13/06/2014

NO ETERNO BANCO DE RESERVAS

Ilustração de Alexandre Matos, para uma antiga coluna minha no Folhateen.


“Para que time você torce,” é a primeira pergunta que todo menino escuta quando entra num novo colégio, quando conhece novos meninos. Sua habilidade para jogar bola na infância determinará se você será uma criança integrada ou não [no Brasil]. Você vê os dois meninos mais populares da classe escolhendo os jogadores para seus times e vai ficando por último, junto aos gordos, os mancos, os amaldiçoados. Na infância, você não tem o desprendimento para dizer que não gosta, não torce, nem seus pais, nem seus irmãos, ninguém da sua família dá a mínima para futebol.

Trecho de crônica que publiquei no Clarin, em 2010. Para além dos protestos, dos desvios, da situação do Brasil, nunca gostei de futebol, muito menos de Copa, que monopoliza os temas e discussões. Para mim esse esporte sempre simbolizou crueldade e exclusão. E claro que não estou assistindo.

Postei isso ontem no FB, e um leitor completou com uma ótima observação:

"A atenção que dão ao esporte na escola, faz com que habilidades artísticas intelectuais sejam depreciadas, reprimindo e até extinguindo a vontade de futuros artistas e intelectuais de expor esses talentos, tudo para se encaixarem no que faz sucesso na escola, que não passa de microcosmo da sociedade em geral "(Lucas Barbosa)

É verdade. E fiquei pensando também como esses microcosmos permanecem e se reproduzem infinitamente por nossas vidas. É lindo ver histórias do loser da escola que se torna o astro de rock, mas essas são as exceções. O loser de ontem permanece o loser de hoje. A freak do colégio se torna a.... Lady Gaga, ou seja, permanece freak. Somos o que somos e nossa sina é inescapável. Se it gets better é só porque aprendemos a ser nós mesmos. E nos acostumamos com o que nos é destinado. 

Eu, que nunca fui integrado, permaneço assim em todos os círculos, em qualquer círculo, mesmo no meio em que firmei carreira e posso dizer que conquistei certo sucesso: o meio literário.

"Estranho", "autêntico", "original" e "diferente" são adjetivos invariavelmente associados ao meu trabalho, mas quando há qualquer lista de "melhores", eu não estou. Prova de que quem faz diferente não faz diferença. Prova de que estaremos sempre no banco de reserva. 


ENTÂO VOCÊ SE CONSIDERA ESCRITOR?

Então você se considera escritor? (Trago questões, não trago respostas...) Eu sempre vejo com certo cinismo, quando alguém coloca: fulan...