31/05/2009

ESSENCIAL



Toda vez que vou ver Denise Stoklos no teatro eu penso: isso não vai dar certo. Ela entra no palco, começa a neurose e eu fico tentando lembrar e reafirmar para mim mesmo por que ela é minha Deusa e o que seu teatro tem de tão essencial...

Toda vez quando a peça termina, eu já sei.

Denise Stoklos trabalha como ninguém a poética do exagero, da neurose, a repetição e a recontextualização, porém no contexto mais minimalista. É só ela e o texto. Ator e texto. E deve dizer tanto aos atores (eu não sei, porque nunca fui um) quanto aos escritores. A mim me diz. É muito trabalho de texto (dela própria). Você vê o texto sendo escrito, sendo retrabalhado, o ator (a atriz) está lá para materializá-lo.

Isso também é literatura.

E isso é totalmente teatro.

Ver artistas como ela me motiva (e me inspira) mais como escritor do que ler quase tudo o que está por aí em livro. Me motiva a escrever livros e me dá (obviamente) vontade de escrever peças. (Mas me dá certo receio porque percebo que, em teatro, ainda estou longe, longe, tão longe de materializar...)

Enfim, é algo meio contraditório.

Na peça que fui ver hoje, me incomodou um pouco foi a platéia. Acho que o pior do teatro é a platéia. Acho que é a platéia que acaba afastando o público e faz com que as pessoas em geral tenham medo do teatro. Tipo, a platéia está assistindo, mas sabe que também está sendo assistida. Sabe que o ator está lá ao vivo e que precisa dar uma resposta para ele,; então risadas mais altas, respostas pronunciadas. Odeio essa coisa de público de teatro que acha que tem de rir alto de qualquer gracinha que o ator faz só para deixar claro para que achou engraçado...

Enfim, neurose.

Denise é uma Deusa para mim. E já tentei me aproximar dela. Acho que fiz mal. Já mandei flores. Já mandei email. Já entreguei a linda edição portuguesa de "A Morte Sem Nome" (nas mãos de uma produtora). Ela nunca me respondeu. Ela nunca me deu atenção. Ela sempre me desprezou, cuspiu no meu amor, não quis me dar nem um autografozinho depois do espetáculo. Tudo bem. Por que a gente acha que um artista deveria dar mais pra gente do que a gente já recebe? Por que a gente não se satisfaz e não acha que a arte é o suficiente? Para mim é o bastante.

Sinéad O'Connor (que também é uma Deusa) certa vez colocou no seu site: "Se você gosta realmente de um artista, aconselho que nunca tente falar com ele. Recomendo até que, se encontrá-lo na rua, atravesse para o outro lado, não olhe nem em seu olho..." Ou algo assim.

Será que precisamos chegar a tanto?

Mas enfim, Denise sempre reafirma para mim que - mais do que caráter, mais do que humildade, mais do que simpatia e acessibilidade - o que importa num artista é só sua arte. E isso mais do que basta.

Quando crescer, quero ser igual a ela. Por enquanto, ainda sou super fofo.

(Haha.)

Serviço: Denise Stoklos está apresentando "Calendário da Pedra", peça de seu repertório permanente, na Funarte (Al Nothman, 1058). Fica em cartaz só até o próximo final de semana (sexta e sábado, 21h; domingo, 20h), e está baratinho: R$ 10. Recomendo chegar uns 40 minutos antes, porque hoje lotou.

NESTE SÁBADO!