11/11/2007

O PEIXE DO MEU DESEJO


Nada se compara...


Um abrir e fechar de olhos, um suspiro mais vigoroso e a semana já se dissolvia em flocos. O final de semana chegava como uma promessa frustrada. E eu me pegava em frente a esta tela, em frente a tubarões de antigos mares, antigos oceanos. Onde eu achava que iria me afundar, mas não, foi apenas um abrir e fechar de olhos. Foi apenas um suspiro mais vigoroso e a semana já se dissolvia em flocos, em promessas frustradas...

Minha atual obsessão em DVD é o “Goodnight, Thank You. You’ve Been a Lovely Audience” da Sinéad O’Connor. Está longe de ser o melhor registro dela. Ela não está na melhor forma, nem física nem vocal, mas já vale só pelos clipes hipnóticos minimalistas do álbum Sean-Nós Nua, como “Peggy Gordon” e Molly Malone. Não pode existir melhor cantora-compositora na face da terra...

Daí chego na casa de um amigo e ele está vendo MTV americana (?), uma dessas cantoras brancas/negras genéricas de R&B, e ele comenta como ela é genial, como é fantástica, que voz incrível. E certamente essa cantora está vendendo milhões, é adorada por milhões, ela sim se torna uma referência...

Merda.

Coisas como essas é que reforçam nosso caminho particular, a convicção que ainda podemos fazer algo significativo, construtivo, mesmo que não mudemos o mundo inteiro. O mundo inteiro não precisa ser mudado, só precisa ser destruído. Não vale a pena fazer arte para tentar mudar milhões, só para salvar a meia dúzia que importa.

Mais ou menos como a Yoko Ono. Lembro que quando eu era pequeno, tínhamos o LP de “Double Fantasy”, dela com o John Lennon. As faixas do Lennon eram consideradas pelos meus irmãos como as “de qualidade”, as faixas dela eram consideradas as toscas. E escutando hoje, as faixas do Lennon são o pop bem-feitinho de homem maduro, que lembram milhares de outras coisas. Enquanto que as faixas da Yoko continuam estranhas, diferentes, originais (como “Kiss Kiss Kiss”).

(Aliás, fiquei sabendo da Yoko Ono no CCBB aqui em SP...)

Eu poderia citar milhares de outros exemplo. Os Beatles mesmo, a banda que “revolucionou o mundo”, mas que nunca teve importância alguma em minha vida (nem mesmo no meu cd player). Enquanto que o Suede... alguém coloca na lista?

Ou Machado de Assis, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, ...

Woody Allen, Fellini, Almodóvar, Tarantino...

Caetano, Chico, Gal, Madonna…

Hum, por que estou atacando as unanimidades mesmo?

Ah, acho que só queria ficar sozinho aqui, com você...

E quando acho que poderei ficar tranquilo - meu tigre na minha garrafa - só deitado no sofá olhando para Sinéad, vem o café e a vontade, a necessidade, de me perder por aí...
Talvez só para poder voltar.

Então eu volto. Me espere aí que eu volto. Mesmo que eu demore. Eu sempre volto. Com postas de cação para guardar no congelador.


(Outro dia comprei um monte de peixinhos pequenininhos inteiros, com cabeça, tronco e membros e olhos e espinhas e escamas, que deslizavam por entre meus dedos enquanto eu os jogava sobre o azeite e alho na frigideira. Me deu certa aflição - e certo poder - perceber que eu poderia comê-los assim, inteiros, como seres humanos, partindo seus esqueletos com meus dentes e engolindo sem nem travar a minha garganta. Engoli. Mas acho que prefiro continuar só com os filés.)

(Será que é o mesmo que estou procurando em você, entre os meus lençóis? Você é o filé de tantos seres humanos que engoli com cabeça, tronco e membros, partindo os esqueletos sem nem mesmo travar minha garganta?)

(Agora estou indo ver “Lady Vingança”, que aluguei)


Livre-me dessa garrafa. Materialize meu gênio. Fique comigo e não me deixe sozinho. Não me abandone numa prateleira empoeirada. Esse é meu desejo atendido.

NESTE SÁBADO!