante" (e "Private Idaho").

O livro do Gus que eu traduzi (para a Geração Editorial, há alguns anos), não sei se algum dia vai sair. Mas o melhor dele já está está diluido um pouco em cada filme, melhor ficar na telinha. Só o River Phoenix vale por um romance inteiro.... e era coisa nossa. (Viu, Ronnie? Dá para ser feliz, dá para ser feliz....)



River says: "Estou gordo? Estou gordo? Oh, a camiseta? Não sou maconheiro não, viu? Meu problema é OUTRO..."

06/08/2007

TÔ SEM TÍTULO, MAS TENHO ASSUNTO.


Bowie-pai-de-todos says: "Não sou só um rostinho bonito..."

Hoje eu tenho, tenho assunto...

Saiu no Globo deste final de semana uma extensa matéria sobre “novos autores e seus cânones”. Foram entrevistados dezessetes autores relativamente novos (eu entre eles), que deram suas listas de artistas favoritos na literatura, música, cinema, etc. A matéria pretendia identificar quais são as influências mais presentes na nova literatura, e quais foram esquecidas.

Obviamente, os autores mais votados foram Machado de Assis e Fernando Pessoa. E o jornalista Miguel Conde surpreendeu-se com Rubem Fonseca e Proust não terem sido citados.

O jornal publicou a lista completa de cada autor. Eu, que respeitei o limite de nomes a serem citados, acabei ficando com a menorzinha das listas:

Oscar Wilde; Franz Kakfa, João Gilberto Noll, Caio Fernando Abreu, Thomas Mann, Bram Stoker, Clive Barker, Dennis Cooper, Franz Liszt, David Bowie, Tim Burton, Sally Mann, Eduardo Dussek, Antônio Cícero e Tsai Ming-Liang.

Como Antonio Prata disse sabiamente, na matéria: “Sempre desconfio dessas listas, inclusive da minha. Quando elencamos nossas preferências, fazemos mais uma carta de intenções, o que gostaríamos de ser, do que uma verdadeira busca sobre as origens da nossa escrita.”

Concordo inteiramente. Ainda mais porque eu acho que, no terreno das influências, qualquer um que nasceu depois dos anos 40 teria um nome mais forte do que qualquer outro: Walt Disney (que não foi citado).
Papai Valdisnei says: "Tem alguma coisa errada nessa lista, Pluto. Me ligue com a direção do Globo".
Miqueimou-Zé says: "Senhor, Pluto é meu cachorro..."
Papai Valdisnei retruca: "Cachorro? Mas então que porra de bicho é você?"

A minha lista tem uma certa confusão, porque embora tenha meus autores favoritos (Wilde, Mann, Kafka, Noll, Caio, Cooper e Stoker) tem um autor de que eu não gosto, Clive Barker, mas que eu acho que exerceu certa influência. Eu também inseri todas as minhas influências do glam-rock, pós-punk, gótico, new wave e brit-pop num só nome: David Bowie (que foi o pai de todos que vieram depois). Sally Mann, Eduardo Dussek e Antônio Cícero são influências mais recentes, e lamento ter esquecido Denise Stoklos entre elas.

Miguel Conde também analisou que, apesar da cultura pop e de artistas de outros meios estarem nas listas citadas, nenhum autor “soube identificar de que maneira esses artistas [não-escritores] influenciaram sua escrita”. Realmente é difícil identificar conscientemente como um artista (ou mesmo escritor) influencia nossa obra. Mas eu arrisquei sim uma análise, em email a ele:

“É um velho clichê, mas é verdade: um escritor não se influencia apenas por livros, influências podem vir de todos os lugares. E pensando em termos estilísticos, outras artes podem trazer grandes idéias para a literatura. Recentemente, por exemplo, fiquei fascinado pelo trabalho da Denise Stoklos com o texto, com a repetição, e apesar de ser teatro, pode trazer muito à literatura. Listzt, por exemplo, é um artista que me inspirou no exagero assim como Kafka me inspirou na concisão. E uma foto da Sally Mann, em particular, me inspirou um conto que acabou se transformando no romance "Mastigando Humanos". Esses são apenas alguns exemplos.”


Filhote de Sally Mann. "Cuidado que neste rio tem jacaré!"


Ele também se questionou sobre o fato das listas estarem concentradas nos séculos XIX e XX e coloca uma frase minha, falando sobre a fácil identificação com uma época próxima à nossa. Na verdade, o que eu disse a ele foi:

“Bem, em primeiro lugar obviamente nos últimos dois séculos se produziu muito mais informação e arte do que em todo o resto da história. Em segundo lugar, e também obviamente, é natural que eu me identifique mais com a arte produzida numa época próxima a minha. Já a influência do século XIX em si se dá principalmente pelo romantismo.”


Franz Liszt: Tentei seguir os dedos, só consegui copiar o cabelo.


E eu acrescentaria agora que, além do fato de se ter produzido mais informação e cultura nos últimos séculos, essa informação também está mais acessível, enquanto que muito o que foi produzido nos séculos anteriores já foi perdido.

Enfim, a matéria era interessante, e uma delícia ler a lista de cada um dos autores (sorry, não tenho link para postar aqui. O site do Globo é fechado), mas poderia se ter feito o contraponto das listas com a produção de cada um dos autores. Enfim, nunca se tem o espaço necessário para uma análise em profundidade...

Fiquei pensando também que nenhum dos meus autores favoritos eu tive de ler para a escola. Nesse sentido, eu deveria ter citado Camila Delaney, minha namorada do colegial, como uma das maiores influências, que me desviou para Wilde, Caio Fernando Abreu e Suede.

Os livros que mais gostei de ler para a escola foram:

“O Centauro no Jardim” de Moacyr Scliar, “Amor de Perdição” de Camilo Castelo Branco, “As Meninas” de Lygia Fagundes Telles, “Noite na Taverna” de Álvares de Azevedo, “O Cão dos Baskervilles” de Connan Doyle, “Contos de Terror, Mistério e Morte” de Edgar Allan Poe, “Os Colegas” de Lygia Bojunga Nunes e “Capitães de Areia” de Jorge Amado.

O que mais detestei, com certeza foi “Bisa Bia, Bisa Bel” de Ana Maria Machado.

E fico feliz em saber que meus livros já estão sendo adotados em algumas escolas, tanto “Mastigando Humanos” quando “Feriado de Mim Mesmo”. Inclusive há um ano, mais ou menos, algum professor passou um questionário sobre “Feriado” para seus alunos e choveram emails na minha caixa postal, repassando as perguntas diretamente para mim. Eu não sabia responder. Haha.


Como minha formação cultural continua, ontem assisti “A Educação Sentimental do Vampiro”, do Felipe Hirst com a Companhia Sutil de Teatro (a mesma de “Avenida Dropsie”). Maravilha. Gostei muitíssimo. A leitura “expressionista” para o texto do Dalton Trevisan é ótima. A cenografia toda em preto e branco... Uma das melhores peças que vi este ano (só não bate a Denise. Ninguém bate a Denise).

Em DVD, assisti “Correndo com Tesouras”, baseado no livro de Augusten Burroughs. Eu li o livro há dois anos, tentei vender (a tradução) para a Planeta. Então fiquei sabendo que já tinha sido comprada pela Ediouro, tentei pegar o livro para traduzir, mas já estava nas mãos de outro.

O livro/filme conta as memórias (reais) de infância de Augusten Burroughs, uma espécie de J.T LeRoy (real) mais surreal, mais cômico e menos desgraçado (ainda assim, ainda acho que prefiro a Sra Albert-LeRoy como escritora do que o Augusten). No início da adolescência, foi colocado pela mãe para morar com seu psiquiatra, que tinha uma família completamente louca, pregava a liberação sexual e não tinha a menor noção de limites e psicologia infantil.

O filme é uma boa adaptação do livro. Mantém o tom entre drama e comédia, tem ótima caracterização dos personagens, mas teve de suavizar um pouco o enredo, para poder ser passado nos Estados Unidos. E o livro é um bestseller, então você percebe que mesmo nos Estados Unidos a literatura é um veículo que proporciona muito mais liberdade e ousadia do que o cinema.

Te digo uma coisa, não invejo nenhuma outra arte.

Fora esse, comprei uma pá de outros DVDs (já que não faço mais sexo e não saio mais na noite, me sobra tempo). O melhor deles é a versão dupla de “O Chamado”. Tem uma série de cenas deletadas que ampliam o sentido do filme e um curta chamado “Círculos”, que pode ser tomado como uma espécie de “Chamado 1,5” (uma história que acontece entre o primeiro e o segundo filme). Tudo bem, não é um PUTA curta, tem umas tosquices, mas ainda assim é melhor do que “O Chamado 2”, esse sim uma bomba (incluída no DVD).

Se ela saiu do fundo do poço, eu também consigo...

Ufa, para terminar, música? Tenho escutado direto o cd da Chiara Mastroiani com o (marido) Benjamin Biolay. Lembra bastante Jane Birkin & Serge Gainsbourg, mas menos tosco. Adoro “A House is Not a Home”:

Even if a house is not a home
Should have never let me sleep alone…


Benjamin e Chiara... Hum, quero um de cada.



Agora desça para o post anterior e decore a letra da "Rã Lelé".




Regininha, minha maior influência atual.

03/08/2007

FUI AO MANGUE CATAR LIXO, CAÇAR CARANGUEJO, CONVERSAR COM URUBU!




Olha o que encontrei lá...



E quando voltei, fiz minha própria música:

Fui ao brejo com minha velhaaaaaaa, lalá! Fui ao brejo com minha velhaaaaaaaa, lelê! Uma rã passou pulandoooo, lalá! E toda ela eu engoliiii, lili!


Agora ensinem aos seus filhos e aos seus netos, que esta será a minha obra que ficará para a posteridade. Daqui a duzentos anos (se o mundo não tiver acabado bem antes), as pessoas se referirão a mim: "Santiago Nazarian, escritor que criou a famosa cantiga infantil da Rã Lelé".


(lembrei agora de quando eu estava saindo do Deserto do Atacama - veja só, minha vida é uma aventura, pântanos, desertos, bordéis - e uma mãe com a filha de de três anos se sentou ao meu lado no avião. A mulher tomou remédio para dormir - ou fingiu bem - e não acordava por nada deste mundo. A menina passou o vô inteiro cantando uma música à lá Rã Lelê - em espanhol, claro - e me obrigou a cantar com ela. Era algo sobre uma rã que comia uma aranha, mas eu mudei a letra e cantei que a rã comia o HOMEM-ARANHA. A menina começou a chorar, chorar, e os comissários levaram horas para acordar a mãe que dormia - lalá. Fim da história.)


Muito bem, fora ter saído para comer rã com minha vó, fiquei também afundando aqui no charco do meu lar, azulando meu sangue e atraindo todo tipo de animais peçonhentos para que juntos formemos um caldo que, quiçá, daqui a milênios e milênios, quando minha cantiga já estiver esquecida, valerá fortunas e poderá ser extraído como petróleo.


E essa é a maior herança que deixo para a raça humana.


Como ainda vivo entre a reptilia, hoje fui me vacinar contra febre-amarela e tétano (bem, para tétano é um pouco tarde, considerando meu passado de "body-artist"). Não é paranóia, não, é exigência para embarcar para a Colômbia (no final do mês). Estaremos lá eu, Verônica Stigger, Adriana Lisboa e JP Cuenca representando o Brasil num encontro de escritores de toda a América Latina (e não reclame não. Você não reclama que a Daiane dos Santos representa o Brasil. Eu também sei dançar o Brasileirinho e também sou atleta olímpico). Estou preparando uma versão em espanhol da música da Rã Lelé e apresentarei a eles como o que há de melhor na nova literatura brasileira.


Continuando o coaxar, comprei esta semana um dos filmes mais bizarros de todos os tempos: "Companhia dos Lobos", do Neil Jordan. É uma releitura de "Chapéuzinho Vermelho" em clima de pesadelo, tanto pelo terror quanto pelo absurdo. Tem na 2001 por 15 pila. Recomendo.





Chapéu says: Vamos comer rã, vovozinha?


Vovozinha says: Prefiro comer o Homem-aranha, minha netinha.


Tinha mais alguma coisa importantíssima para dizer, mas esqueci...



...

É pra te comer melhor!!!


NESTE SÁBADO!