Watch out! O zumbi Michael veio comer as criancinhas!
O garoto revirava-se na cama, tentando dormir. Era difícil ultimamente. O braço quebrado, os pesadelos com a professora, tornavam difícil relaxar. Ele ficava lá, em sua cama, rosto colado ao travesseiro como um filé de frango numa bandeja de plástico. Via as luzinhas acesas, verdes, vermelhas, as luzes de stand-by do computador, aparelho de som, televisão... Ohava essas luzes como sua constelação particular. A via láctea achocolatada que tornava mais doce a morosidade de seus sonhos. E havia ainda uma outra constelação no quarto, mais antiga, primitiva, de outras vidas... Adesivos no teto do quarto, que ele nunca antes notara. Adesivos fosforescentes que brilhavam na forma de estrelas, luas, discos voadores, cometas. Deviam estar naquele apartamento há anos, grudados pelos antigos moradores, antigas crianças. Foram tapados por uma nova camada de tinta, que com o tremor do prédio, descascara. O tremor do prédio descascou a tinta que foi pintada sobre os adesivos, revelando os antigos sonhos de uma criança abandonada. O que se fez daquela criança que colou os adesivos no teto? Talvez também os tivesse colado na parede, que agora era tapada por pôsteres de Gerard Way, Ville Valo, Nicolas Graves... O que se fez daquela criança que precisava ampliar as paredes de seu próprio quarto, que precisava dar profundidade e abrir nela uma constelação? Agora era um adulto trancado num escritório sem janelas? Ou um mendigo dormindo à luz do luar? O garoto olhava àquela antiga constelação, sua constelação eletrônica particular e sabia que também iria sair dali. Sabia que um dia iria mais longe, iria avançar no universo, havia um universo inteiro para avançar. Era só preciso ter paciência. Era só preciso agüentar firme o finalzinho da infância. Era só cruzar aquela dolorosa adolescência, que ele teria sua própria vida, sua própria constalação para viver. Era só preciso fechar os olhos, e dormir.
E quando estava finalmente pegando no sonho, notou duas estrelas mais brilhantes. Estrelas cadentes? Duas estrelas verdes piscavam para ele. De onde vinham essas luzes no quarto, de qual aparelho ou qual adesivo?
O garoto ouviu o rosnado.
Num reflexo, esticou o braço ainda quebrado. A dor lhe despertou de vez. Acendeu a luz da cômoda. Ela estava lá. Ela estava lá. Pior do que nunca, estava no quarto.
Olhava para ele com grandes olhos verdes, brilhantes. Rosnava e sua boca pingava uma saliva viscosa. Sua pele estava amarelada, manchada, com grandes olheiras em volta dos olhos. Os dentes tortos à mostra, furúnculos enormes no pescoço. Completamente nua, os seios murchos. O corpo todo apodrecendo, fedendo, as pernas tortas. Ela estava lá em seu quarto, transformada em zumbi.
Feliz Halloween! De presente, este trecho. Do meu livro novo...
Estou conseguindo trabalhar bastante no livro. Também, não tenho feito mais nada aqui em Brasília. Por aqui, nada de gostosura e menos ainda de travessura. Só trabalho no livro e nas sessões do CCBB (que continuam lotadas).
O único dia que tive de folga aqui, segunda, aproveitei para... ir ao cinema! Vi "Jogos Mortais 4", não sei por quê. Ah, sei, porque o três era bem legal, mas esse 4 é chato demais. Cheio de reviravoltas sem emoção. Um bando de personagens sem graça, sem empatia, sem carisma. Eu também não entendi direito, é muito complicado. Haha. Os personagens são todos parecidos, e tem todos nomes de detetive. Me senti naqueles filmes orientais em que você não sabe quem é quem, porque todos tem nomes parecidos e olhos puxadins. "Jogos Mortais 4" é assim, com caucasianos.
Mas a primeira cena é legal. Já começa com uma autópsia 10o% gore.
Falando em Halloween, zumbis e cinema, quero ver o "Halloween" novo, dirigido pelo Rob Zombie. Não estreia hoje? Parece que é ao mesmo tempo um remake e uma "prequel", ou seja se passa antes do original, mostrando mais a infância do psico Michael Myers, depois sua carreira de esquartejador de baby sitters.
Michael, o petiz assassino.
Bem, fico aqui em Brasília até segunda. Quando eu voltar, dou minhas conclusões finais sobre a cidade. Mas essa temporada já me serviu para tomar duas decisões antagônicas, mas coerentes:
1 - Preciso comprar um apartamento. Moro de aluguel. Tenho uma kitinete, mas nunca morei lá, nunca poderia morar lá, trabalho em casa, se eu morasse numa kitinete, me jogaria da janela. Vou vender a kitinete. Dar entrada num apartamento. Já vou começar a planejar, até a virada do milênio...
2 - Preciso decidir logo o que vou fazer desse reveillon. Sempre deixo para a última hora e sempre é aquela coisa... Este ano quero ficar numa boa, na piscinha de um hotel, olhando de vez em quando para uma praia. Mas depende também dos planos dos amigos, porque reveillon não dá para passar sozinho. Então espero os convites: Ana Fialho, Eduardo Strausser, Pedro Neves, André Coelho, Marcelo Cia, Marcos e Pazetto...
E de leituras... nada. Mas posso mandar uma resenha de chocolate, quer?
Na atual onda de esquizofrenia dos alimentos industriais - com miojo sabor cheeseburguer, iogurte sabor torta de limão, e anti-guloseimas que tingem a boca e anestesiam a língua - a Garoto vai além de traz a nova versão geneticamente modificada de seu clássico "Batom". Há muito eles já haviam surtado, transformando o Batom ao leite em chocolate branco e fazendo até uma versão em barra (Se é em barra, o que tem de batom?). Agora, fazem a versão Batom Colorido, de chocolate branco com pedacinhos de bala de goma. E o pior é que dá certo. Tudo bem, não tem mais nada de batom (o formato também é em "barra ondulada"), mas não deixa de de ser louvável a nova mistura, num mercado já saturado de castanhas, amêndoas e pedaços de cookies. O Batom com balas de goma é uma iniciativa inédita, não há nenhum outro chocolate com balas de goma no mercado, e a mistura é mais do que acertada, a cremosidade do chocolate branco se completa perfeitamente com as balas puxa-puxa. Claro, não é para aqueles que rejeitam doces muito doces, menos ainda para quem está controlando a cintura. Mas o Batom Colorido é um ótimo regalo para dar às crianças neste Halloween. Só podiam mesmo ter pensando em outro nome. (3,5 estrelas).