O Brasil é o convidado de honra da Feira do Livro de Zócalo, na Cidade do México. É uma feira de rua, montada na bela Praça da Constituição, no centro histórico. Os debates acontecem em tendas entre os estandes, com um bom público formado basicamente por passantes curiosos.
Melissa é uma bela mexicana, estudante de português, que está assistindo a todos os debates.
Assisti ao debate dos poetas Angelica Freitas e Allan da Rosa na terça e fiquei receoso. Eles fizeram basicamente uma leitura de poemas em praça pública, com microfone aberto a quem quisesse participar. Tenho horror a esse tipo de coisa, esse formato de sarau, ao ataque dos "loucos de palestra" - eu nunca poderia ser poeta. Entendo que a poesia tenha muito isso de ser compartilhada, recitada, lida em voz alta. Mas como prosador o formato não me atrai. Eu prefiro debater as questões da minha obra ou da literatura em geral.
O mediador Gustavo Pacheco, Angelica Freitas, Allan da Rosa e o "louco de palestra".
Ontem era dia da minha mesa. Acordei cedo, tomei o belo café da manhã do hotel (que tem de tudo, de frango a panquecas, carne, feijão, frutas, doces) e saí para explorar a cidade. Primeira coisa que encontro é uma exposição de "Assassinos Seriais" e "História da Bruxaria". Era mesmo uma armadilha para turista, uma espécie de trem fantasma histórico tosco. Mas já me deixou num bom ânimo para o dia - hohoho.
Meus programas culturais aqui no México.
Caminhei até o belo bosque de Chapultepec, que tem lagos, museus, zoológico e é tomado pelos esquilos. Dei uma boa volta de bicicleta por lá, visitei o zoológico, comi algodão doce...
Os esquilos aqui saltam nos turistas. |
E meu debate no final da tarde foi melhor do que eu esperava. Levei algumas coisas para ler em espanhol e torci para não precisar. Acabamos tendo um debate interessante sobre o que é "a literatura brasileira", seu momento atual, as relações com o México. Como o público da tenda principal parecia interessado e não conhecia mesmo minha obra, acabei eu mesmo decidindo ler meu conto "Piranhitas", em espanhol, que é sempre uma boa amostra.
Mesa de bar.
Enfim provei os "grilinhos". Tem gosto de... pimenta.
Assionara e Nina também provaram da iguaria.
Segui de lá para a noite com a moderadora Brenda Rios, minha companheira de mesa Alsionara Souza com a namorada, Lima Trindade e esposo. Começamos num bar entre mescais, micheladas e cervejas e terminamos de madrugada num karaokê gay. Uma coisa surreal-almodóvar, com bears da terceira idade e bichinhas pós-adolescentes cantando clássicos mexicanos. Bêbados, Alsionara me puxou para cantar com ela um clássico de Pimpinela, na versão em português. Aquela: Quem é? / Sou eu. / O que é que você quer? / Você! / É tarde. / Por quê? / Porque hoje sou eu que não quero mais você.
"Oasis", um bar surreal.
No final, tive de dizer ao microfone. "E este foi o Brasil passando mais uma vergonha internacional depois da Copa do Mundo."
Com os poetas Angélica Freitas e Ricardo Domeneck.
Amanhã tenho outra mesa, de novo na tenda principal. Vamos ver o que me reserva. A seleção dos autores representando o Brasil aqui parece ter sido feita mesmo voltada para o gueto: gays, lésbicas, negros, muita gente da periferia e de literatura marginal. Foi inclusive lançada uma antologia com poetas da periferia (Ferrez, Sergio Vaz, Binho, entre outros), numa bela edição que está sendo distribuída gratuitamente na feira. Nunca me considerei "de gueto", nem mesmo underground, não faço literatura gay, mas acho que posso me encaixar no lado B da literatura alternativa, e vestir a camisa.