09/06/2013

NA ESTRADA, NA ESPANHA


Rumo a Zaragoza. 

Está chegando ao fim a maratona da turnê de Masticando Humanos pela Espanha. Foram quatro cidades em quatro dias, cinco eventos e algumas entrevistas.

Minha editora por aqui, a Ediciones Ambulantes, é pequena e está se especializando em literatura brasileira, tanto clássicos (Castro Alves, João do Rio, Machado de Assis, Álvaro de Azevedo), como novos (Otávio Júnior). Eles têm compensado o alcance limitado com muito empenho e um trabalho dedicado ao livro e ao autor, que muitas vezes não se vê nas grandes editoras que publicam à toque de caixa. 

Então eles armaram um esquema de guerrilha, conseguiram apoios para passagens, hospedagem e alimentação e me encaixaram na programação cultural de algumas cidades bacanas. 


Victor é espanhol, casado com Aline, que é brasileira. Os dois foram meus tradutores e editores. 

O formato de alguns eventos aqui da Espanha me pareceu estranho. As feiras do livro de Madrid e Zaragoza, por exemplo, têm estrutura semelhante à da Feira do Livro de Porto Alegre, com estandes montados a céu aberto, na praça (em Madrid, no lindo Parque del Retiro) e foco voltado à venda ao público. Mas o esquema dos autógrafos não funciona. O autor fica sentado num estande, com os livros à sua frente, esperando que leitores venham e comprem. Claro que perdi a conta de quantas pessoas me tiravam para vendedor e perguntavam o preço de outros livros. Sem conhecer o autor, não há muito porque a pessoa comprar o livro, e é um formato intimidante, pegar o livro na frente de quem escreveu, dar uma olhada e ter de devolver (ou não) na frente dele. A maioria das pessoas nem tocava no livro. 

Autógrafos na Feira do Livro de Madrid. 

Nessas feiras há algumas leituras e debates, mas são limitados, o foco é a venda mesmo. E me causou esse estranhamento não apenas pela minha experiência, de autor desconhecido por aqui. Na feira do livro de Zaragoza (que tem o mesmo formato da feira do livro de Madrid), eu fiquei sentado num estande com um autor local bem conhecido. Ele autografou uns 3 livros... eu 5. Ele se sentiu ofendido e foi embora depois de uma hora, sem nem se despedir. 

É fundamental que esses eventos tenham debates, leituras, apresentação do autor, para que as pessoas que estejam passando possam dar uma olhada sem compromisso, saber mais sobre o livro, daí decidir se compram ou não. 

Apresentação em Madrid.  

 Felizmente tive outro evento em Madrid, que compensou bem. O grande imortal espanhol Antonio Maura apresentou minha obra na Casa do Brasil, seguido de autógrafos. Foi bacana a presença e participação do público, mas o mais lindo foi ver as impressões entusiasmadas dele, que sublinhou passagens, destacou frases e ideias (da edição espanhola).

 Com Antonio Maura. 


Ontem também tive dois eventos bem bacanas. Comecei em Valladolid, cidadezinha à noroeste de Madrid, com uma apresentação na linda livraria Oletvum. Estava cheio, a conversa (conduzida pela jornalista Veronica Mellado) foi ótima, o povo participou e comprou bem. No final, a dona da livraria ainda pediu para eu autografar cinco exemplares para os clientes da loja. Ao ver que eu estava desenhando diferentes jacarés em cada livro, ela pediu mais cinco para meus editores, fotografou os autógrafos e disse que ia divulgar no Facebook que haviam dez exemplares autografados com ilustrações exclusivas à venda na livraria. Você que está na Espanha, já sabe.


"Leia-me ou devoro-te!"


Apresentação em Valladolid. 


Aqui muitos leitores já tinham lido o livro e estavam realmente empolgados. Bem lindinho. 

Turismo com Veronica.

De Valladolid seguimos direto para Salamanca, cidade incrível onde está acontecendo o Festival Facyl, com música, performance e literatura. Ontem tinha show do Mika, inclusive, mas não pude ficar para ver. Minha apresentação foi na Casa de las Conchas, com um público legal de espanhóis, brasileiros e portugueses. Voltamos na mesma noite para Madrid. 

Em Salamanca.  


Tem sido curioso falar e ouvir sobre esse livro, sete anos depois que eu o publiquei no Brasil. Ele parece menos meu. Não é o livro que eu faria hoje, claro, mas não deixo de ficar orgulhoso. Já sinto que aqui na Espanha se fala e se discute com mais profundidade sobre ele. E, segundo me disseram, Aline e Victor fizeram um trabalho primoroso de tradução. Eu não poderia avaliar, não só pelo nível do meu espanhol, mas também porque tenho receio de reler meu livro impresso...


Exquisito, yo?


Falando em espanhol, ainda vou bem no truque, mas dá para me comunicar e discutir numa boa. Aline disse que definiria meu nível como "avançado" e muitos disseram que tenho um sotaque argentino. Que esquisito... (ou exquisito?)


Samara, estás aí?


Hoje tenho o domingo de folga. Estou pensando se vou de novo ao Prado (que visitei em 2010), se vou às compras e finalmente caio na noite. Queria ter passado a manhã dormindo, mas me peguei me revirando na cama, então era hora de atualizar o blog.

Amanhã sigo para Lisboa, só até o final da semana. O dinheiro está curto, o trabalho está pesado, mas a vida está quase boa.



Churros stay or churros go?


ENTÂO VOCÊ SE CONSIDERA ESCRITOR?

Então você se considera escritor? (Trago questões, não trago respostas...) Eu sempre vejo com certo cinismo, quando alguém coloca: fulan...