29/09/2014

O MATO QUE MATA




Quando estava prestes a publicar meu BIOFOBIA, soube que (a escritora/gata/carioca) Simone Campos estava para publicar um livro sobre “uma jovem que herda uma casa de campo e vai passar uma temporada por lá”. Fui ler a obra dela (que comentei aqui), ficaram claras as diferenças, mas as semelhanças me fizeram pensar sobre uma tendência atual da literatura contemporânea em fugir dos grandes centros urbanos.

Publiquei um texto sobre isso nesse final de semana, na Folha (aqui:http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/,) apontando outros romances e algumas possíveis razões e desdobramentos. Alguns autores com esse enfoque se ressentiram de não terem sido lembrados – citei apenas alguns exemplos entre inúmeros! o que só legitima minha impressão  -, outros esbravejaram contra as panelinhas ou se detiveram ao trecho que fala das traduções e publicações no exterior, lembrando que são uma minoria. Minhas considerações:

- O texto não era uma resenha - autores com quem tenho uma relação pessoal, eu não resenho na mídia impressa; ou seja, não sou pago para isso - era uma observação de uma tendência espontânea que pode ser notada em vários colegas meus (alguns amigos de fato; e se tornaram amigos antes de tudo por eu admirar seus textos).

- O próprio texto deixa isso claro desde início, falando de uma conversa que tive com Daniel Galera em Ribeirão Preto.   

- Outros livros poderiam expandir a visão do tema. Mas não era uma tese, fiz um recorte assumidamente pessoal (como qualquer crônica seria), para me deter principalmente na experiência do Galera e no livro da Simone, que me trouxe algumas respostas. 

- Falando das viagens internacionais, é inegável que tem se traduzido e publicado como nunca autores nacionais no exterior, e que os autores tenham viajado cada vez mais. Isso não quer dizer que seja o volume ideal e que ainda não haja muito a ser feito.

- Alguns autores criticam paradoxalmente a “literatura ostentação”, dizendo que esse glamour não se comunica de fato com a escrita, que o que importa mesmo é o texto. Bem, se o que importa de fato é o texto, contente-se com seu texto! Se o autor quer viajar, se apresentar fora, beber champagne e ficar hospedado numa piscina cinco estrelas, ele tem de aprender a fazer um jogo além, que não necessariamente tem a ver com literatura – porque afinal tudo isso não tem a ver com literatura.

- É claro que, num mundo ideal, os livros falariam por si só, a literatura de qualidade levaria o autor além, mas não é assim que nada funciona. É mesmo frustrante ver tanta gente sem talento, sem texto que está usufruindo da “estirpe de autor” apenas porque é bem relacionado. Mas também alguém que não sabe se relacionar e sabe apenas escrever deve... apenas escrever.


- Admiráveis são os autores com grande texto e grande traquejo social. Admiráveis são os que escrevem bem e ainda sabem se vender. Sorte dos que têm grande texto e editores poderosos investindo por trás. Eu tento aprender com todos, sem nunca abrir mão do meu universo, de respeitar meus limites, de escrever só o que acredito. Acho que isso fica claro para qualquer um que já me leu. 

- Completando, não sou acadêmico, não escrevo como acadêmico, não tenho menor pretensão acadêmica. Minha pretensão é escrever literatura pop com densidade - pretensão mais do que suficiente neste país. E o artigo vai nessa tônica. 

No final das contas, é tudo bobagenzinha, polêmicas vazias a que só o meio autofágico dá importância... ou nem. O resto do mundo não está preocupado com isso. O resto do mundo não está preocupado com nós. Continuamos criando lombadas para decorar bibliotecas, justificando páginas a serem queimadas em lareiras. 



NESTE SÁBADO!