31/08/2012

O QUE ANDA LENDO



Com Carlos Henrique Schroeder, escritor.


Ei, não sentiu falta da minha coluna?

Eu sei que não. Haha.

Mudou a editoria da revista Metáfora, que efetivamente pagava pela coluna lá, minha colaboração ficou incerta, e eu perdi o ânimo de seguir apenas por aqui, ainda mais porque achei que encerrei com chave de ouro com a leitora-confeiteira-piteia-docinho-de-coco Hitomi. Mas faltava a última coluna da revista, que fiz com o grande escritor e agitador cultural catarinense Carloes Henrique Schroeder.

Além de editor, Schroeder organiza o Festival Nacional do Conto, em Jaraguá do Sul, do qual eu participei ano passado. Evento da maior qualidade e de especial importância por haver tão pouca gente fazendo pela literatura em Santa Catarina. É o que eu falo aqui: quem vocês acham que vai levar o escritor para a sua cidade, participar de debates, autografar livros? Schroeder é desses caras, que corre atrás de apoio, patrocínio, se esforça ao máximo para receber os escritores da melhor forma possível. E faz bonito. 

Não dá para ficar esperando que só os Sescs (e muito menos o governo) leve os autores. É preciso que o povo das letras arregace as mangas. 

Eu, como tenho problemas de sociabilidade, faço isso por aqui....



Nazarian: Schroeder, o que anda lendo?

Schroeder:  Estou lendo O Mapa e o Território do Michel Houllebecq, que é sempre um autor visceral, como o Bernhard.

Nazarian: Hum, conheço pouco dele, só li o Partículas Elementares...

Schroeder: Li todos os livros dele, e eu acho que as pessoas têm um birra com ele, só porque ele fala umas verdades. O Brasil impera um bundamolismo oficial, principalmente na literatura. A crítica opera num padrão ultrapassado, do século passado. E muitos autores correm atrás da crítica, então surge um retro-retrocesso. O Houllebecq sempre apontou para o futuro, em seus livros.

Nazarian: É um meio muito restrito, muito fechado, mais burro e preconceituoso do que deveria ser... Onde não há espaço para alternativas. Ou melhor até há, acho que hoje há, mas as alternativas não são aceitas no meio, seguem paralelas. Mas e quanto ao O Mapa e o Território?

Schroeder: Em "O mapa e o território" tudo gira em redor do Jed Martin, um artista plástico amargurado, e suas relações tempestuosas. A ausência do pai, a beleza de uma paixão juvenil, as relações entre arte e dinheiro. A linguagem é crua, bem Houllebecq, e ele aparece como personagem também, de maneira rápida. O grande lance do livro é o questionamento: onde acaba a vida, onde começa a arte, onde acaba a arte, onde começa a vida? E o legal que todos os personagens vivem uma espécie de contemplação, da narrativa, da vida.

Nazarian: Essa coisa da metaficção dele... Isso é o tipo de coisa que não é bem vista com bons olhos aqui... Bem, acho que não é bem vista na França também, né? Ele está longe de ser unanimidade...

Schroeder:  Ele sempre foi muito criticado, e quando ganhou o Goncourt, com esse livro, as coisas pioraram. Ele chegou a ficar um tempo desaparecido, no final do ano passado, ninguém sabia dele. Logo mete um tiro nos miolos, podes apostar.

Nazarian: Escritor bom é escritor morto!

Schroeder: Com certeza, ninguém suporta o sucesso em vida, dói muito. E no Brasil nem se fala... A França não vive um bom momento na literatura, mas tem o Mathias Enard, que escreveu Zona, um puta livro. O Littel, e claro, o Houllebecq.

Nazarian: "Ninguém suporta o sucesso em vida", acho um pouco pesado, Schroeder. Juliana Paes não deve estar pensando em suicídio...

Schroeder: Na literatura, na literatura, e quem não suporto o sucesso são os outros, o detentor do sucesso suporta, é claro. E muito bem.

Nazarian: Eu acho que, para o escritor, talvez seja diferente. É que o máximo de sucesso que o escritor pode alcançar - mesmo na França - é ainda indiferente ao mundo das pessoas reais. É inútil para mudar sua realidade, sua reclusão, sua solidão e as frustrações que o fizeram, de antemão, ser escritor.

Schroeder: Tem um texto muito legal do Manuel Vilas, que pergunta "o que é o sucesso" para um escritor, e os níveis de sucesso. O latino quer sair na Europa, o europeu nos EUA, o americano na Europa e Japão, é muito legal, sobre a portabilidade. Para mim, sucesso é poder ler e escrever.Você está sempre sozinho, sempre, na literatura.

O Mapa e o Território, do francês Michel Houllebecq, foi publicado em português em 2012, pela Record



ENTÂO VOCÊ SE CONSIDERA ESCRITOR?

Então você se considera escritor? (Trago questões, não trago respostas...) Eu sempre vejo com certo cinismo, quando alguém coloca: fulan...