26/06/2010

GERAÇÃO KARAOKÊ
Iberoamericanos em Madrid.

Terminou ontem o Congresso de Novos Narradores Iberoamericanos aqui em Madri. Foram cinco dias de discussões sobre literatura e mercado, num formato bem incomum para mim. De manhã rolavam as conversas em portas fechadas entre os escritores e críticos, jornalistas e editores. À tarde aconteciam as entrevistas para imprensa e de noite as mesas abertas ao público.


Casaamerica, na Plaza de Cibeles, onde tudo aconteceu.

Foi um encontro mais centrado na relação dos escritores com o mercado do que na literatura em si. Falou-se muito da percepção (ou falta de) dos países latinoamericanos na Espanha, do caminho para os livros chegarem até aqui, mas pouco do que movia e inspirava cada escritor.


Discussões na hora do almoço à portas fechadas.


Num dos encontros fechados, por exemplo, os editores falavam sobre o leitor espanhol não se interessar pelos cenários externos. A mim, como leitor, é estranho pensar nesses termos, realmente não busco um livro pela nacionalidade e há vários grandes livros que li que nem me recordo ao certo de que país é o autor. Não entendo porque há essa suposição de que o autor brasileiro fale, ou tenha de falar, do Brasil, que o escritor peruano só escreva sobre o que se passa e interesse ao Peru. A mim sempre interessa as questões mais subjetivas dos livros, as narrativas internas...

E foi um pouco disso que discutimos. Eu mesmo coloquei que (provavelmente) a palavra “Brasil” não aparece em nenhum dos meus livros, e que não são necessariamente situados lá. Aliás, acho até que escrever sobre o Brasil seria um paradoxo – como escritor, sua visão sobre o país já é a de um forasteiro, deslocado.

Nazarian e Dalí! (Não, o grande crítico catalão Ignácio Echevarría.)


Foi discutido também em uma das mesas a intenção de se escrever “o grande romance,” e mais do que uma questão de modéstia (ou falta de ambição) ficou claro que, em geral, para os escritores é muito mais interessante tratar de questões pequenas, subjetivas, que talvez não tenham um grande impacto na sociedade como um todo (que livro hoje tem?) mas que penetrem incisivamente num leitor específico. Ao menos para mim, é isso que interessa.

Fiquei chocado também em saber que as tiragens médias de literatura na Espanha são de... 1500 exemplares; ainda menos que no Brasil (que fica entre 2 e 3 mil). Achava que aqui era um mercado bem mais forte.


Mas nem tudo foi cerebral, houve devaneios muito mais etílicos, jantares, porres, karaokê (que já trouxe um novo título para essa geração). A experiência mais literária, com certeza, foi minha visita ao Museu do Prado. Tive de sufocar um surto de ansiedade. Incrível.

Chuecando hermanos.

Os escritores são todos queridíssimos, fiz bons amigos e é bom poder reafirmar meu espaço na América Latina, pela qual já viajei razoavelmente como escritor, abrindo caminho agora na Europa. A linda editora Paca.


Tenho me comunicado bem, no portugnol mais sem vergonha. Alguns dizem que parece que eu falo muito bem, e só dou um remix para deixar mais interessante. Mas deve ser porque muitas palavras (inclusive mais sofisticadas) do português coincidem com o espanhol - então impressiona se você coloca "pusilânime" numa frase. Haha.

É exatamente assim que vejo minhas noites aqui.


Estendo mais dez dias aqui na Espanha como turista. Amanhã vou a Barcelona.

No Museu do Prado. Quase chorei.

NESTE SÁBADO!