30/03/2011

“A REVOLTA DOS CARNUDOS”


Eu previ tudo isso, eu previ esta cena em “O Prédio, o Tédio e o Menino Cego”, capítulo III-2.

Já tinha visto o vídeo original em algum programa pseudo-jornalístico da TV. Mas hoje, com uma reportagem na Folha, fiquei sabendo da repercussão do caso, e dessa entrevista.

Mais engraçado (ou curioso) do que o vídeo, foi o fato de ele ter se espalhado mundialmente e o gordinho ter se tornado uma espécie de justiceiro para as vítimas de bullying.

Acho um exemplo bastante relativo, para que sirva de exemplo. Sem entrar no papo de que violência só gera violência, blábláblá, o traço de covardia do bullying aqui é questionável – o gordo é consideravelmente maior e mais forte do que seu ofensor, que também parece agir sozinho. No final, é um moleque grande agredindo outro bem menor, ainda que o outro tenha começado; pode satisfazer a alguns gorduchinhos, mas não espelha a maioria dos casos, em que o menor e mais fraco é a vítima do bullying e não tem como reagir.

E a noção de menor e mais fraco também é relativa. Os mesmos moleques que sofrem abuso dos mais velhos, estão atazanando os mais novos. É a vida selvagem da infância – que eu considero a pior fase da vida, de longe, so far...

E eu nem poderia dizer que fui vítima de bullying, estudei em colégios razoavelmente alternativos, onde se procurava respeitas as diferenças pessoais, blábláblá, mas claro que tive meus momentos de aporrinhamento, chamado de veadinho. E devo ter tido meus momentos de agressor.

Certa vez encontrei uma ex-professora numa livraria:

Ela: “Você é o Santiago, escritor, não é?”
Eu, fofo e querido com uma provável leitora
: “Sim, sim.”
Ela
: “Fui sua professora no primário...”
Eu, tentando lembrar
: “Ah, bacana, você é a...”
Ela, rígida
: “Você atazanava meu filho na perua escolar.”
Eu, desconcertado, sem me lembrar; (eu era apenas uma criança!):
“Er... Eu...”
Ela
: “Uma vez você jogou a lancheira dele pela janela da perua.”
Eu... Eu? Não me lembro disso
: “Não me lembro disso!”
Ela
: “E ainda acha que tem direito de caminhar livremente por aí, posando de bom moço, de escritor... Você jogou a lancheira do meu filho pela janela!!!”

Tá, essa última fala não foi bem assim, mas acho que era mais ou menos o que ela pensava, e que me fez recuar, dando desculpas para sair logo dali. Pior que cheguei a encontrar ela anos depois e: “Você jogou fora a lancheira do meu filho!!!”

(Eu sinceramente não me lembro disso. E nem acho que eu seria capaz de uma atrocidade dessas. Provavelmente o moleque perdeu a lancheira, quebrou a lancheira, trocou a lancheira por pedras de crack e colocou a culpa num aloprado qualquer, no caso eu.)

Agora quero ver o vídeo de um veadinho dando giletada nos colegas, para me sentir representado.

NESTE SÁBADO!