PRA LÁ DO PARANÁ
Terminou em sangue e patifarias minhas apresentações nos
Sescs pelo Paraná... Nah, longe disso.
Tudo muito civilizado, carinhoso e produtivo.
Eliane tem muito o que dizer.
“A Nova Geração de Leitores Adolescentes” era o tema das
minhas mesas com Eliane Brum. Eu mesmo ainda estou conhecendo essa geração (ou
esse mercado); apesar de eu ter uma boa base de leitores jovens, nunca
foram exatamente juvenis, e Eliane
está ainda mais distante do tema, com mais experiência em reportagens
biográficas. Mas conseguimos nos ater razoavelmente ao tema, analisando as
tendências atuais, e relatando nossa própria formação como leitores.
A maior parte da plateia, nas três cidades, era de jovens
universitários – além de alguns professores e alguns adolescentes. A maior
parte da plateia não conhecia nenhum de nós dois – bacana ver que o tema e a
curiosidade sobre escritores ainda motiva pessoas. Porém é sempre mais legal
encontrar meus leitores de fato, ouvir as perguntas e opiniões deles sobre o
que eu escrevi.
Nossa plateia.
A primeira apresentação foi em Ponta Grossa, para uma
plateia formada basicamente por universitários, já que a apresentação foi
transferida do Sesc para uma universidade próxima, por conta de uma greve.
Estava bem cheio, mas o povo parecia que estava lá para matar aula, foi meio
difícil cativar a plateia. Acho que conseguimos, no final, houve boas
perguntas. Da cidade, não conheci quase nada.
Turista em Guarapuava.
O segundo dia foi em Guarapuava, que eu achei de longe o
melhor debate. A linda sala do Sesc estava lotada, o povo parecia realmente
interessado e foi o bate-papo mais divertido e produtivo, com gente da plateia
perguntando, opinando, discordando. Também consegui dar algumas entrevistas,
caminhar um pouco pela cidade, pelo lago, a lagoa. Achei bem bonito.
Curitiba foi a pior apresentação das três. Estava cheio, mas
a sala não era lá muito grande – umas sessenta pessoas, o menor público dessa
turnê. Esperava alguns amigos, que não apareceram. Achei o clima tenso, tudo
sério demais, e farpas foram trocadas. Sinceramente, eu achei que ninguém lá
estava interessado no que eu tinha para falar, e isso foi especialmente
desmotivador por eu estar falando basicamente as mesmas coisas no terceiro dia
seguido. Só percebi que havia leitores MEUS realmente por lá, depois que a mesa
acabou, que vieram vários queridíssimos com livros para eu autografar. Isso fez
valer.
Guarapuava.
E no geral, valeu demais. Tirando as viagens, essa
experiência de se apresentar com a mesma pessoa (Eliane Brum), discutindo os
mesmos temas com diferentes públicos é muito proveitosa. É uma experiência
próxima a uma apresentação teatral, em que cada dia o público reage diferente,
dá um ritmo diferente. Eu não pude deixar de repetir piadinhas nos três dias –
que funcionavam mais ou menos, dependendo da cidade.
Na estrada.
Eu não conhecia a Eliane Brum, e foi uma companhia
riquíssima. As discussões se prolongavam pela van nas viagens e nos jantares. É
uma pessoa de uma sensibilidade absurda, e com alguns pontos discordantes
comigo, vitais para um bom debate. Pessoalmente, eu acho debates literários um
saco. Quero dizer, não consigo assistir. Sou hiperativo e não consigo focar,
geralmente desligo nos primeiros cinco minutos. (Bem, eu nunca gostei de aula,
de palestra, de ver gente falando...) Como debatedor, eu procuro sempre rebater
para a plateia, fazê-la se lembrar que eu sei que eles estão lá, seja com
piadinhas, seja com provocações ou perguntas. Nem sempre dá certo. A química
com a outra pessoa da mesa é essencial, tem de haver uma troca e uma sintonia.
A Eliane, particularmente, tem um tom bem diferente do meu, e tivemos de
encontrar um equilíbrio que desse certo. Por isso os três dias juntos foram
especialmente proveitosos. Vou ficar com saudades.
Entrevista para a filial da Globo no interior do Paraná.
Lembro em especial de uma conversa que tivemos na van, de uma cidade para outra, falando sobre as dificuldades, o mercado, a importância de premiações e seleções e divulgações... Eliana me solta: "O importante mesmo é se divertir." Uma colocação óbvia, mas que tantas vezes é esquecida. Eu mesmo já me esqueci de que escrever costumava ser uma diversão para mim. Não tem sido, confesso.
O pessoal todo do Sesc, das cidades que fomos, nos hotéis
foi muito atencioso e acolhedor. O Sesc organiza esses eventos como ninguém (e paga os autores, o que é muito
importante). É nosso Ministério da Cultura paralelo, fazendo pela literatura o
que o governo negligencia. Triste ver que um projeto como o Autores &
Ideias (esse) está ameaçado, já que o governo está cobrando que o Sesc aumente
a verba destinada à educação formal (já que o governo não dá conta), tendo de
diminuir a verba para cultura.
Olha só, em Ponta Grossa tinha até OLÍVIO, meu primeiro, para vender.
Quanto ao lançamento do Garotos
Malditos basicamente não houve. Os livros que assinei nessas três cidades
foram os anteriores, que leitores trouxeram de casa. O público que assistiu não
era o público do livro (já haviam passado da idade de se interessar por um
livro juvenil e ainda estavam longe de terem filhos adolescentes). Alguns
compraram O Prédio, o Tédio e o Menino
Cego e Pornofantasma, que também
estavam à venda. O mais lindinho foi uma mãe em Guarapuava que estava com a
filha de onze anos e veio com Garotos
Malditos para eu assinar. “Minha filha ficou louca pelo seu livro.” “É...
acho que já dá para ela ler...” eu disse com certo receio. E a mãe: “Dá sim,
claro que dá.” Então tudo certo.
Ainda não sei bem como chegar nesse público (13-16 anos),
como promover esse livro. É bom que a RECORD saiba...
Fico pensando também em quantos livros distribuí (deste e
dos anteriores), para amigos, organizadores de eventos, “formadores de
opinião”. É tão triste pensar que muitos desses livros foram basicamente
engavetados. É um pouco contraditório, porque eu sou daqueles que não empresta
livro, que não repassa livro, recebo pilhas e mais pilhas, que não dou conta de
ler, mas eles ficam lá na minha casa. Mas com os meus próprios, preferiria que
fossem repassados. Preferia que se a pessoa não fosse ler, que desse para
alguém que pudesse se interessar, especialmente o Garotos Malditos, que é para um público específico.
Agora estico o final de semana aqui no sul. Florianópolis,
claro. (Nada marcado por aqui – o maior problema da Ilha, você sabe, é que
praticamente não há vida cultural. E transporte público. É, o maior problema da
ilha é mesmo a falta de transporte.)
Agora é tentar trazer o sol de volta em minha vida.