O QUE ANDA LENDO
Com Carlos Henrique
Schroeder, escritor.
Ei, não sentiu falta da minha coluna?
Eu sei que não. Haha.
Mudou a editoria da revista Metáfora, que efetivamente pagava pela coluna lá, minha colaboração ficou incerta, e eu perdi o ânimo de seguir apenas por aqui, ainda mais porque achei que encerrei com chave de ouro com a leitora-confeiteira-piteia-docinho-de-coco Hitomi. Mas faltava a última coluna da revista, que fiz com o grande escritor e agitador cultural catarinense Carloes Henrique Schroeder.
Além de editor, Schroeder organiza o Festival Nacional do Conto, em Jaraguá do Sul, do qual eu participei ano passado. Evento da maior qualidade e de especial importância por haver tão pouca gente fazendo pela literatura em Santa Catarina. É o que eu falo aqui: quem vocês acham que vai levar o escritor para a sua cidade, participar de debates, autografar livros? Schroeder é desses caras, que corre atrás de apoio, patrocínio, se esforça ao máximo para receber os escritores da melhor forma possível. E faz bonito.
Não dá para ficar esperando que só os Sescs (e muito menos o governo) leve os autores. É preciso que o povo das letras arregace as mangas.
Eu, como tenho problemas de sociabilidade, faço isso por aqui....
Nazarian:
Schroeder, o que anda lendo?
Schroeder: Estou lendo O Mapa e o Território do Michel Houllebecq, que é sempre um autor
visceral, como o Bernhard.
Nazarian: Hum, conheço
pouco dele, só li o Partículas
Elementares...
Schroeder: Li
todos os livros dele, e eu acho que as pessoas têm um birra com ele, só porque
ele fala umas verdades. O Brasil impera um bundamolismo oficial, principalmente
na literatura. A crítica opera num padrão ultrapassado, do século passado. E
muitos autores correm atrás da crítica, então surge um retro-retrocesso. O
Houllebecq sempre apontou para o futuro, em seus livros.
Nazarian: É um
meio muito restrito, muito fechado, mais burro e preconceituoso do que deveria
ser... Onde não há espaço para alternativas. Ou melhor até há, acho que hoje
há, mas as alternativas não são aceitas no meio, seguem paralelas. Mas e quanto
ao O Mapa e o Território?
Schroeder: Em
"O mapa e o território" tudo gira em redor do Jed Martin, um artista
plástico amargurado, e suas relações tempestuosas. A ausência do pai, a beleza
de uma paixão juvenil, as relações entre arte e dinheiro. A linguagem é crua,
bem Houllebecq, e ele aparece como personagem também, de maneira rápida. O
grande lance do livro é o questionamento: onde acaba a vida, onde começa a
arte, onde acaba a arte, onde começa a vida? E o legal que todos os personagens
vivem uma espécie de contemplação, da narrativa, da vida.
Nazarian: Essa
coisa da metaficção dele... Isso é o tipo de coisa que não é bem vista com bons
olhos aqui... Bem, acho que não é bem vista na França também, né? Ele está
longe de ser unanimidade...
Schroeder: Ele sempre foi muito criticado, e quando
ganhou o Goncourt, com esse livro, as coisas pioraram. Ele chegou a ficar um
tempo desaparecido, no final do ano passado, ninguém sabia dele. Logo mete um
tiro nos miolos, podes apostar.
Nazarian: Escritor
bom é escritor morto!
Schroeder: Com
certeza, ninguém suporta o sucesso em vida, dói muito. E no Brasil nem se fala...
A França não vive um bom momento na literatura, mas tem o Mathias Enard, que
escreveu Zona, um puta livro. O
Littel, e claro, o Houllebecq.
Nazarian: "Ninguém
suporta o sucesso em vida", acho um pouco pesado, Schroeder. Juliana Paes
não deve estar pensando em suicídio...
Schroeder: Na
literatura, na literatura, e quem não suporto o sucesso são os outros, o
detentor do sucesso suporta, é claro. E muito bem.
Nazarian: Eu acho
que, para o escritor, talvez seja diferente. É que o máximo de sucesso que o escritor
pode alcançar - mesmo na França - é ainda indiferente ao mundo das pessoas
reais. É inútil para mudar sua realidade, sua reclusão, sua solidão e as
frustrações que o fizeram, de antemão, ser escritor.
Schroeder: Tem um
texto muito legal do Manuel Vilas, que pergunta "o que é o sucesso"
para um escritor, e os níveis de sucesso. O latino quer sair na Europa, o
europeu nos EUA, o americano na Europa e Japão, é muito legal, sobre a
portabilidade. Para mim, sucesso é poder ler e escrever.Você está sempre
sozinho, sempre, na literatura.
O Mapa e o Território,
do francês Michel Houllebecq, foi publicado em português em 2012, pela Record.