E OS JOVENS CONTINUAM ESCREVENDO...
Prefácio meu para "O Caos do Acaso", de Mauro Nunes, editora Kazua. Recém lançado:
Este é um romance
de estreia. E geralmente se associa os romances de estreia com a ingenuidade,
imaturidade; quando se elogia um autor iniciante geralmente é com a palavra
“promissor”, como se ele prometesse fazer melhor no futuro, como se ainda
estivesse por fazer. Mauro Nunes já está fazendo.
O Caos do Acaso é um romance de estreia,
com o melhor que pode haver nisso: paixão, espontaneidade, uma liberdade
criativa delirante e um universo literário muito próprio, ainda não contaminado
pelas formas académicas. Este não é “só” um romance de estreia, é uma enxurrada de narrativas
fragmentadas que se cruzam, se chocam e se destroem. A criança trancada num
porão, o tetraplégico à espera da eutanásia, a enfermeira que realiza abortos,
o gay enrustido de violência escancarada. Seus diversos protagonistas espelham
o caos de um mundo esquecido por Deus – ou seria um mundo que torce demais por
uma solução divina?
“Limpeza urbana,
salvação da família, preservação do amor. Deve estar louco. Os valores estão
falidos. Os valores não servem de nada. A sociedade se alimenta de si mesma. Se
consome em miséria. Não há deus que salve.”
É uma escrita
cruel, visceral, mas que a mim parece uma benção, trazendo esperança quanto ao
futuro da literatura, em meio a tanto textinho pau no cu (no pior sentido),
tanto autor “coxinha”.
A literatura é
uma arte de senhores. E tanto se valoriza os “senhores escritores”, que muitas
vezes se negligencia o talento que só um moleque de vinte e poucos pode ter.
(Não é toa que todo o Romantismo foi feito por moleques que morreram cedo.) O Caos do Acaso é uma prova da
importância de se escrever (e publicar) cedo. Provavelmente daqui a 50 anos
Mauro Nunes ainda estará escrevendo – mas certamente não será mais capaz de
escrever uma coisa dessas .
“Você não me
conhece...” se apresentou ele para mim há algum tempo no Facebook, perguntando
se eu poderia escrever esse prefácio. E hoje me sinto honrado de ele ter
pedido. E feliz de poder dizer: não conhecia, felizmente, nunca tinha lido nada
igual. E isso é só o começo.
Santiago
Nazarian