OLINDA
Minha mesa na Fliporto - Eu sou do chapeu, claro. (Foto do querido Ney Anderson.)
A Fliporto foi insana. Já começou com um pouso de emergência em Salvador. Descobriram um quati escondido no meu avião vindo de São Paulo e tivemos de parar para evacuar o bicho, que ficou louco.
A piscinha da Pousada do Amparo.
A vista pro centro histórico era linda - o problema era o forró na rua de noite...
Aqui em Olinda, fui hospedado na Pousada do Amparo, uma pousada butique lindinha, com ótima comida e linda piscina, mas que infelizmente não abrigava grande parte dos escritores. Acabei aproveitando as amizades e passei mais tempo na piscina do Hotel Sete Colinas, com a querida Mona Dorf, Del Fuego e família.
Família del Fuego.
Apontando para Mona Dorf os saguis que avistava no hotel.
E o festival em si: Fliporto é um festival... estranho. Uma mega estrutura montada numa praça de Olinda, com muita gente circulando, barracas de comida, artesanato, mas uma programação de debates que poderia render bem mais. Acho meio estranho, por exemplo, que a grande mesa do evento (noite de sábado) tenha sido com a Maitê Proença (que também escreve, claro, mas...) ou que a grande mesa juvenil tenha sido com uma atriz da novela Rebelde (?!). Entendo esse tipo de evento numa Bienal, mas a Fliporto ainda não se decidiu se é comercial, se é literária, o que toda aquela criançada faz lá comendo algodão-doce... (O espaço de "venda" de livros também é bem restrito. Não há estandes de editoras, etc.)
Christiano Aguiar, Andrea del Fuego, Andres Neuman.
Vi a mesa da Maitê - por uns quinze minutos. Também acompanhei outros debates mais literários e proveitosos. O da Andrea del Fuego, Andres Neuman (que conheço do Bogota 39) e Luiz Rufato mediado pelo fofo do Cristhiano Aguiar foi bem bacana e bastante literário. O do Valter Hugo Mãe com Sidney Rocha (que fechou o evento, agora há pouco) me decepcionou deveras. Explico: nunca li o Hugo Mãe (my bad), mas tenho ótimas referências dele, claro. Porém o que pareceu é que eu estava vendo o debate com um padre. Um padre divertido, carismático, bossa nova, mas um padre. Certinho, bonzinho, fala o que as pessoas querem ouvir:
Valter Hugo Mãe com Sidney Rocha.
- Falou de sua raiz católica, de sua devoção por São Bento. De como já foi considerado um menino santo.
- "Eu era uma criança ingênua e pura, como todas as crianças."
- "As mulheres estão longe de serem respeitadas", fez vários discursos femininistas.
- Emocionou-se e chorou em algumas ocasiões.
- Soltou a frase "Vou dizer uma coisa muito feia" e explicou o amor que sente ao cachorro, desculpando-se por achar o ser humano menos digno. [Pra mim, esse é o equivalente literário pau no cu do "Vou falar uma coisa meio pesada: já transei na balada."]
A cada discurso desses, a plateia interrompia com aplausos. Não me leve a mal, não tenho nada contra o Hugo Mãe. E tenho fontes confiáveis de que é um grande escritor. Mas o discurso... É muito "bonzinho", muito cristãozinho. Numa só mesa conseguiu vender São Bento, a pureza das crianças, a injustiça com as mulheres, o amor pelos cães e a esperança no ser humano - porra! E fiquei pensando se é isso que é necessário para se tornar GRANDE, para ser respeitado e ser divulgado e lido pelo maior número de pessoas. É preciso ser um SANTO. Eu - que não posso deixar de emitir uma opinião incisivamente negativa, descrente, ateia e sombria sobre o ser-humano-deus-cachorro-são-bento - estou condenado?
De toda forma, poder ter essas reflexões é a grande riqueza desses eventos.
E minha mesa?
Com Márcia Dementshuk e Andrea del Fuego, que abduzi pra minha mesa.
Minha mesa foi uma zona. A Record queria muito que eu estivesse presente no evento. Eu queria estar presente no evento. E a Fliporto - acho que sem saber o que fazer comigo - me encaixou numa tenda para adolescentes (que era mais uma tenda para PRÉ-adolescentes).
Estava lotado. Mas grande maioria não sabia quem eu era e o que eu fazia ali. O que eu fazia ali? Achei que aquilo não ia dar certo. Crianças com balões, pais com filhos, muita gente falando. A querida Marcia Dementshuk, que fazia a minha apresentação, tentando levar para um tom mais "lúdico". Ficou uma guerra entre entreter a criançada, falar sério de literatura, tentar vender o livro "do jacaré", que nunca foi escrito como um livro juvenil.
Mas até que foi divertido.
Em determinado ponto, avistei Andrea del Fuego na plateia e a puxei para a mesa. Queria dividir a carga com ela. Mas passei a ser sabatinado pelas duas mulheres e, aos trancos, a coisa foi. No final, foi aquela coisa, de tirar mais fotos com a petizada do que vender/assinar livros. Mas foi lindo, lindo ver leitores e leitoras fieis que levaram pilhas com todos meus livros para assinar. Passei um bom tempo autografando.
Ney Anderson.
A linda Mitzy Garcia me escrevia há tempos. Adorei conhecer.
A Rebeka Gomes já é de casa, leitora fiel de tempos...
Ao ponto de ter a capa de "A Morte sem Nome" tatuada nas costas. Não dá para ser mais fiel do que isso. A ilustração, por sinal, é do meu pai.
Enfim, valeu bem. Também saiu uma mega matéria de página inteira no Folha de Pernambuco, assinada pelo Talles Colatino, com uma ótima entrevista e o título "O Pop Maldito de Nazarian" (uh-hu!), gravei entrevista pra Globo e pra Record. E é isso aí.
Acho que a estrutura da Fliporto podia render bem mais literariamente, mas a estrutura está lá. E o importante é termos todas essas iniciativas em diversos pontos do país.
Na Globo, no brejo. (Flagrante da Rebeka Gomes.)
Aproveitando:
Na próxima quinta estou na Balada Literária, em São Paulo. Mediando uma mesa sobre famílias de escritores com minha mãe, entre outros:
21/11- 16h – LIVRARIA DA VILA (Fradique):
- PIRATAS DO TIETÊ – Famílias literárias
Prometo levar outro chapeu.