Otto.
“Zumbis são os novos vampiros,” disse minha editora dia desses. Verdade. Ao menos para os mais realistas, que percebem que, se há uma chance de continuar após o fim, é perdendo qualquer consciência e racionalidade, entregando-se à demência de caminhar sobre a Terra apenas para aplacar a foooome. A alegoria dos vampiros só sobrevive agora para os românticos iludidos (não é à toa que a série “Crepúsculo” faz sucesso entre a petizada...). O pessoal tem sentido na carne que até as maldições não são mais assim tão mágicas...
Os zumbis estão em todos os cantos, em livros, filmes de terror, comédias, pornôs, passeatas, e em arte dita “de bom gosto”. Não que minha literatura seja, mas o livro novo também tem zumbis. E escrevi uma peça de teatro – ou melhor, queria ter escrito, então fiz em formato de conto longo, mas que pode ser adaptado – um drama existencialista com zumbis.
"30 Dias"
Nem toda obra de zumbis precisa ter necessariamente vísceras e comedores de cérebro. Considero o conceito como qualquer obra que enfoque uma epidemia contagiosa por contato físico, que animalize o ser humano. Dessa forma, “Ensaio Sobre a Cegueira” pode ser considerado um filme de zumbis. E mesmo um suposto filme de vampiro, como “Trinta Dias de Noite”, de demônios, como “Demons”, ou de doença de pele, como "Cabin Fever". A dinâmica é sempre a mesma: gente infectada que volta a estados primitivos, e gente querendo manter a civilidade, fugindo dos zumbificados.
Esses dias estava vendo “Extermínio”, do Danny Boyle, que é claramente um (ótimo) filme de zumbi (embora eles não usem essa palavra em nenhum momento do filme). (Aliás, não lembrava que o Cillian Murphy era tão pitéu...) Anyway, assisti esse filme semana passada, e estava traduzindo um livro “praticamente de zumbis”, e fui, como todos nós, inundado por essas notícias da gripe suína; daí não pude deixar de ter a impressão de que o fim estava próximo. E não pude deixar de ter a impressão de que essa gripe ainda não é nada. Ainda não é nada, mas logo será. Amanhã ou depois surgirá a epidemia que transformará todos nós em zumbis (ou isso já aconteceu?) ou uma doença como a AIDS, e que se propague num simples espirro. Não tem como não acreditar que isso possa acontecer a qualquer dia.
(E por isso nem dá pra se incomodar com as cartinhas de ameaça do SPC que passam pela minha porta todos os dias...)
(...e por isso vamos fazer uma orgia enquanto é tempo!)
Bom, depois de acompanhar essas notícias, ver esse filme, traduzir esse livro, eu vou ao supermercado numa véspera de feriado. Vejo as filas de gente desesperada para levar um engradado de cerveja pra praia... Acho que está todo mundo estocando comida. Está todo mundo estocando comida? Devo fazer minha reserva de vodca e balas de goma em formato de minhoca?
Já tenho meu estoque de Sukita Zero.
Disseram que a Virada Cultural foi a comprovação derradeira de que São Paulo já está tomada pelos zumbis. Eu não vi, não estava aqui, mas dizem que até a sessão de filmes de zumbis - que durou 24h ininterruptas, na Sala Dom José - tinha mais terror no público do que na tela. Só sei que amigos foram assaltados, outros espancados, e os que deram sorte perderam apenas a virgindade...
(Por isso vamos todos fazer uma orgia enquanto é tempo!)