A MORTE DO IRMÃO DO MÁRIO
Acordei numa casa vazia, num colchão no chão, nos subúrbios de Londres. Morava lá em 2002, trabalhando de barman, me intoxicando nas horas vagas. O menino que conheci na noite anterior, no Popstarz, já estava vestido e de pé. Disse que estava de mudança, saindo daquela casa, ou chegando naquela casa, ou que a casa seria demolida no instante em que puséssemos os pés para fora. Botou um vinil para tocar na vitrola que restava. "Lisa Says", do Velvet Underground, sob agulha e estalos, foi a trilha perfeita para aquela manhã e eternizou uma noitada que de outra forma teria sido apagada definitivamente em neurônios perdidos, garotos perdidos.
*
Aos 16, no ensino médio, emprestei para um colega o "Parallel Lines" do Blondie. Ele me emprestou uma coletânea de um cantor que eu não conhecia. Tinha "Walk on the Wild Side", "Vicious", uma versão ao vivo de "Sweet Jane". Os dois CDs ainda estão aqui em casa.
*
Em 2010, uma editora pediu para revisar a tradução e fazer a preparação de texto de um romance entregue com vários problemas. Entre outros assassinatos, me deparei com esse parágrafo:
So I clean and I prepare and I buy scented candles and I put on some Velvet Underground, trying to make everything perfect. It’s as if I’ve forgotten I’m immortal.
Que foi traduzido como:
Então está tudo limpo, preparado e comprei velas aromáticas e também aspergi um pouco do perfume Velvet Underground, tentando deixar tudo perfeito. É como se eu esquecesse que sou imortal.
O qual alterei para:
Então eu limpo, preparo, compro velas aromáticas e boto um som do Velvet Underground, tentando deixar tudo perfeito. É como se eu esquecesse que sou imortal.
(Não vou citar o nome do livro e da tradutora, para não destruir uma carreira.)
*
Ontem estou no computador. Murilo na sala, lendo Clive Barker.
Eu: Nossa, morreu o Lou Reed.
Ele: Quem?
Eu: O Lou Reed.
Ele: Irmão do Mario?
Eu: Que Mario?
Ele: Irmão do Luigi! O que você está jogando?
*
Aos 16, no ensino médio, emprestei para um colega o "Parallel Lines" do Blondie. Ele me emprestou uma coletânea de um cantor que eu não conhecia. Tinha "Walk on the Wild Side", "Vicious", uma versão ao vivo de "Sweet Jane". Os dois CDs ainda estão aqui em casa.
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Em 2010, uma editora pediu para revisar a tradução e fazer a preparação de texto de um romance entregue com vários problemas. Entre outros assassinatos, me deparei com esse parágrafo:
So I clean and I prepare and I buy scented candles and I put on some Velvet Underground, trying to make everything perfect. It’s as if I’ve forgotten I’m immortal.
Que foi traduzido como:
Então está tudo limpo, preparado e comprei velas aromáticas e também aspergi um pouco do perfume Velvet Underground, tentando deixar tudo perfeito. É como se eu esquecesse que sou imortal.
O qual alterei para:
Então eu limpo, preparo, compro velas aromáticas e boto um som do Velvet Underground, tentando deixar tudo perfeito. É como se eu esquecesse que sou imortal.
(Não vou citar o nome do livro e da tradutora, para não destruir uma carreira.)
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Ontem estou no computador. Murilo na sala, lendo Clive Barker.
Eu: Nossa, morreu o Lou Reed.
Ele: Quem?
Eu: O Lou Reed.
Ele: Irmão do Mario?
Eu: Que Mario?
Ele: Irmão do Luigi! O que você está jogando?
Lou Reed se vai. As músicas e as histórias ficam.