11/10/2013


FRANKFURT

Tava bem quietinho para não passar por ressentido e invejoso - coisa que assumo que sou, como tantos; não sou é hipócrita. Mas não me aguentei lendo as notícias sobre a Feira de Frankfurt...

Primeiro se questionou muito a seleção dos autores. A organização da feira se queixou da falta de negros. Paulo Coelho se queixou da panelinha - dizendo que conhecia só uns 20 (!) autores e listando uma série de escritores nitidamente comerciais (Raphael Dracon, André Vianco, Thalita Rebouças, Felipe Neto!) que deveriam ter sido convidados. Assim, ele cancelou sua participação - e muitos apontam que foi questão de ego, por ele não ter recebido papel de destaque. 

Eu, sinceramente, achei boa a seleção oficial de autores. Havia um bom equilíbrio de autores comerciais (como o próprio Paulo Coelho), autores premiados e novos nomes importantes. Claro que lamento não estar no bolo - mas achei uma seleção mais válida do que a da Granta, por exemplo, que foi assumidamente cartas marcadas. (O que ficou claro quando a publicação pediu que autores selecionados trocassem seus textos). De todo modo, eu próprio estive em Frankfurt a convite em 2011, nas preparações do Brasil por lá, apresentei minha obra, e talvez não tenha tido o resultado que se esperava. (Na Alemanha, participo apenas de antologias, não tive nenhum dos meus romances publicados). Racionalmente eu poderia até me auto-questionar por que viajo mais do que muitos autores. Só este ano lancei livro na Espanha e estive na Feira de Madri, Zaragoza, Valladolid e Salamanca. Em dezembro estou na Feira de Guadalajara, no México - nunca publiquei por lá. 

Mas o que me atravessou mesmo foi o discurso de Luiz Ruffato, na abertura. Apesar de verdadeiro, é absurdamente sem propósito, não trata da literatura nacional, existe apenas para se relacionar com a literatura e a biografia DELE, que repete como sempre que "nasci pobre, filho de pipoqueiro, blablablá." 
Ele trata da literatura na primeira pessoa do singular, "Para me contrapor a isso escrevo", quando deveria estar representando todos os autores que estão lá e aqui. 

De toda forma, não me surpreendo. Apesar de ele ser um autor respeitado, pessoalmente sempre se mostrou duvidoso comigo. Não esqueço e não perdoo o fato de teu ter conversado pessoalmente com ele, uma década atrás, na época em que eu mesmo o admirava, e ter comentado que organizava em parceria com o Marcelino Freite uma antologia de contos sobre homossexualidade. Ruffato elogiou a ideia e me incentivou - apenas para meses depois lançar ele mesmo uma antologia com esse tema. Quando o questionamos sobre isso e expusemos publicamente o fato, ele lançou mão de sofismas, dizendo que antologias como essas existiam aos montes, não era uma ideia inédita e não poderíamos acusá-lo de plágio. Nunca expusemos a questão como plágio, mas sim como anti-ética. Se ele tivera a mesma ideia, por que não me disse nada? Por que apenas me elogiou e seguiu em silêncio realizando o MESMO projeto em menor tempo?

 Na época, Ruffato covardemente virou a imprensa contra nós, em especial contra mim, autor em início de carreira, que não poderia competir com o respeito e prestígio que nutria um autor como ele, premiado, com cara de escritor de respeito, engajamentos pretensamente políticos, de origem humilde, filho de pipoqueiro, blablablá. Sou rancoroso e não vou esquecer. Hoje, quando o encontro, nem o cumprimento.

E é curioso que Ruffato - por sua biografia, aparência física, discurso, obra e orientação (hetero) sexual - se encaixe no modelo perfeito que se espera de um escritor. Já eu, nesse meio, é que tenho de vencer resistências e preconceitos.

Agora está se discutindo ele manchar a imagem do Brasil em Frankfurt. Que ele deveria ter passado uma imagem mais positiva. Para mim não é esse o ponto. Ele aproveitou o momento para expor novamente o engajamento DELE com as minorias, e os outros, como sempre, é que se danem. Espero que AGORA as pessoas comecem a perceber isso. (Texto integral, tirem suas conclusões:

Enfim, eu não vejo é a hora que essa feira acabe, porque só se fala nisso, e está impossível de trabalhar com editores, agentes, traduções e publicações todas só voltadas para a Alemanha. 

Aqui, a vida continua. Medonha como sempre. 


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