O QUE ANDA LENDO?
Santiago Nazarian com Guilherme Weber, ator e diretor.
Nazarian: Me diz, o que anda lendo?
Weber: Role Models, do John Waters.
Nazarian: Opa, o que é?
Weber: Um livro dele falando sobre suas histórias e preferências. Sensacional. Tem desde um capítulo onde ele conta sua relação com a Leslie, uma das Manson Girls, que está presa há anos por assassinato e se tornou uma de suas melhores amigas, até um capítulo sobre alguns de seus livros favoritos. Fala de encontro com ídolos e dos heróis de Baltimore, sua cidade natal.
Nazarian: É uma espécie de autobiografia?
Weber: Acaba sendo, involuntariamente, porque ele fala do que constitui o universo dele. E as conexões e sinapses que ele faz no gigantesco e originalíssimo universo que forma a cultura dele são interessantíssimas. Ele começa um capítulo falando do encontro e fixação dele pelo Johnny Mattis, passando pela biografia da Margaret Hamilton, a atriz que fez a Bruxa Má do Oeste em O Mágico de Oz, e termina revelando que matou um homem em um atropelamento.
Nazarian: (Tá dando uns paus aqui.)
Weber: Ok, essa frase tem tudo a ver com o Waters, hahaha.
Nazarian: Haha. Eu acho a filmografia dele bem irregular. Quais filmes dele você mais gosta?
Weber: Acho, na minha opinião, claro, que ele está não acima, mas à margem do bom e do ruim. Talvez seus filmes não sejam agradáveis de assistir, e não são, mas ele é um artista que inventou um mundo, uma estética, um universo, então realmente acho que o lugar dele é outro. A mesma coisa com os filmes do Andy Warhol, é um universo de experimentação que felizmente não cabe em classificações. Não existiria nem a rua augusta de hoje sem ele... Eu gosto do universo todo... Pink Flamingos, Problemas Femininos, Cecil B. Demente...
Nazarian: Ah, o Cecil B. Demente, por exemplo, acho uma bobagem. Eu gosto bem do Serial Mom, que é uma bobagem, mas é um filme bem realizado, divertido. Tem um chamado Pecker de que eu lembro que gostei também...
Weber: É bobagem total, mas acho sedutor [o filme Cecil B. Demente]. A Melannie Griffith explodindo de botox, o Stephen Dorff pós Michael Stipe, só o cartaz já é incrível...
Nazarian: E eu discordo um pouco de você. Acho que ele pode ter criado sim esse universo, mas não teve uma influência lá tão marcante. Pouca gente assiste.
Weber: Não existiria nem Almodóvar sem ele. Quando a influência é grande, como a dele, as pessoas nem sabem que estão sendo influenciadas. Isso é o verdadeiro universo pop!
Nazarian: Não sei se é uma influência, direta. Às vezes há um parentesco, mas não há uma influência real...
Weber: É periférica, sim.
Nazarian: As pessoas não assistem os filmes dele, Gui. No Brasil, quase nenhum passou, é difícil de achar...
Weber: Então, por isso acho incrível. O universo dele já ultrapassou a própria cinematografia. Sabe que lendo esse livro dá para perceber o quanto o universo dele é extenso? Acho inclusive que ele abriu muitas portas para que os artistas misturassem o erudito com o popular, não necessariamente nas suas obras, mas no seu universo de referências. Bom, dá pra ver que estou adorando o livro!
Nazarian: Com certeza [a peça dirigida por Guilherme Weber] Os Altruístas tem muito dele, né?
Weber: Totalmente!!! E do Warhol. Eu falava para os atores: pensem nas heroínas deles, na Candy, Jackie, Holly, no Divine, na Pia Zadora...
Nazarian: Conhece o Alisson Gothz?
Weber: O artista plástico... Que parece o Boy George...
Nazarian: Isso, performático. Ele tem bem de John Waters. Esses dias inclusive postou uma foto do Waters com a Elvira.
Weber: É filho direto. Postei uma estes dias bem rara, do Divine com a Jackie Curtis. As divas do Village.
[Role Models, de John Waters, ainda não foi publico em português, no Brasil.]