O que faço do meu apetite com esses dentes de borracha?
Acabei de almoçar com o ilustrador do meu próximo livro (não vou dar o nome dele aqui ainda, para a concorrência não roubar). As primeiras propostas que ele trouxe para meus personagens estão muito, muito, MUITO fodas... Já saí inclusive com um personagem para colocar na minha parede.
Não, essa é antiga, do meu pai, Guilherme de Faria, uma espécie de Lorena.
Meu livro novo tem um pouco de vários rapazinhos que conheci, muito de mim, e muito (principalmente) do que queria encontrar. Aliás, estava pensando numa coisa que o Marcelino (Freire) disse em Recife, que é perigoso ser amigo de escritor, que um traço, uma frase, alguma coisa sempre acaba sendo levada para os livros. É verdade. Talvez seja por isso que geralmente meus namorados sofrem com meus livros. E por isso que uma vez ouvi de um mocinho que me abandonava: "Você já tem suas histórias, eu preciso viver as minhas."
Meu "Artur Alvin" no traço de J.Lestrange.
Bem, bem, eu também preciso viver! Preciso de carne entre meus dentes! Tecido constituinte! Preciso de lenha para fornalha, carvão para a churrasqueira, óleo para minhas engrenagens de homem de lata!
A Lorena de André Coelho.
E outro dia ouvi uma frase melhor de uma traveca, uma traveca famosa, conhecidinha na noite paulistana. Eu disse: "Legal te conhecer. Você já faz meio parte do meu imaginário". E ela soltou: "Já faço parte do imaginário de muita gente, queria é fazer parte da realidade de alguém."
Que frase sofriiiiiiiiiiiiiida e óoooooooooooootima para se ouvir de um travesti. Não me condene se entrar no meu próximo livro.
(É, no meu próximo livro tem um travesti.)
Os primeiros estudos de Marco Túlio para "Mastigando Humanos".
E uma vez ouvi de uma prostituta num bordel em Curitiba. "Você escreve? Que ótimo! Eu também sou artista! Eu danço."
(Isso eu acho que já entrou em algum texto meu, só não lembro em qual...)
Daí fiquei pensando também na quantidade de lavadeiras que já me influenciaram ( fiquei pensando se tenho tara por lavadeiras), como a Dona Jussara, que lavava minhas roupas em Porto Alegre e entrou em "Olívio", ou a 5 a Sec, que inspirou meu conto que saiu na Joyce Pascowitch do mês passado, e percebi que é um absurdo eu ainda não ter permuta em nenhuma lavanderia. Ah, por quê? Qualquer ator com pecinha em cartaz tem permuta em restaurante, em academia, em lavanderia... E eu, que coloco foto de restaurante aqui, que escrevo sobre meus lençóis sujos e apareço malhadinho nas revistas não ganho nada?! QUERO MINHAS REGALIAS!!!
Oh, tó fazendo merchandising.
(Outro dia uma "grande marca" me mandou um perfume de presente... Já é alguma coisa...)
Bem meu fim de semana foi a maratona de legendas no CCBB, mostra de animê. Traduzi 9 dos onze filmes que estão passando e estou legendando todas as sessões. Essa semana continua. Recomendo especialmente "A Princesa e o Cavaleiro" (isso, da Princesa Safire). Depois de probleminhas com a versão que tinham me mandado (diferente do DVD exibido), refiz todas as legendas, não apenas traduzindo mais adaptando algumas coisas, e o resultado foi uma versão para português bem soltinha, com uma Safire para lá de despirocada, mais próxima da japonesa do que a versão dublada que passava na TV (que, diga-se de passagem, era INVENTADA. Sim, inventavam todo o texto em cima das imagens, porque não tinham tradutor de japonês nem o texto original em inglês).
Safire says: Sou traveca, em crise, mas faço parte do imaginário de muita gente.
Dessa mostra, recomendo também "O Túmulo dos Vagalumes" e "Meu Vizinho Totoro" (que é fofíssimo, mas não fui eu que traduzi).
Totoro diz: "Para traduzir animê você tem de ter uma tecla de exclamação extra no seu teclado."
Agora, só uma coisa... A gente lê no jornal aquelas notícias de crimes barbaros. Lê da "pobre coitadinha que era uma menina inocente", "que não fazia mal a ninguém", "que tinha a vida toda pela frente e foi barbaramente assassinada num assalto". E nunca pensa que essa menina podia ser uma DEMENTE CRETINA FILHA DA PUTA DESGRAÇADA que não pára de falar durante a sessão inteira do cinema, que acha que os comentários imbecis dela precisam ser ouvidos pela sala toda, que não tirou o ARREIO DE ÉGUA antes de entrar no cinema e que provavelmente escuta PAGODE A TODO VOLUME NA MANHÃ DE DOMINGO, sem pensar nos vizinhos. A gente nunca pensa nisso, nunca pensa que talvez essa menina realmente merecesse ser barbaramente torturada, lentamente, até a morte.
(Oba! O ódio voltou em meu coração!)
E não estou falando de você não, era só um parágrafo relativista.
O Thomas Schim... Digo, Santiago Nazarian, de Jotapê Pabst.
O Thomas Schim... Digo, Santiago Nazarian, de Jotapê Pabst.
Ouvindo: Benjamin Biolay. Depois de gastar o disco dele com a Chiara Mastroiani, percebi que era hora de conhecer o solo. E claro que funcionou.
Benjamin says: Sou francês, sou fino, mas não sou fruta.
E ouvindo Amy Winehouse na casa de meu amigo Nicolas percebi que ela é a perfeita "cantora-cult-genérica".
Benjamin says: Sou francês, sou fino, mas não sou fruta.
E ouvindo Amy Winehouse na casa de meu amigo Nicolas percebi que ela é a perfeita "cantora-cult-genérica".