12/08/2007

LAST NIGHT I DREAMT THAT SOMEBODY LOVED ME




O Pequeno Príncipe says: "Ainda serei pai de gravata e mostrarei ao mundo minha desaprovação!"



Dia desses cheguei em casa faceiro e serelepe quando encontro um vaso com flores e cartão endereçado para mim. “Para mim?”

Qual não foi minha enorme decepção ao verificar que o cartão – e conseqüentemente as flores – vinha da... Rádio Eldorado. E era um cartão padrão agradecendo o debate que fiz na Livraria da Vila, organizado por eles.

Porra, pessoas jurídicas não mandam flores, pessoas jurídicas não DEVIAM mandar flores. Flores se manda para quem se ama. Que mandassem só o cartão então, ou um presente de verdade, bombons que fosse. Mas flores NÃO!

Que decepção...

E outro dia, quando estava saindo de casa, encontrei um garotinho de uns sete anos aqui na minha porta com um “ex” tatuado na mão esquerda. “Mamãe me mandou para passar o dia dos pais com você” disse ele, e me entregou uma carta. Felizmente a carta era de... outra rádio. Era uma pegadinha.

Por isso que não saio mais de casa.

(Tudo bem, a segunda história é mentira.)

Falando em dias dos pais, dia desses estava assistindo ao Ronnie Von...

ok, falando em dias dos pais, dia desses estava assistindo ao Ronnie Von, que sempre foi um príncipe muito elegante, metrossexual e boa praça. Ele estava discutindo sobre paternidade, etc, como bom pai de gravata que é, lendo cartas dos telespectadores, quando surgiu algo do tipo: “Ronnie, descobri que meu filho é gay. O que eu faço?”

Ronnie conseguiu soltar duas pérolas. A primeira: “Não existe homossexualismo feminino. Mulher quando gosta de mulher é porque é bissexual.” A segunda, dirigida ao telespectador: “Você tem de mostrar sua desaprovação ao seu filho, igual se ele estivesse usando drogas.”

Ronnie, darling, precisamos conversar.

Desde quando um pai tem de “aprovar” a orientação sexual do filho? Que imbecilidade é essa? Os pais podem não gostar, mas não têm nada a fazer a não ser aceitar, já que não é uma escolha. Ou então se preparem para se afastar dos filhos.

A frase hipócrita mais ouvida nessas discussões é: “não tenho nada contra, mas ficaria triste por meu filho, porque sei que ele sofreria muito.” Pois bem, eu gostaria de ouvir essa mesma frase quando a discussão fosse sobre o filho ser GORDO. É, dependendo do meio em que ele vive, é capaz que seu filho sofra mais sendo gordo do que sendo gay. E isso vale também (talvez ainda mais) para as meninas.

(E se a questão é AIDS, saiba que a obesidade mata mais.)

Óbvio que o preconceito existe, como tio Ronnie deixa claro. Óbvio que em várias regiões do Brasil, meios sociais e profissionais, o homossexualismo ainda é um tabu. Mas não é de forma alguma uma condenação ao sofrimento.

Conversava sobre isso há algum tempo, com um amigo meu. Ele vem de uma família humilde do Pará, disse que todos os irmãos ficaram lá, em vidinhas simples, restritas. Ele, por ser gay, saiu cedo de casa, veio morar em São Paulo, aprendeu a se virar sozinho, e hoje está milhas e milhas mais avançado do que o resto da família.

Outro exemplo mais tolo eu tive com a família de um ex-namorado. Num reveillon que passamos juntos, com toda a parentada. Os primos dele da nossa idade - casados, cansados, com filhos, todos tiozinhos barrigudos e desatualizados - pareciam que tinham dez anos a mais do que nós.

Eu não os invejo.

Ainda mais porque muitos desses saem de noite para catar michê...

No meu caso, venho de uma família privilegiada (ou amaldiçoada?), meu pai, minha mãe e meus irmãos são artistas, o preconceito deles sempre foi mais com publicitários... Eu só posso dizer que, graças a minha sexualidade, já economizei muita diária de hotel.

Muito bem, feliz dia dos pais. Seu filho é gay, que eu sei.

Mudando de assunto (mas não muito), me perguntam sobre o “Le Kitsch C´Est Chic”. Sim, o programa acabou (há meses) e não vai voltar. No último programa, entrevistei o André Fischer (diretor do Mix) que disse que era meu "último programa da primeira temporada”. Foi uma forma delicada de se despedir. A verdade é que o programa estava indo bem, eu gostava, as pessoas gostavam, não tive nenhum problema no Mix, mas era muito trabalho e eu tive de me concentrar em trabalhos mais rentáveis. O “Le Kitsch” exigia que corresse toda semana atrás do entrevistado, pesquisasse sobre ele, fizesse a busca e seleção das músicas, gravasse, editasse, eu fazia TUDO sem suporte. Eles não podiam me dar a estrutura que eu precisava. Não dava mais.

Além disso, desde que terminei o programa, me afastei um pouco (mas não muito) desse som kitsch. E hoje não gostaria de fazer um programa daqueles novamente, teria de ser outra coisa.

Por outro lado, tenho feito bastante matérias para várias revistas. E tem outras coisinhas vindo aí, aguarde.

Este mês saiu uma crônica minha na revista da Joyce. Crônica de encomenda sobre a... Barra Funda, com fotos lindas do João Bittar. Trecho do meu texto:

Foi aqui que tudo começou, quando eu, nós, ainda éramos crianças. Nossa primeira viagem, num final de semana. Chegar ao bairro era melhor do que ir à praia. Eu andava à cavalo - carrossel - mas olhava para o topo da montanha - russa. Na Barra Funda estava o paraíso, e minha mãe é quem trazia a maçã – do amor.
Assim o bairro se abriu para o conhecimento. E adolescente, fui, fomos, ainda mais longe, por toda a América Latina, em nossas memórias e memoriais. Ponte-aérea direto para Brasília, de formas parecidas e destinos tão desiguais.
Mas a viagem apenas começava, de mochila nas costas. Quando o verão chegava e eu voltava àquela velha estação. Minha tia me esperava do outro lado. Meu amor me buscava no fim da linha. Eu voltava para nunca mais encontrá-lo. Desembarcava. E achava que aquele seria meu, nosso, primeiro e último. Único. Terminal.

Tem bem mais na revista.



Esta semana troquei o "Serial Mom" por "My Own Private Idaho" ("Garotos de Programa"), do Gus Van Sant. Tenho visto todo dia um pouquinho, e antes de chegar ao final eu volto ao começo. Pena que não posso contar aqui a verdadeira história sobre a morte do River...

(Nem adianta me perguntar, só conto bêbado, entre quatro paredes)

Do Gus Van Sant vi esses dias também o "Last Days", baseados nos últimos dias da vida do Kurt Cobain. O filme tem bem a ver com "Elefante", mas ainda é mais extremo na abertura do roteiro e na falta de um enredo definido. É bonito, rico, mas um pouco cansativo. Ainda prefiro "Elefante" (e "Private Idaho").

O livro do Gus que eu traduzi (para a Geração Editorial, há alguns anos), não sei se algum dia vai sair. Mas o melhor dele já está está diluido um pouco em cada filme, melhor ficar na telinha. Só o River Phoenix vale por um romance inteiro.... e era coisa nossa. (Viu, Ronnie? Dá para ser feliz, dá para ser feliz....)



River says: "Estou gordo? Estou gordo? Oh, a camiseta? Não sou maconheiro não, viu? Meu problema é OUTRO..."

NESTE SÁBADO!