Quando estava prestes a publicar meu BIOFOBIA,
soube que (a escritora/gata/carioca) Simone Campos estava para publicar um livro sobre “uma jovem que
herda uma casa de campo e vai passar uma temporada por lá”. Fui ler a obra dela
(que comentei aqui), ficaram claras as diferenças, mas as semelhanças me
fizeram pensar sobre uma tendência atual da literatura contemporânea em fugir
dos grandes centros urbanos.
Publiquei um texto sobre isso nesse final de
semana, na Folha (aqui:http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/,) apontando outros romances e algumas possíveis razões
e desdobramentos. Alguns autores com esse enfoque se ressentiram de não terem sido
lembrados – citei apenas alguns exemplos entre inúmeros! o que só legitima
minha impressão -, outros esbravejaram
contra as panelinhas ou se detiveram ao trecho que fala das traduções e
publicações no exterior, lembrando que são uma minoria. Minhas
considerações:
- O texto não era uma resenha - autores com quem tenho uma relação pessoal, eu não resenho na mídia impressa; ou seja, não sou pago para isso - era uma observação de uma tendência espontânea que pode ser notada em vários colegas meus (alguns amigos de fato; e se tornaram amigos antes de tudo por eu admirar seus textos).
- O próprio texto deixa isso claro desde início, falando de uma conversa que tive com Daniel Galera em Ribeirão Preto.
- Falando das viagens internacionais, é inegável que tem se traduzido e publicado como
nunca autores nacionais no exterior, e que os autores tenham viajado cada vez
mais. Isso não quer dizer que seja o volume ideal e que ainda não haja muito a
ser feito.
- Alguns autores criticam paradoxalmente a “literatura
ostentação”, dizendo que esse glamour não se comunica de fato com a escrita, que
o que importa mesmo é o texto. Bem, se o que importa de fato é o texto,
contente-se com seu texto! Se o autor quer viajar, se apresentar fora, beber
champagne e ficar hospedado numa piscina cinco estrelas, ele tem de aprender a
fazer um jogo além, que não necessariamente tem a ver com literatura – porque afinal
tudo isso não tem a ver com literatura.
- É claro que, num mundo ideal, os livros falariam
por si só, a literatura de qualidade levaria o autor além, mas não é assim que
nada funciona. É mesmo frustrante ver tanta gente sem talento, sem texto que
está usufruindo da “estirpe de autor” apenas porque é bem relacionado. Mas
também alguém que não sabe se relacionar e sabe apenas escrever deve... apenas escrever.
- Admiráveis são os autores com grande texto e grande
traquejo social. Admiráveis são os que escrevem bem e ainda sabem se vender. Sorte
dos que têm grande texto e editores poderosos investindo por trás. Eu tento
aprender com todos, sem nunca abrir mão do meu universo, de respeitar meus
limites, de escrever só o que acredito. Acho que isso fica claro para qualquer
um que já me leu.
- Completando, não sou acadêmico, não escrevo como acadêmico, não tenho menor pretensão acadêmica. Minha pretensão é escrever literatura pop com densidade - pretensão mais do que suficiente neste país. E o artigo vai nessa tônica.
No final das contas, é tudo bobagenzinha, polêmicas vazias a que só o meio autofágico dá importância... ou nem. O resto do mundo não está preocupado com isso. O resto do mundo não está preocupado com nós. Continuamos criando lombadas para decorar bibliotecas, justificando páginas a serem queimadas em lareiras.