05/11/2007

TANTAN-TANTAN-TANTAN-TANTAN-TARAN-TANTAN, TARAN...


Recife? Não, Brasília.


Escrevo este post no avião, ouvindo a trilha de “Meu Vizinho Totoro”.

Brasília acabou dando certo. Depois de tanto calor, depois de tanto sofrimento, cheguei ao último dia enturmado, localizado e aproveitando um agradável clima de outono.

Eu não moraria por lá. Acho que deve ser um local muito solitário para se viver, pior ainda sem carro. Tudo é longe, ermo, vazio, melancólico. Eu tinha de caminhar horas todos os dias, para almoçar ou ir na academia, e não encontrava mais ninguém caminhando na rua (mas encontrava calangos, ratos, sapos, papagaios e corujas, o que me lembrava sempre que eu estava no meio do cerrado. Por sinal, me disseram que Brasília é uma cidade grande que acha que é uma cidade do interior. Eu não sei se não é o contrário, uma cidade do interior com ocupações de cidade grande. As pessoas ainda se encontram nos parques – dentro de seus carros – comem cachorro-quente na praça....).

Depois de quinze dias trabalhando por lá, estabeleci uma rotina, contatos, fiz amigos que surgiram tantos entre leitores quanto entre o público da mostra e gente que conheci por acaso. Foi bom viver essa vida paralela, é bom ainda poder ter outras vidas. Lá eu era o tradutor que fazia legendas no cinema, morava na asa norte, treinava na academia Dom Bosco...

A mostra em si foi cansativa, bem cansativa. Fiz 68 sessões (incluindo as de São Paulo), além de ter visto todos os filmes antes, e traduzido. Então no final os filmes se tornaram insuportáveis, e eu só conseguia acompanhar as sessões com um enorme copo de café ao lado (e veja só, ainda ouço a trilha do Totoro).

Teve o lado interessante, claro, o público fiel que você encontra todo dia, que acaba virando uma turma, como colegas de escola. Também é interessante acompanhar o mesmo filme passado várias vezes, com diferentes públicos. Você já sabe quando o pessoal vai rir, quando vai chorar, estranha quando eles não reagem, sentem as diferenças de cada sessão. Acho que deve ser parecido com a experiência de ser ator de teatro.

E o público de Brasília foi muito mais educado do que o de São Paulo. Todo mundo aliás, os funcionários do cinema, os seguranças, gente simpática e solidária. E olha que tivemos vários problemas com versões de filmes, de legendas, com pane nos equipamentos...




Queridinhos de Brasília.



Já os programas em Brasília não foram muitos, e não foram grande coisa. Acho que o mais legal foi beber vodca de madrugada na Esplanada dos Ministérios, vendo as corujas, os monumentos, ouvindo Cláudia Wonder cantando “eu não sou uma dama, eu sou um travesti”, me sentindo num plantão ébrio do Jornal Nacional. E como a cidade é pequena, encontrava várias vezes as mesmas pessoas. No final, posso dizer que formei uma turma de amigos. Vou sentir falta deles.

Queridinhos parte 2.


E dia desses, quando caminhava por lá, peguei uma chuva de rachar. Fui me abrigar no Museu Nacional e... veja só, estava tendo a mostra de premiação da Fundação Conrado Wessel. Para artes e fotografia, o prêmio é bem tradicional, e continua com tudo. Para literatura, que eu saiba, só teve o ano em que eu ganhei. Acho que não deu muito certo. Acho que eu dei azar ao prêmio. Hahaha. Também devo dizer que o prêmio não teve muita repercussão na época. Acabei aparecendo mais pela participação na Flip naquele ano (pela iniciativa da Planeta) do que pelo prêmio em si (bem, de certa forma a Planeta me descobriu pelo prêmio, então está valendo).

Agora é voltar para a (falta de) rotina de minha vida paulistana. Talvez seja hora de voltar a sair por lá, reencontrar os amigos que ficaram distantes, os amores que não tenho, aquele que suspira do outro lado de tela... Mas antes de tudo, terminar meu livro novo (a primeira versão, claro, para eu rever e retrabalhar até o lançamento no segundo semestre do ano que vem).

Ia contar aqui da edição dupla de “Tubarão” que trouxe e assisti no laptop – com horas e horas de bastidores, erros de gravação, cenas excluídas, ótimo – mas não entra no ritmo do post... Ah, bem, agora já entrou. Então recomendo. É ótimo não só pelo filme, mas como estudo de como se faz um filme de monstro, e uma das maiores bilheterias da história do cinema (que levou sete meses para ser filmado, quando Spielberg tinha apenas 26 anos).

No final, fica na minha cabeça a música que eles cantam:

Show me the way to go home

I'm tired and I want to go to bed
I had a little drink about an hour ago
And it got right to my head
(Quando eu falo que as crianças de hoje em dia são mais felizes... Hoje em dia tem um jogo do Tubarão para PlayStation em que você É o tubarão. Se fosse no meu tempo, eu teria sido uma criança bem mais feliz.)

( hum, agora lembrei que estou com um laptop, este vôo está demorado e tenho o DVD de “Snakes on a Plane” na minha bagagem...)

De volta.

NESTE SÁBADO!