Voltei de Caracas. Viagem bacana. Gostei bem de ter conhecido, principalmente porque é daquelas cidades que pouca gente daqui conhece, e que eu mesmo jamais pensaria em ir. Mas assim vou fechando meu mapa da América Latina: Argentina, Chile, Peru, Colômbia, Venezuela...
Os aspectos positivos: Fiz bons amigos. Conheci gente bacana. E a cidade é mais bonita do que eu esperava. Deu tudo certo, apesar do clima constante de insegurança (alimentado por eles, inclusive) e da truculência não só da polícia na saída, mas da população em geral.
Os aspectos negativos: Um clima de constante insegurança. E uns valores culturais bastante discutíveis:
"Aqui na Venezuela o carro diz quem a pessoa é. Por isso todo mundo quer ostentar, ter o maior carro, carro importado," - me disse uma das minhas alunas.
"Aqui na Venezuela não se têm a cultura do serviço," me disseram alguns outros, o que faz com a gente sempre se sinta mal-tratado nos restaurantes (caros), no hotel, nas lojas. "Aqui ninguém se acha inferior, pode ser o mais pobre diante do mais rico, ele não abaixa a cabeça." O que pode ser visto de maneira positiva, e explicar a arrogância com que todos se tratam.
Arrogância que se reflete no trânsito. Caótico. Eles não param. Eles passam mesmo por cima. Passam no sinal vermelho e aceleram quando vem um pedestre. E isso porque estou acostumado com São Paulo...
"50% por cento dos blackberries do mundo estão na Venezuela." É um povo obcecado com o celular. Estão teclando durante a aula, nas boates, nos restaurantes... Ninguém larga o blackberry para nada.
Por fim, a cidade é absurdamente cara. Paga-se fácil, num restaurante despojado, 200 reais num almoço. 1400 num Ipod... nano. Comprei uma mochila para laptop por 230... uma pechincha, numa promoção.
Felizmente ganhei mais do que consegui gastar. O Instituto Cultural Brasil Venezuela pagou tudo, hotel, passagens e uma boa quantia para eu me manter por lá. No final, em bolívares, sobrou o equivalente a 600 reais, que deu para comprar... um cinto, um chocolate e duas garrafas de rum no free-shop de lá.
Fui convidado para participar de uma mesa com os escritores locais Francisco Suniaga e Enrique Belmonte (fotos no post anterior), e me pediram também para dar uma oficina de 4 dias. Não gosto de oficinas, detesto oficinas, não acredito em ensinar alguém a escrever, mas achei que valia a pena para conhecer a Venezuela, mergulhar na cultura e treinar (bem) meu espanhol.
Mais do que ensinar a escrever, coordenei discussões sobre "universo literário pessoal", focado em "cenário interno", "personagens próprios", "referências e influências" e "para que serve a literatura?"
Meus (sete) alunos eram personagens em si. Queridíssimos, interessantíssmos, que trouxeram idéias bem bacanas. Eu os vi como brotos de feijão, crescendo de um dia para o outro em algodão, sugando as gotas que caíam de meus dedos. (Hohoho...)
Entre os exercícios (orais e bizarros) que propus estava imaginar qual prato seria Dom Quixote, Harry Potter, Dorian Gray... Que personagem seria uma caipirinha, uma paella, uma cachapa con avocado...
No último dia, eles me levaram para comer sushi, porque não aguentava mais o peso dos pratos locais...
O DJ Rey alucina com o cd que gravei com Claudia Wonder, Karine Alexandrino, Multiplex, Tetine, Bonde do Rolê, Pullovers, Ludov, Filipe Catto, CSS, Thiago Pethit e outros amigos.
Rossana ama música brasileira, estuda português e tem um carro maior do que meu apartamento.
O enigmático Luiz sabia mais do que falou.
Kira sabia de tudo.
Keyla trazia vários personagens na cabeça e um gestando na barriga.
Julio guardava histórias para si.
Eyeletne (tenho certeza de que não é assim que se escreve...), discordava de todos e trazia um novo ponto de vista.
Viajar, agora acho que só no reveillon. E apesar dos percalços, de estar dez dias fora de São Paulo, e ter muito trabalho para colocar em dia, ainda não estava com vontade de voltar para cá.