30/03/2011
Eu previ tudo isso, eu previ esta cena em “O Prédio, o Tédio e o Menino Cego”, capítulo III-2.
Já tinha visto o vídeo original em algum programa pseudo-jornalístico da TV. Mas hoje, com uma reportagem na Folha, fiquei sabendo da repercussão do caso, e dessa entrevista.
Mais engraçado (ou curioso) do que o vídeo, foi o fato de ele ter se espalhado mundialmente e o gordinho ter se tornado uma espécie de justiceiro para as vítimas de bullying.
Acho um exemplo bastante relativo, para que sirva de exemplo. Sem entrar no papo de que violência só gera violência, blábláblá, o traço de covardia do bullying aqui é questionável – o gordo é consideravelmente maior e mais forte do que seu ofensor, que também parece agir sozinho. No final, é um moleque grande agredindo outro bem menor, ainda que o outro tenha começado; pode satisfazer a alguns gorduchinhos, mas não espelha a maioria dos casos, em que o menor e mais fraco é a vítima do bullying e não tem como reagir.
E a noção de menor e mais fraco também é relativa. Os mesmos moleques que sofrem abuso dos mais velhos, estão atazanando os mais novos. É a vida selvagem da infância – que eu considero a pior fase da vida, de longe, so far...
E eu nem poderia dizer que fui vítima de bullying, estudei em colégios razoavelmente alternativos, onde se procurava respeitas as diferenças pessoais, blábláblá, mas claro que tive meus momentos de aporrinhamento, chamado de veadinho. E devo ter tido meus momentos de agressor.
Certa vez encontrei uma ex-professora numa livraria:
Ela: “Você é o Santiago, escritor, não é?”
Eu, fofo e querido com uma provável leitora: “Sim, sim.”
Ela: “Fui sua professora no primário...”
Eu, tentando lembrar: “Ah, bacana, você é a...”
Ela, rígida: “Você atazanava meu filho na perua escolar.”
Eu, desconcertado, sem me lembrar; (eu era apenas uma criança!): “Er... Eu...”
Ela: “Uma vez você jogou a lancheira dele pela janela da perua.”
Eu... Eu? Não me lembro disso: “Não me lembro disso!”
Ela: “E ainda acha que tem direito de caminhar livremente por aí, posando de bom moço, de escritor... Você jogou a lancheira do meu filho pela janela!!!”
Tá, essa última fala não foi bem assim, mas acho que era mais ou menos o que ela pensava, e que me fez recuar, dando desculpas para sair logo dali. Pior que cheguei a encontrar ela anos depois e: “Você jogou fora a lancheira do meu filho!!!”
(Eu sinceramente não me lembro disso. E nem acho que eu seria capaz de uma atrocidade dessas. Provavelmente o moleque perdeu a lancheira, quebrou a lancheira, trocou a lancheira por pedras de crack e colocou a culpa num aloprado qualquer, no caso eu.)
Agora quero ver o vídeo de um veadinho dando giletada nos colegas, para me sentir representado.
28/03/2011
Não sei mais meu lugar nesta cidade.
Voltei pra São Paulo sem saber muito o que fazer. Na verdade uma velha sensação, mas que relocada agora se torna mais identificável. Cada um no seu trabalho, nas suas baladas, com seus amigos e namorados... e eu não fui convidado. Um sentimento de exclusão por eu não precisar (e me recusar) a entrar na fila, no trânsito, seguir o ritmo da cidade e pegar a bandeja para pesar na praça de alimentação.
Estava sozinho nisso também, na Barra, mas lá o povo parecia mais desocupado do que eu. E a natureza me seduzia e me masturbava...
Anyway...
Ainda não me acertei com o fuso horário daqui. Por mais que eu planeje manter a vida saudável – e dormir e acordar razoavelmente cedo – não parece fazer muito sentido. Não faz sentido sair de casa em São Paulo antes de anoitecer – a cidade é feia. E não faz sentido andar na Avenida Paulista só por andar, como quem caminha na praia. E eu ando. E encontro as pessoas no caminho e elas perguntam “para onde está indo?” e eu preciso inventar uma desculpa...
De qualquer forma, isso não era diferente em Florianópolis. Sou um andarilho num mundo de cadeirantes.
Aqui ao menos eu encontro pessoas que perguntam, e se importam. Domingo de noite, eu trancado neste apartamento, precisando sair só porque eu precisava sair, caminhar, gastar energia, você não tem disso? E do meu apartamento até a 2001 – o ponto de desculpa aonde chegar – encontrei cinco amigos. Eles não caminham, mas estavam comendo, bebendo, se anestesiando. Isso também funciona, talvez melhor do que caminhar, mas, você sabe, acaba com o corpinho.
Isso me lembrou de um americano que conheci em Copenhague, que havia acabado de se mudar para lá. Ele se perguntava o que podia fazer no dia-a-dia que não envolvesse beber ou comer. "Bem, as pessoas trabalham, estudam, se ocupam com suas vidas," disse a garçonete a ele; estávamos bebendo.
Sábado de manhã acordei cedinho, coloquei um chachachá para tocar, fiz café, fui à padaria e... fui instantaneamente sugado pelos zumbis que saíam da balada.
Pelo menos voltei para casa com croissants.
E foi isso. Nesses primeiros dias aqui, não fiz nada. Ou vivi uma batalha intensa com o tempo e o tédio – caminhando, lendo, trabalhando – tentando fazer o dia acabar.
Também vi diversos filmes, mas que não tenho muita energia para comentar... hum, talvez respirando fundo: Cisne Negro, finalmente, que gostei bem e me deixou bem mal – como Réquiem para um Sonho, também do Aronofsky – embora tenha achado meio tosca aquela parte final, com aqueles efeitos ; O Caldeirão Mágico, em DVD, animação da Disney que eu amei na infância, e nunca mais tinha revisto, agora achei meio estranha – o desenho não tem números musicais e tem um clima bastante macabro, provavelmente por isso eu tenha gostado tanto e provavelmente por isso foi dos maiores fracassos de bilheteria da Disney, de qualquer forma as partes mais pesadas foram cortadas desse relançamento em DVD; Cannibal Holocaust, um clássico do horror que eu tinha resistido de ver até agora pelas cenas reais de matança de animais (incluindo uma tartaruga gigante), e que tem algo realmente diferente, complexo e perturbador – é um suposto documentário encontrado na amazônia de uma equipe de filmagem americana que foi atacada por canibais - o filme fez seu diretor Ruggero Deodato ser preso acusado de produzir um “snuff” pelas cenas de tortura, estupro, canibalismo e crueldade com animais – e as cenas com os animais, como eu disse, são reais; e Brinquedo Assassino, isso, o primeiro filme do Chucky, comprei uma edição de luxo recheada de extras bem bacanas – revendo o filme agora é meio tosco, talvez por isso os mais recentes tenham caído de vez na comédia, mas é bem divertido, e aquele molequinho é ótimo.
Ah, o “Tocata e Fuga” veio de Fantasia, que eu também comprei e revi (um pack em DVD com os dois filmes – Fantasia e Fantasia 2000). Tem toda aquela cafonice dos estúdios Disney, mas alguns conceitos bem curiosos, como no Tocata e Fuga (de Bach) em si, que abre o filme original. O apresentador explica que o número foi pensado para guiar a sensação de se estar numa sala de concerto: primeiro se vê os músicos tocando e aos poucos a música vai sugerindo imagens abstratas, ganhando vida própria. Meu favorito ainda é o número de Ponchielli, com os hipopótamos e os jacarés. E Fantasia 2000 é um pé no saco, inclusive porque tem uma escolha bem infeliz de repertório.
Hum, repertório...
Ao menos dá pra perceber que esta cidade me traz uma carga e um conflito que andou bem distante. Há tempos que não escrevo tanto por aqui. Provavelmente foi essa minha busca a voltar, voltar para a guerra. Matar a tartaruga que me masturba e deixar de viver de fotossíntese.
Então, aproveitando, e concluindo, com tudo e nada a ver, vamos à vida cultural, vamos lá amanhã:
23/03/2011
Hoje é aniversário de Florianópolis – 285 anos, mas com corpinho e cabeça de 16. Lindo pelo corpinho, lamentável pela cabeça; e Florianópolis é assim mesmo, se recusa a crescer.
Há mais de dez anos eu vinha para cá como turista. Ano passado me tornei morador, fiquei um ano. Não só não me arrependo como acho que foi das melhores coisas que fiz na vida – por isso levo a Ilha tatuada em mim. A magia daqui só entende mesmo quem já veio. E alguns dos seus principais problemas também.
Parto hoje – coincidentemente neste aniversário – de volta para São Paulo, porque não poderia mais viver só de sol e praia. É demais, mas não é o suficiente. E Florianópolis pode até ser mais do que isso... mas não muito mais.
Vai então meu saldo, com o melhor e o pior que encontrei nesta Ilha. Claro que é uma visão pessoal. Muitos dos problemas que encontrei aqui são mais específicos da Barra, mas muitas das delícias também.
10 COISAS QUE ADORO
- Natureza: De longe, o melhor daqui. As praias, montanhas, lagoas, dunas, tudo incrível. E os bichos. Para mim há um atrativo a mais na diversidade da fauna que vi por aqui: cobras, lagartos, morcegos, lontras, leão marinho, pinguins, corujas, quatis, gaivotas, gambás, caranguejos, golfinhos e peixes, peixes, peixes... Em pleno verão, você nada na praia e vê peixes por todos os lados. Tudo bem que já foi bem melhor; a Lagoa mesmo está poluída em diversos pontos, em diversos dias, mas ainda se pesca por lá, se nada, eu já bebi metade da Lagoa praticando kite surf. Bem ou mal, a ilha ainda é preservada. Triste é acreditar que isso se dá graças a tantas limitações e atrasos que persistem por aqui, fazendo se perguntar se evoluir é ecologicamente inviável.
- Tranquilidade: Mesmo em alta temporada, reveillon e carnaval, você consegue sentar num restaurante à beira da praia, sem espera. Encontra diversos pontos vazios nas praias. Pode deixar suas coisas na areia, entrar na água, voltar e encontrar as coisas lá. Mas verdade que essa tranquilidade só fica em seu ponto ideal mesmo até março; depois se converte em... tédio.
-Privacidade: Penso que eu nunca poderia ter feito isso, alugado uma casa sozinho, morado na beira da praia, no mesmo terreno dos proprietários, numa cidade, digamos, do nordeste. Eu nunca seria deixado em paz. Felizmente o espírito sulista respeita nossa privacidade e eu pude ter todo o sossego e retiro que procurava. Minha relação com os proprietários era cordial e distante. Minhas preferências sexuais, por exemplo, nunca foram questionadas.
-Segurança: Embora eu tenha sido assaltado na primeira vez que estive em Florianópolis, em 2000, esta talvez ainda seja a capital mais segura do Brasil. Aqui na Barra mesmo, quem vem de São Paulo repara bem: os muros são baixos, os butijões de gás e varais de roupas estão ao alcance dos pedestres, tudo fica no seu lugar. Eu voltava regularmente de noite, a pé, sem o menor medo.
- Surfistas: Não há nada como os meninos manézinhos de praia. Não, nem as meninas. Essa herança genética dos catarinas traz os loiros mais bronzeados do planeta. E o sol, o surfe e o esporte mantém os corpos incríveis.
- Comida de Praia: Camarões, lulas, ostras, mariscos, tudo a preços bem acessíveis.
-Ritmo: Isso só sente quem mora aqui. Não apenas as férias, não apenas no turismo, mas no dia-a-dia o ritmo é bem, bem mais tranquilo do que em SP, ao menos aqui na Barra. Todo mundo parece meio desocupado, talvez porque trabalhe com o mar, com o turismo, no seu próprio ritmo. Me fez desacelerar bem, sem perder meus compromissos. A gente vê que muito da aceleração é mais neurose do que prazo.
-Esportes: Minhas opções aqui se ampliaram enormemente: além de ir pra academia diariamente (como eu já fazia em São Paulo), comecei a praticar kitesurf e fiz curso de scuba, fora as trilhas, caminhadas, nadar no mar, tudo com vistas incríveis. Depois de um ano aqui, recuperei finalmente a forma e o tanquinho.
- Vida gay: Saí muito pouco de balada aqui, mas sempre havia opções... Longe, no centro, mas havia opções. Isso por Florianópolis ser uma cidade turística e uma capital (ainda que pequena). E a vida gay se intensifica incrivelmente no verão. A Mole vira uma praia gay e a Barra vira o pouso. O carnaval estava absurdo: bichas e mais bichas por essas ruas, eu encontrando metade do baixo augusta. Divertido conciliar a vida de praia com isso.
10 COISAS QUE ODEIO
- Transporte público: Florianópolis também tem o “pior índice de mobilidade urbana” das capitais brasileiras, seja lá o que isso signifique. Para mim, na prática, significa que não há ônibus, não há táxis, apesar das distâncias e morros indecentes. Basicamente para ir de uma zona para a outra da ilha, você tem de voltar ao centro (que fica no oeste). Está no leste e quer ir para o norte? Tem de ir ao centro. Pegar dois ou três ônibus é o básico, e as viagens levam facilmente duas horas. A opção do táxi inexiste, é indecente de caro e você não encontra nas ruas. Situação normal você ir a uma festa, clube ou show num ponto distante e na saída não ter UM ÚNICO táxi. Ou você vai de carona, ou arruma carona, ou se ferra.
-Trânsito: Não há trânsito... exceto no verão, quando só há trânsito e fica inviável transitar de carro ou ônibus. As filas na Lagoa chegam a horas e horas. É um inchaço que a cidade não tem planejamento e capacidade para absorver. Tudo bem, vou a pé.
-Isolamento: A ilha é muito grande, tem os morros, não tem transporte, isso tudo potencializa o isolamento, cada um fica no seu bairro. É demorado e difícil ir ao centro. Quem mora no centro também tem preguiça de vir até a Barra.
- Comida: Ok, já falei da comida de praia como um ponto positivo, mas a verdade é que é só isso. Petiscar camarõezinhos à beira-mar, tomar uma caipirinha, e só. Os cardápios são todos iguais, tudo baseado em frituras. Algum drinque além da caipirinha (de limão) já é difícil. E não há doceiras, não há padarias. Ou há algo que se assemelha de leve. Sofri este ano para encontrar um croissant. O salgado oficial da Ilha são aquelas empanadas medonhas.
-Os Cachorros: a Barra da Lagoa deve ser a praia campeã mundial de cachorros sem donos. Você pode imaginar que não demorou um mês morando aqui para eu ter minha primeira micose...
- Vida Cultural: Não existe. Ok, me disseram que há UM cinema bacana, que fica sei lá onde. Há também uns outros... dez, na cidade toda, passando os blockbusters. Teatro nem precisa falar.
-Serviços: Os manezinhos têm uma relação conflituosa com o turista. Precisam dele, mas não gostam. E tratam mal. E mesmo para quem mora aqui, o serviço é lento e dispersivo. Isso poderia ser relevado – é uma cidade de praia afinal. O problema está também no que é oferecido. Mercadinhos pequenos, com produtos vencidos, preços altos, muita coisa que não se encontra. A Barra não tem NENHUM supermercado, o que às vezes faz falta. E mesmo a Lagoa não tem NENHUMA grande rede. Comprar chocolate aqui é um suplício. Minha academia também, no centrinho da Lagoa, carinha para os padrões daqui, deveria ser boa, mas não tem SEQUER um vestiário, só um banheirinho com um chuveiro elétrico. Ah! Falei que a Barra não tem agência de correio? Nem banco nenhum? Nem caixa eletrônico de NENHUM banco?
-Moda: Ok. Cidade de praia. O problema é quando o povo resolve se vestir...
E é isso. Agora é aproveitar o último dia. Nublado, mas com algumas aberturas. Vou ver se ainda consigo mergulhar...
22/03/2011
Indo da Barra até o Santinho de bike.
Hoje acordei 7:30 da manhã, tomei um café reforçado e fui para o norte da Ilha de bicicleta. Primeira vez que ando de bicicleta aqui, mas também não tem muito para onde ir, só mesmo esse percurso (para sair da Barra pelo sul você encontra o morro da Barra, depois o morro da Mole e por fim o morro da Lagoa, que são intransponíveis de bike, embora eu passe por eles todos os dias à pé.)
Passeio lindo-lindo, na estrada que corta a reserva florestal do Rio Vermelho. Ainda fiz uns desvios para o terminal lacustre da Costa da Lagoa, passei no ingleses e terminei comendo um acaí no Santinho. Fui e voltei em... seis horas, e foi menos cansativo do que dolorido, pelo selim da bicicleta. Ficarei uns dias sem sentar. Não estou acostumado com isso...
A trilha no Ipod foi Cornelius, artista japonês que faz um rock experimental de humilhar o Radiohead (o primeiro álbum dele veio do Itunes do Cesar, o mais recente veio agora do Jaspion e é "fodástico"); e também o disco novo do Strokes, que achei meio palha (uma pena, porque estava viciado no solo do Julian, que só fui ouvir recentemente - e apesar de ser bem diferente, soa mais Strokes do que esse álbum novo.)
E essa foi mais uma despedida aqui da Ilha. Amanhã de noite eu parto - parto de vez mesmo - de volta pra São Paulo. Foi um ano inesquecível, embora extremamente solitário. Conheci gente incrível, mas, sinceramente, sei que a maioria está muito distante do meu universo e só se tornaram amigos pela ocasião, provavelmente eu nunca mais vou ver.
Fica aqui então o registro de todos, porque este blog antes de tudo é um blog, um diário e registro para mim mesmo.
20/03/2011
Com a Cris, na cidade baixa.
Final de semana delícia em Porto Alegre. Saí daqui há quase dez anos (morei de 2000 a 2002), mas continua sendo uma segunda casa, com algumas das pessoas que mais ano do mundo, que posso ver raramente, mas que sempre se mantém próximas e eternas.
Jaspion e turminha.
Foram ótimos almoços, jantares, e um luau no jardim incrível da casa da Letícia. embora a lua não estivesse nada demais, ao contrário do que as previsões anunciavam. (Talvez da Lagoa da Conceição fosse diferente...)
Duda toca clássicos do cancioneiro gaúcho, incluindo "Amigo Punk".
A gurizada malemolente.
Também recheei ainda mais meu Ipod - que agora já está com quase 16 mil músicas - com o Itunes do Jaspion. E pensar que dez anos atrás eu gravava fitinhas K7 para ele com os clássicos do britpop...
Aplicativos toscos da Webcam.
Agora volto para Florianópolis - últimos dias - pego as malas e no final da seman volto de vez pra São Paulo. Mas com o coração dividido em tantos cenários...
14/03/2011
Um pai perde o filho de dezesseis anos, vítima de overdose. Anos depois, assiste a um filme pornô com um garoto que lembra muito seu filho. Parte então a uma caçada obsessiva, numa cidade fantasma, onde seu lado paternal, seus desejos e frustrações se misturam. E esta é apenas uma das histórias de PORNOFANTASMA, primeiro volume de contos e mini-novelas de um dos jovens romancistas mais aclamados do país.
13/03/2011
"É, verão acabou..."
Volto para São Paulo em dez dias, mas este é meu último final de semana aqui e o clima cinza, chuvoso e depressivo cria um misto de expulsão com lamento pela minha partida.
Me lamento todos os dias.
Mas achei que devia reunir os (pouquíssimos) amigos que fiz aqui e celebrar.
O bolo que eu fiz... Já fiz melhores.
Preparei um lanchinho na pousada da Ida, com a família dela, amiguinhas locais, Gabriel e Pira (que deram mais do que uma prova de carinho, vindo debaixo de chuva, em transporte público, lá do Cacupé), meu reptiliano Marciano, e outros que deram chabu e nem vou citar.Depois de limpar, temperar, empanar e fritar dois quilos de lula... nunca mais.
Comprei garrafas e garrafas de champagne, fiz um bolo, temperei e empanei dois quilos de lula (e basicamente passei a noite fritando). E ainda fiz meu famoso sanduíche-iche-hit de pacotinho. [Cléo de Páris (musa dos Satyros e a noiva ruiva de Zé do Caixão em “Encarnação do Demônio”) já disse que é o melhor sanduíche do mundo; Fábio Polido (meu ex-marido) largou a carreira de modelo depois de provar; Cris Lisbôa queria vender como livro, com o pão impresso; e Marjorie Estiano... nunca provou o sanduíche.]
Trishyia me recebeu com esse cartaz lindinho. Mas juro que li "Viado Santiago."
Pira e Gabriel vieram de longe, mas chegaram.
Reptilianos.
Irmãozinho Taiya.
Andréia.
Mãezinha Ida chupou meu visual 100% magenta e eu tentei dar cabo dela com um wok.
Ah! Ida também preparou uma caranguejada. Quando cheguei, ainda tinha um vivo andando pela cozinha. Não sei por que, mas comer o caranguejo que vi vivo + me empanturrar de lula e ainda empurrar tudo com champagne me fez ter pesadelos terríveis com... guaxinins!
Deu mega trabalho fazer esses ovinhos de amendoim.
Terminamos o lanche na madruga, empanturrados e com a certeza de nunca mais comer lula a dorê na minha vida. Melhor assim. Nunca fez sentido comer lula no baixo-agusta...
E para terminar com uma receita, já que não posto aqui faz tempo, mando mais ou menos a receita do Sanduíche de Pacotinho Thomas Schimidt (aquele que matou Miguel em Feriado de Mim Mesm... Ops! Contei o final!)
500 gr de frango
2 potes de maionese light (só para não pesar na consciência)
4 pacotes de pão branco sem casca
2 maçãs, sem casca, picadas
2 cebolas picadas
Sei lá quanto de gengibre picado
150gr de damasco seco
Picles picado a gosto
Suco de uma laranja
2 colheres de sopa de mostarda
1 colher de sopa de curry
1 colher de sopa de wassabi
O resto você sabe, né? Ou quer que eu desenhe? Cozinha o frango. Desfia e mistura com todo o resto picado. Ah, antes refoga a cebola, a maçã, o gengibre e tal. Passa tudo em duas camadas de pão e embrulha em papel alumínio. Deixa na geladeira. Fica melhor no dia seguinte, e fica bom até uns 3 dias depois.
Aqui deu VINTE E SETE sanduíches, mas eu fiz 6 vegetarianos para a Pira (comecei misturando tudo sem o frango, fiz os dela, misturei o frango em seguida). O mais difícil é calcular o papel alumínio... neste foram dois rolos. E não miguela nas camadas, não. Com esse cálculo aí deve ter até mais recheio do que pão. No final, sobrou, mas não sobrou - cada um levou um pra casa e tudo certo.
08/03/2011
Eu, Renatinha Simões e Cris Lisbôa em festa chique.
Agora são 1:30 da segunda de carnaval e eu estou trancado em casa trabalhando... e postando no blog.
Aqui na frente toca um samba ensurdecedor, dos blocos de carnaval da Barra, mas ainda é bem melhor do que o pagode vagabundo que tocava durante as férias.
Agora escuto o versos do samba enredo: Sou manezinho pescador, eu sou da Barra da Lagoa..
O bloco e o povo na frente de casa.
Carnaval é uma festa cafona, não é? Carnaval é uma festa do povo. O que não é uma crítica, veja bem, é só uma observação. Talvez por isso novamente os amigos não tenham vindo, com exceção de uma rápida visita de Cristiane Lisbôa. Acho que carnaval é cafonice demais para eles...
Mas é divertido.Drinques coloridos aqui em casa com Cris Lisbôa.
Já começou na sexta. Eu tentando seguir a rotina, malhando na academia, recebo telefonema da Renata Simões - amiga de infância - para uma festa da Red Bull num veleiro em Jurerê, Veuve Clicquot a rodo. Ui.
Cris e Renata.
E o carnaval aqui na Ilha quebra a rotina como nenhuma outra data. A cidade muda. É uma outra cidade. Esta vilinha de pescadores é invadida por bichas e mais bichas que, logicamente, tomam a Barra como sua própria. É divertido. Parece uma sucursal costeira do Baixo Augusta, mas obviamente perturba quem mora aqui, tenta seguir uma rotina e dormir.
Fritando ao sol.
Eu resolvi aproveitar e me jogar, mas não tenho realmente muito saco mais para isso. Festa gay com bombados descamisados me parece um purgatório. Ok, ok, quantas vezes eu apareci descamisado aqui? Olha aí em cima. Mas era ao ar livre, na praia, no mar... E eu não preciso admirar os aspectos mais sórdidos que já existem em mim. Eu definitivamente não sou meu tipo. Fora que essa coisa de ficar sem camisa em balada é anti-higiênico. O povo se entope de bala, fica derretendo e você quer ir ao bar e tem de passar espremido entre um bando de homem suado. Tenho nojo.
Meu amiguinho gay, aprenda: tirar a camisa em balada é cafona, mostra que seus pais não te deram uma boa genética para você se garantir com um rostinho bonito e você quer mostrar que conseguiu compensar no corpo... O que, convenhamos, 90% do povo que tira a blusa em balada não conseguiu.
Eu com os bonitinhos com que saí. Todos bem vestidinhos.
Então só posso dizer que essas festas bombadas que rolam no Carnaval aqui em Floripa são horríveis. The Week, Ejoy, Concorde. Horríveis. Não apenas pelo povo cafona-suado-descamisado, não apenas pela música - house tribal - do demo, mas por uma falta de estrutura geral. A The Week fedia literalmente (e depois fiquei sabendo que a pista desabou, mas não cheguei a ver, fiquei lá só duas horas) a Ejoy era um galpão no meio de um campo de futebol, difícil de beber, difícil de ser feliz, poucos banheiros (químicos), não reflete mesmo o preço alto que cobra.
Com Paulinho, na praia.
A praia poderia ser melhor. É melhor. Tá, a praia vale. Apesar do som do demo que continuam deixando na praia Mole. É engraçado ir numa praia lotada de bichas, nesse clima de rave, com o povo se intoxicando nas asas das gaivotas. Mas parece que a praia nesses eventos perde um pouco o propósito, é só mais uma desculpa para o povo tirar a camisa (e a calça) porque ninguém entra de fato no mar, ninguém surfa, ninguém... sei lá, constrói castelinhos de areia. A praia é só um asfalto para se ficar pelado sem culpa.
ENTÂO VOCÊ SE CONSIDERA ESCRITOR?
Então você se considera escritor? (Trago questões, não trago respostas...) Eu sempre vejo com certo cinismo, quando alguém coloca: fulan...