Eu não sou louco!!!
Não suporto gente problemática. Detesto quem veste suas fraquezas como uma grife. “Oh, eu sou depressivo.” “Oh, meu pai nunca me levou ao circo.” Na maioria dos casos, isso é falta de uma enxada. Na favela não existe Rivotril.
Nunca fui ao psiquiatra. Nunca fiz nenhum tipo de terapia. Acho que, se eu permitisse, seria diagnosticado com todo tipo de sandice. Olhando na lente de aumento, nossos micróbios são todos assassinos. Não preciso que digam o quanto de vermelho há em mim; nunca tentei o suicídio. Para isso, existe a literatura, acho. E os blogs, a arte, a labuta, a enxada...
Uma vida confortável torna a gente muito frágil.
Eu, por exemplo, sou completamente descoordenado. Não seguro os talheres direito, nem a caneta; nunca consegui chutar uma bola em linha reta. Tenho dificuldade em olhar as pessoas nos olhos, procuro sempre conter o sorriso, e tenho todo tipo de insociabilidade e manias:
- Não suporto falar ao telefone. Com ninguém. Nem no celular. E na maioria das vezes, deixo desligado. Acho invasivo. Você é obrigado a parar o que você está fazendo porque alguém está tocando um sino na sua casa.
- Não gosto de comprimentar ninguém com beijo ou abraço. Tenho certo incômodo. Acho que contato físico é só para sexo... Mas não é que eu tenha medo de ficar com o p*** duro... digo, com o membro rijo. Acho só que a gente não deve meter o dedo no brigadeiro do outro...
- Não como nada que foi mordido.
- Não subo nem desço do elevador do meu prédio junto com vizinhos. Não quero ficar íntimo. Tenho medo de que comecemos a conversar e depois eu tenha de dizer toda hora “bom dia”, “boa tarde”, “boa noite”. Acho um estorvo. Então sempre que tem alguém para subir comigo eu vou pelas escadas. Mas tudo bem, eu moro no segundo andar...
- Não gosto de revezar os equipamentos na academia. Tenho nojo daqueles equipamentos suados, do meu próprio suor, e de ficar dividindo com os outros sem passar um pano com álcool. Aliás, tenho nojo em geral de quem faz musculação. Tenho nojo de gente malhada. Tudo bem que malho quase diariamente, mas eu nunca disse que eu era o meu tipo. Felizmente não tenho esse grau de narcisismo.
- Também tenho nojo de nadar quando a piscina está cheia. Me sinto numa sopa de caldo humano. Não entendo porque a gente tem de usar touca se tem gente com mais pêlo no corpo do que eu tenho cabeça. Sinto que há um pêlo em minha sopa.
- Não durmo abraçado de jeito nenhum. Não consigo. Tenho o sono muito leve e se alguém encosta o dedo em mim eu já me sinto preso, sinto como se fosse uma âncora a me puxar dos sonhos, penso que não vou poder me revirar tanto quanto preciso.
- Tomo banho de luz apagada. É porque o banheiro é o cômodo mais escuro da minha casa. É o único em que você não consegue ver quase nada, mesmo de dia, se não liga a luz e se a porta está fechada. Eu precisava de boas cortinas para o meu quarto. Meu quarto não é tão escuro para quem vai dormir sempre quando já está clareando. Já dormi uma vez no banheiro, mas me incomodou o barulho dos canos d’água....
- Tenho certa vergonha de ter escrito tudo isso.